quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DEIXANDO BERLIN

Meu hostel aqui em Berlin parece uma república de faculdade. Uma república rock&roll. O quarto,cheio de posters de bandas de rock do chão ao teto. Me lembra muito uns quartos que eu e  a Carol vivíamos durante nossa adolescência grunge. Fazendo olheiras com lápis preto de maquiagem e decorando todas as músicas do Skid Row (aliás, quem são mesmo o Skid Row???). Como todo quarto de adolescente é um lixo. E a limpeza também parece que foi um adolescente quem fez. O café da manhã é legal. Adolescentes precisam comer. Eles têm um pãozinho  que lembra muito meu saudoso pão francês do Brasil. Uma massa pronta que eles assam no forno e vem quentinho, delícia para ver a manteiga derreter de manhã. O problema é que o pessoal do staff combina muito com a atmosfera do hostel. Eles ficam papeando, e fazendo coisas “radicais” na recepção, e sempre esquecem dos pãezinhos no forno. Resultado que todas as manhãs eles queimam. Mas ninguém se importa não. Jogam aquele monte de pão queimado na cesta e todo mundo come. Carvão mesmo. Outro dia o pão estava tão queimado, mas tão queimado, que eu fui pedir alguns pães de forma mesmo. A garota (uma ruiva de marias-chiquinhas, com cara de distúrbio mental) virou para mim e disse apontando para a cesta de pães: “Você sabe que esse daí é igual a esse aqui. Só que esse aqui está fresco e quentinho.” Então eu respondi: “Mas esse daí também está queimado.”. E ela, num tom óbvio, “Não está queimado. Está levemente tostado.” Eu eu fiquei quieta, olhando uma pilha de pães fumegantes e pretos. Suspiro. Às vezes eu queria enxergar a vida com a lógica óbvia dos adolescentes. Às vezes eu tenho uma invejinha dessas pessoas que conseguem continuar adolescentes. Mesmo depois dos 30, dos 40... Mas é só às vezes. Depois passa. Passa rápido. Minha alma não é rock&roll. É mais jazz fusion. Às vezes minha alma fica dramática e escandalosa como ópera. Às vezes é “Carmem”, de Bizet. Mas nunca rock&roll. Eu tenho minhas frescuras, e acho até que sou bem tolerante com muita coisa. Mas eu não morei em república nem durante a faculdade. Apesar de ter sido bem divertido (como experiência antropológica), estou feliz de ir embora do hostel hoje. Verdade que essa atmosfera de “it´s all happening, it´s all happening” é bem a cara de Berlin. Berlin é um campus. Fervilhante de idéias, causas, movimentos. Fervilhante de festas, músicas e escolhas terríveis no figurino. Aluguéis baratos, pessoas voando pelo transporte público. Dias de 72 horas. E, ironicamente, ou obviamente, muita tolerância. Ironia maior é andar pelo lado leste e oeste e descobrir que a Berlin Oriental é muito mais interessante, muito mais divertida, muito mais cheia de alma do que a outra. Uma vingança tardia do comunismo. “Ok! Vocês podem derrubar o muro, mas esperem só 20 anos para ver onde todo mundo vai querer estar.” Berlin Ocidental é como uma visão apocalíptica, uma síntese do que temos de pior no Ocidente. Todo o resto que você já ouviu falar de Berlin está no Leste. Eu ainda acho que todo adolescente um dia bate a porta do quarto na sua cara e grita “Eu te odeio! Eu não pedi para nascer!”. Mas existe uma beleza, um frescor na energia adolescente. A praticidade, o maravilhosa certeza. Ah! A certeza. A segurança impetuosa da certeza. Algo que só se tem quando somos adolescentes. Mesmo que os lençóis sejam sempre ásperos, os pães queimados e os cortes de cabelos duvidosos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vou ser sincera que eu tenho levado a viagem no piloto automático. Sem fazer muito esforço, sem tentar pensar muito. Cheguei em Berlin e me enfiei em vários tours. Um diferente em cada dia. Eu estou tão exausta, que já não tenho mais pique de explorar, conhecer. Fica muito mais fácil quando eu simplesmente chego no ponto de encontro no horário marcado e vou seguindo um guia que me mostra tudo e me enche de informação. Sou bem fã de “walking tours”. Ainda mais em uma cidade  com tanta informação como Berlin. Com tanta coisa que já aconteceu aqui, e que tem acontecido. Também não posso negar que uma grande parte de mim está no Brasil. Não sei se é certo ou se não é. Mas é como está sendo. Semana de eleições. Eu fico assistindo tudo daqui, lendo, ouvindo. E dá uma sensação muito grande de impotência. Não que alguma coisa mudaria se eu estivesse no Brasil (não sou tão egocêntrica assim). Mas eu não consigo deixar de sentir que é minha responsabilidade fazer algo pela minha sociedade. Afinal é para essa sociedade que eu vou voltar daqui um mês. Tudo é muito lindo. Tudo tem sido muito lindo. É realmente fascinante fazer essa viagem, andar por onde tenho andando. Conhecer todas as pessoas que tenho conhecido. Mas uma hora vai começar a vida de verdade, e eu não vejo a hora que ela comece. Nas últimas semanas eu tenho me sentido inútil e futil. Isso tem sido muito legal na verdade. Pensando muito no que eu QUERO fazer e não no que eu DEVERIA. Existem muitas expectativas para minha volta, e isso às vezes me deixa angustiada. Às vezes me deixa puta de verdade. Mas uma coisa que para mim está muito clara é que minhas escolhas não serão as mais populares, mas serão as minhas escolhas. Eu tenho estado muito ocupada em um relacionamento nos últimos meses. É um relacionamento muito intenso e de muito amor, e ele é comigo mesma. O tempo esfriou absurdamente aqui. Fico andando decasacão, cachecol e gorrinho. Bem cara do meu inverno esse outono deles. Amanhã vou para Dresden. Beber um pouco mais de tanta história que aqui transborda e em casa às vezes a gente se perde.

sábado, 25 de setembro de 2010

IN BERLIN

Hoje estou resfriada, sentada no sofá do hostel de pijama, em Belin. Cheguei na quinta, depois de uma despedida bem decente de Praga. Fiz uma maratona de tours históricos e fui assistir “Otello” de Verdi na Ópera de Praga. Uma taça de champagne custava só €2. Fiquei me sentindo tomando champagne na Ópera. Estou em um movimento de muitos questionamentos sociais e políticos. Claro que ter me colocado nessas duas cidades praticamente me obriga a essas reflexões. Primeira coisa q eu quis fazer foi ver onde ficava o muro. Em Praga tem o Museu do Comunismo que é incrível. Maravilhoso para entender o que foi, como funcionou e como afetou a vida das pessoas. Claro que eu queria ver, sentir, viver esse que foi o símbolo máximo de um mundo que existiu até minha adolescência. E depois, a melhor coisa de se estar no Velho Mundo é poder viver e tirar minhas próprias conclusões de tudo o que me falaram na escola que fez o mundo até aqui. Hoje quase sucumbi. Fui visitar um campo de concentração. Tour de dia inteiro, o tempo virou e o dia estava cinza e chuvoso. Até o clima compondo a atmosfera. Comentei com o guia “Hoje está um dia com cara de campo de concentração”. Ele virou para mim e disse, “É verdade. Às vezes eu penso assim também, mas daí me lembro que as pessoas também eram mortas em dias bonitos e ensolarados.”. Punk minha gente. Não dá para descrever muito a experiência. Por mais que você se prepare, por mais que a gente já tenha cansado de ver filmes e lido tanto sobre o assunto, é estarrecedor andar pela estrutura, ouvir sobre as rotinas, entender toda a logística doente que envolvia toda a rede. É inacreditável pensar que as pessoas podem chegar a um nível de frieza e calculismo que eu me questiono o que resta de humanidade. Vou confessar que não consegui entrar em tudo. Que não li tudo nos memoriais. Era demais. Eu voltava para a chuva e segurava para não explodir. A energia que senti lá, o silêncio. É brutal. Fico pensando se algum dia ainda vamos fazer tours parecidos em Guantanamo ou outros lugares. O que será que existe que a gente não sabe? Aqui no hostel eu caí no sofá exaurida, doente, com o corpo doído. Tomei um banho quente agora e não quero fazer mais nada. Difícil até comer. Tem gente que não é tão suceptível. Eu não consigo. Berlin não é só a IIWW ou o muro e a Guerra Fria. Tem muita coisa para descobrir. Um cenário musical fervilhante, muita street arte, museus incríveis. Ainda tem muito que quero fazer e ouvir sobre a Berlin emblemática historicamente, mas amanhã vou para o que acontece agora, para o que é novo e vivo. Preciso de um fôlego. Já pensando em ficar por aqui por mais uns dias...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PRAGA

Praga é maravilhosa, e está finalmente se revelando. Tanto coisa para ver e tão pouco tempo.
Vou ficar um pouco em silêncio por aqui por uns dias. Muita coisa para processar...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

DEBAIXO DE PRAGA

Então lá vamos nós em Praga. Estou desmoronando, mas arrasto meus pedacinhos enquanto dá. Primeiro que a Praga dos meus sonhos era muito mais oriente. Muito mais fascinante. Aqui o comunismo acabou e não deixou saudades. Mal sobrou a arquitetura. Tem umas regiões devastadas, umas ruas feias com cara de Brás. Mas o centro que interessa é fabuloso. Lógico que já foi tudo tomado. Cada esquina, cada bueiro, cada pedacinho de parede faz merchandising. Cadeias de fast-food, uma rua inteira de Gucci, Dior, Armani, Bottega, Prada (Ai, eu sou tão boba... Não consegui deixar de rir quando vi Prada em Praga..... Eu sei. Boba.). As tchecas carregam as inevitáveis LV, usam Adidas e Puma, e os rapazes se deleitam ouvindo Jay Z bem alto pelos fones de ouvido do Ipod no metrô. Parei em frente de uma banca de revistas hoje. Cosmopolitan, Elle, Vogue, e mais uma penca. Todas versão tcheca. Julia Roberts está na capa de metade delas. Na outra metade Jessica Alba, Gwyneth Paltrow, Kate Hudson. Nas de fofoca Mary-Kate Olsen e Lindsay Lohan contam os dramas de suas vidas. Maravilhosas, muito bem penteadas e maquiadas, mas vivem um drama danado. Daí que de Leste Europeu fica a língua, os nomes de ruas indecifráveis, e a moeda que até agora me estapeio para entender o câmbio. No final de semana andei muito. Queria me jogar na cidade e deixar ela se revelar. Ir para onde ela me levasse, sentir, viver. Mas Praga é uma cidade misteriosa, que não se revela assim sem ser convidada pelo menos para jantar antes. Andei, andei, andei, mas não conseguia entender essa cidade. Afundava no pântano de gafanhotos que existe para todos os lados e não entendia. Até achei uma ferinha de rua virando uma ou outra esquina. Fui em um concerto revigorante no Municipal Hall com as peças mais alegrinhas de Vivaldi, Brahms e Strauss. Tudo muito facinho e com cara de desenho do Pica-Pau. Então hoje, desisti de esperrar que a cidade se revele para mim. Resolvi fazer turismo, porque Praga é enigmática, mas é maravilhosa e dá dó de perder. Abri o Lonely Planet e fui seguindo à risca. Arrisquei explorar o Bairro Judeu e me arrependi. Paguei uma grana pelo ticket para o museu, as sinagogas, o cemitério e a sala cerimonial e foi tão frustrante. O cemitério é meio cenário. Um monte de lápides de antigos cemitérios da região que foram empilhadas em um jardim. As sinagogas são muito mais interessantes por fora (A Jerusalém é divina!), mas isso dá para ver de graça. E o museu... Bem. Tive a impressão que as casas de alguns rabinos podem ser mais enriquecedoras. Então você ainda precisa pagar uma taxa para tirar fotos, e taxa para kippah (no caso dos homens), eles pedem doação, e mais taxa disso e daquilo. Depois de meia hora eu estava achando tudo aquilo um grande circo para tirar dinheiro dos turistas. Claro que essa é só minha impressão, mas foi o que ficou. Depois fiz um walking tour. Até que interessante. O problema desse walking tours é quando eles colocam uma guia adolescente meio inexperiente que não sabe nem disfarçar que decorou as piadas. Mas andar pelas galerias subterrâneas da cidade que foi soterrada para se livrar das enchentes é bem empolgante. Praga é uma cidade que cresceu a beira de um rio. Para resolver as enchentes anuais um rei resolveu subir o nível da rua colocando toneladas de terra e soterrando andares de casas, ruas e comércios no século XVI. O fascinante é que hoje existe uma Praga subterrânea que você pode descobrir sem querer entrando em alguma galeria, ou algum restaurante desavisado. Clubes, casas noturnas. Você nunca sabe em qual estabelecimento alguma escadinha vai te levar para salões no subsolo cobertos de pedras de 500-600 anos. Então eu comecei a entender um pouco porque é tão difícil para Praga se revelar. É preciso afundar, descer. Gelar em porões. Depois fui prestar minhas homenagens ao túmulo de Kafka e voltei chutando pedrinhas, pensativa e meditabunda, como diria Caio Fernando de Abreu. Eu ainda tenho a impressão de estar dentro de um cartão postal. De ficar esticando meus braços por algo inalcançável. Parece que Praga de verdade está acontecendo em algum outro lugar que eu não sei onde é. Andei no centro, no castelo, na periferia, nos bairros industriais. Nada. Eu vou ter de me contentar com a vista turística de bairros, monumentos, museus e igrejas. Sempre acho que a gente precisa viver e aceitar os lugares como eles são. De repente é bom para me ajudar a aliviar.

domingo, 19 de setembro de 2010

NO OSSO

Por mais que eu jogue bagagem fora da minha mochila, ainda parece que eu nem consigo carregar o peso. Tanta coisa, tanta coisa que eu passei, que eu vi, que eu conheci, que eu senti. Eu não estou sabendo mais como carregar tudo. Resultado que nos últimos três dias eu comecei a ter crises de choro espontâneas no meio do dia. Do nada. Olhava alguma cena na rua e desandava a chorar. No meio de alguma conversa, lá estavam as lágrimas denovo. E isso é o tipo de coisa que a gente se sente mal de sair falando por aí. Não apenas porque é constrangedor ficar exibindo emoção em público, mas também porque ninguém quer aquelas caras de piedade olhando para você e querendo entender o que está acontecendo. Muito menos quando nem eu mesma sei o que está acontecendo. As pessoas franzem a testa, sobem a sobrancelha e dizem “Vai passar, vai passar”, esfregando a mão na sua perna e isso é bem humilhante. Depois é meio esnobe dizer que estava no meio da Charles Bridge em Praga e teve uma crise de choro. Quer ter crise de choro, vai ter em Guaianazes. Vai ter no cruzamento da Rebouças com a Brasil às 18h. As pessoas ficam com raiva. Neguinho tá viajando pela Europa desde o começo do ano, tá vendo e vivendo as coisas mais incríveis que 10 entre 10 pessoas gostariam de fazer e fica chorando. Dá vontade de dar uma na orelha. Eu sei. Então eu andava disfarçando. Descobri que é muito fácil disfarçar quando você está triste. Quando você está chorando. Muda de assunto. Usa os óculos escuros e chora por baixo. Posta um vídeo legal no blog. Deixa um recado animado no facebook. E todo mundo fica feliz. Reação dentro das expectativas. Então ontem, depois de um dia exaustivo de andanças por uma das cidades mais absurdas de lindas que já estive na vida, eu larguei o casal de pseudo-novos-hippies-artistas-alternativos-catalães-pós-adolescentes (Ui! Quanta coisa!) que eu conheci no hostel e estavam comigo, me enfiei no quarto e chorei. Chorei muito. Chorei demais. Chorei até meu diafragma doer. Então eu comecei a ficar apavorada, porque eu chorava e não conseguia parar. Eu queria me obrigar a parar de chorar, mas era impossível. Meus pacotinhos de lenços se desfaziam como água. Eu fiz uma bagunça danada no chão do quarto tentando achar pacotinhos de lenços dentro da mochila (eu aprendi logo no primeiro mês de viagem. Lenços de papel podem literalmente salvar sua vida e eu nunca ando sem.). Então eu liguei para a MH, que é uma santa e não merece uma amiga como eu. Que está grávida e deve ter largado o maridão com a pizza do sábado à noite esfriando em cima da mesa para ficar uma hora conversando com a maluca que está do outro lado do mundo e não para de chorar. Depois de mais um pacotinho de lenços eu finalmente consegui parar de chorar e dormi exausta. Chorar cansa. Às vezes eu queria ser uma pessoa simples. Sem nada de complexidade. Quando o vulcão explode é cinza para todo o lado. Às vezes fica muito difícil de se carregar. Mas é isso. Só sobrou o osso. Eu tirei tudo. Tirei tanto da mochila (Quando digo que tirei, tirei de verdade. Hoje passei o dia andando de pijama por Praga com um casacão por cima porque minhas poucas roupas estavam lavando e molhadas.), que só sobrou eu. No osso. E do que sobrou não tem mais nada que dá para tirar. Agora tem de carregar. Tem de terminar a viagem com o que tem. E, pior. Tem de voltar. Só que se eu olhar hoje na minha bagagem, a única coisa que veio comigo do Brasil é minha mochila. O que vai voltar não tem mais nada do que saiu. Só o osso. Talvez por isso que dói.

sábado, 18 de setembro de 2010

COOL! COOL! COOL!

Eu já gostava da música, agora amo esse casal.
Muita coisa legal deles na net...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

PRAGA?

Sabe que horas eu cheguei no aeroporto ontem?
21h30. Porque o último shuttle do dia saía às 20h45 de Bruxelas, e não dava tempo de pegar o primeiro de hoje de manhã.

Sabe que horas eu estiquei meu sleeping bag no chão gelado e fui dormir?
1h da manhã. Porque não tem muito espaço nesse aeroporto e antes disso estava uma balbúrdia de gente esperando desembarcar o último vôo do dia.

Sabe que horas eu acordei?
Às 4h, porque um segurança sádico passou pelos lounges acordando todo mundo.

Sabe que horas começava o check in do meu vôo?
Às 6h da manhã. (Agora vem a melhor parte!)

Sabe se meu vôo estava na relação de check in?
Não estava. Claaaro que não.
Porque hoje é dia 17 de Setembro... e meu vôo era DIA 18!!!

Ok, eu falei que estava difícil concentrar. Que eu já não tinha noção de nada, mas... Ai, Jesus! Ando tão lesada!!!
Resultado que paguei uma taxa (ouch!) e mudei meu vôo para hoje ao meio-dia. O que significa mais 4h brincando de Tom Hanks pelo saguão do aeroporto até o check in abrir às 10h. Alguma vantagem eu ia descobrir de ter voltado para o Farmville...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

UPDATE

Vamos rapidinho porque estou sendo atropelada pela reta final da viagem. Tem estado tão dificil escrever, me concentrar, parar para organizar todos os pensamentos. É que a vida a minha volta está muito rica e fervilhante, então eu fico consumindo tudo de olhos bem abertos para ver se eu não perco nada. Que Bruxelas me consumiu também? Verdade! Mais uma vez, dói um bocado ter de partir de uma cidade. Acho que Bruxelas, de todas, é a mais perfeita. Em sua imperfeição. Vir para cá ainda mais depois de toda a introspecção das montanhas... Foi uma experiência tão surreal quanto os quadros de Magritte. Me sinto detentora de Bruxelas! Dá para entender? Ok. Tem coisa que não se explica em blog. Que não faz parte. Bruxelas também foi sair do 8 para o 80. Passei 10 dias tomando suco de maçã na Suíça. Acho que nunca provei tantas cervejas diferentes como agora em Bruxelas. Outro dia eu estava tentando fazer as contas e acho que nessa semana consegui experimentar uns 35-40 tipos de cerveja diferentes. Claro que nem todas eu tomei o copo inteiro. Eu tenho fígado e gosto muito dele. Agora estou no aeroporto (de novo). Vou dormir aqui (de novo). Amanhã cedinho pego um vôo para Praga (Opa! Esse não é novo!), mas que tem uma cultura de cerveja também muito forte. Dizem até que a cerveja checa é melhor do que a belga... Hum! Sinto-me na obrigação de verificar. De qualquer forma, Praga é uma fuga da minha proposta original. A proposta era: países da europa ocidental, estudar italiano e voltar para o casamento da minha prima. Eu estudei italiano, a passagem para chegar na véspera do casamento da minha prima já foi comprada e... eu dei umas escapulidas da Europa Ocidental. Primeiro foi Marrocos. Tinha essa coisa de tempo de visto na Comunidade Européia e a passagem aérea estava custando €15. Não tinha como não ir para o Marrocos! Depois foi Croácia. Novamente o lance do visto e... e eu estava cansada daquele tempo horroroso do Reino Unido. Chuva, neblina, frio. Deprimente. Queria Sol e biquini, pelo menos para fingir que eu estive no verão europeu. E agora estou novamente indo para o Leste Europeu. Três motivos. Número um: o Carioca me mandou um email, um tempo atrás, dizendo que estava vindo para a Europa e passou o roteiro dele. “Vê se você encaixa em algum desses lugares, Paulistinha!”. Olhei a lista. Firenze, Roma, Amsterdam, Berlin, Paris, Praga... PRAGA! Chegamos no meu motivo número dois: Sempre fui loooouca para conhecer Praga. E acho que esse motivo já tá de bom tamanho. Mas como eu gosto de números ímpares, levanto um motivo número três: Kafka! Que está diretamente ligado ao meu motivo número dois e minha base literária de adolescência. (Viu só o que dá quando você lê o que quer quando é pequena? Fica assim!) Depois de Praga, vamos juntos para Berlin e então eu ainda não sei o que vou fazer. Talvez procurar alguma montanha na Alemanha para me isolar novamente e tentar equilibrar. Falta pouco tempo. Está acabando e eu sinto como se fosse ladeira abaixo. Descendo de carrinho de rolimã ainda. Até consigo ouvir o barulho no asfalto. Ando cansada. Muito cansada. Já não sinto nada.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

TRAPISTA

Ah! Claro que eu queria me enfiar em um desses monastérios e ver como é que eles fazem essas maravilhas que mudam completamente seu paladar para cervejas. Mas esse é um processo guardado à sete chaves. As cervejarias trapistas não são abertas ao público, são em lugares bem ermos no interior e o máximo que você vai conseguir indo até lá é comprar a cerveja em alguma lojinha dos monges. Mais nada. O que me deixou com uma pulga atrás da orelha... O que será que esses monges ficam fazendo lá, escondidos e tão em segredo que não querem mostrar para ninguém? Hum? Hum?

CERVEJA

Sim! Bruxelas é antes de tudo o paraíso da cerveja. Dizem que toda a Bélgica. Eu gosto de pensar nisso como uma unidade de país. J Eu estou absorvendo essa cidade com todos os meus sentidos, e com um apurado senso exploratório. Hoje de manhã Karel disse que parece que eu estou aqui há meses de tanto que eu já descobri da cidade. Fiquei toda pimpona. Estou com uma predileção pelas cervejas trapistas. São cervejas feitas por monges no interior do país. Existem 7 cervejas trapistas no mundo todo. Seis dessas são produzidas na Bélgica. Claro que existem várias sub-linhas também produzidas em monastérios, mas são comerciais e não se enquadram na caracterização de trapista. Eu conhecia só a Chimay. Essa acho que é a mais popular. Existem alguns bares em São Paulo em que é fácil encontrar. Eu e o Alê tomávamos várias vezes Chimay pelas noites paulistanas. As outras fui descobrindo por aqui. Melhor, porque aqui elas tem preço de cerveja normal e não são tratadas como “vinhos sofisticados” como em algumas cervejarias do Brasil. De todas as trapistas belgas, só me falta uma. Que me disseram que é a top das tops. A Westvieteren da Sixtus. Dizem que se você provar essa, nunca mais vai provar cerveja da mesma forma. Hummm! Desafio intrigante. Vou hoje na Delirius fazer exatamente isso. Delirius é o nome de uma cerveja top. Acho que custa uns R$220 por aí. Aqui custa a bagatela de €4. Vem em uma garrafa grandona e com rolha de champgne. Tem um elefante azul no rótulo. Sim. O mundo é injusto. Ainda não tomei essa também, mas hoje acho que vou me jogar nas “extravagâncias”. Só o crème de la crème. Mas Delirius também é o nome de um bar aqui em Bruxelas que você se sente a pessoa mais sortuda e a mais azarada quando o descobre. Mais sortuda porque, entrar nesse bar é a mesma sensação que os primeiros arqueologistas devem ter sentido quando descobriram as pirâmides. A busca pelo Santo Graal. E a mais azarada porque depois de descobrir esse bar parece que todos os caminhos que você faz te fazem querer voltar para lá e você sabe que nunca mais vai ser feliz em um bar na sua vida. Fica no subsolo, em uma ruazinha atrás da Grand Place. Descendo as escadas você adentra um universo paralelo de mesas, barris, decoração kitsch e um cardápio com mais de 2000 cervejas. (DUAS MIL!!!!) É isso. Só cerveja. Mais nada. Tudo regado à melhor música dos anos 80. Você nunca mais vai ser o mesmo depois de descer aquelas escadas. Pense muito bem antes de fazer. É como uma viagem de heroína. Sem volta. Talvez também, em homenagem à minha irmã, eu resolva tomar uma cerveja de framboesa. As cervejas frutadas também fazem parte de um cardápio todo a parte. Morango, uva, cereja, mirtillo, groselha. Um verdadeiro festival de cerveja de berries. Eu não sou muito fã de bebida doce. Acho que tem tudo gosto de xarope. Mas, uma vez em Roma...

sábado, 11 de setembro de 2010

BRUSSELS!!!

Fala rapidinho tudo o que te vem na cabeça quando você pensa na Bélgica. Chocolate: Guylian, Godiva, Neuhaus. Cerveja (HUMMM!!!). Waffles. Quadrinhos: Tintin, Asterix, Smurfs. Magritte. Bruegel (mas dizem que ele nasceu na Holanda). Jean-Claude Van Damme. Pronto. Era isso o que me vinha na cabeça e acabou. Além de que eles também falam francês e fumam muito. Isso porque o primeiro belga que eu conheci na minha vida foi meu professor de francês na Aliança Francesa e eu ainda estava nas fraldas dos 20 anos. Não gostava nada dele. Chato e arrogante. A Bélgica estava na lista dos países que eu me propus a conhecer antes de sair do Brasil. Mas nos últimos meses eu fiquei me questionando inúmeras vezes se valia mesmo a pena vir para cá. Se não era melhor priorizar Alemanha e Holanda agora que o tempo está cada vez mais curto e a passagem de volta para o Brasil já foi comprada. Mas como eu sou teimosa, bati o pé e falei “Já estava decidido. Vai para a Bélgica e pronto.” Então eu peguei um avião mais para cumprir protocolo do que “super ansiosa” pelo o que quer que eu fosse encontrar. Quando eu estava vendo estadia em Bruxelas escolhi ficar em um Bed & Breakfast. Dentro da minha pesquisa a opção ia me dar condições de ter um conforto mais “lá em casa” e eu ando mesmo de saco cheio da molecada de hostel. Quem me recebeu hoje não foi Karel, o dono da casa, mas Cesar, o mega- incrível cão SRD que me fez sentir em casa em dois segundos. Larguei minha mochila no sofá e então Karel (o dono) me recebeu com uma xícara quente de café e ficamos treinando meu francês e tomando café da manhã que nem estava incluso na minha reserva. O B&B fica fora do grande centro de Bruxelas. Eu queria uma experiência que me inserisse mais no contexto real da vida das pessoas e eu já acho que saí na frente logo na primeira hora. Karel é uma pessoa incrível. Um belga inteligente, gentil, educado. Fumante (Ahá!). Apaixonado pelo próprio país, mas como todo belga não leva isso muito à sério. Abriu o mapa de Bruxelas e me mostrou tudo o que é, o que não é, e o que fazem os belgas e onde. Mesmo tendo (quase) dormido no aeroporto de Geneva ontem e sentir o corpo beirando a exaustão, eu resolvi nem esquentar a cadeira e botar minhas pernocas na rua para sentir a cidade. Primeiro choque, ainda mais tendo saído da asséptica Suíça, foi pegar o bonde e ir da periferia até o centro junto com uma infinidade de etnias diferentes, pessoas com cara de gente de verdade, mulheres mulçumanas com seus véus na cabeça, cheiro de suor dos homens embaixo do Sol e uma tropa de carrinhos de bebês. Os belgas procriam. E muito. Desci na borda do centro de Bruxelas e saí andando para um primeiro reconhecimento. Não demorou muito para o mapa que eu carregava na mão com todas as sugestões de Karel ir parar no lixo, e para eu descobrir que Bruxelas é, talvez, a cidade mais interessante da Europa hoje. Uma Babel surrealista. É a melhor definição que consigo encontrar. As ruas fervem de pessoas aproveitando o sábado ensolarado. Milhões de fotografias implorando para serem tiradas. Lojas maravilhosas de quadrinhos em cada esquina, (que fariam alguns dos meus amigos de casa considerarem muito bem paga uma passagem aérea). Uma arquitetura fragmentada, que não faz muito sentido, mas que faz todo, mesclando prédios em decomposição com relíquias art-nouveau. Bares, cafés, bares. Por todos os lados. Por onde se vira. Por onde se anda. Música ao ar livre em cada esquina. Pessoas se manifestando, se expressando, ou só deixando do jeito que está. Uma cacofonia humana que eu nunca vi igual. São mais de 100 etnias diferentes só em Bruxelas. Bandeiras do Brasil. Outras tantas da Comunidade Européia. E eles falam francês, mas falam mais o holandês. Falam também uma porção de dialetos... na verdade dizem que falam, mas ninguém entende para poder dizer se falam ou não falam. Então eu cruzo a rua e um grupo fantasiado de marionetes passa cantando e gritando, jogando laranjas para as pessoas na praça. Me lambuzo toda de waffle de morango e nutella enquanto um adolescente se abaixa na minha frente e escreve com giz no meio da rua em francês “O Amor é o único mecanismo de sobrevivência”. Resolvo experimentar cervejas, e vou sentando de bar em bar, pedindo uma diferente em cada lugar. Em um desses, um grupo de adolescentes senta em alvoroço na mesa ao lado. O “líder”, usando uma camiseta escrito em francês “Aluga-se belo espécime de 20 anos. Capaz de fazer festa e amor todas as noites. Uma verdadeira fera do sexo. Satisfação garantida ou o seu dinheiro de volta. Tratar aqui. (Dispenso intermediários)”. Ele vira para a descolada hype de 40 anos na outra mesa (que usa os raybans que melhor caem bem em uma pessoa que eu já vi) e solta em inglês "Posso te fazer uma pergunta? Porque você é bonita? Porque?”. Umas três mesas a volta caem na risada e voltam às suas conversas compenetradas e despretensiosas em seguida. As combinações fashions mais esdrúxulas do planeta desfilam para todos os lados. Uma sex shop ao lado de uma loja de roupas de maternidade (uma coisa leva a outra, não é?). Museus. Inclusive o do Magritte. Trânsito louco. Painéis de parede inteira com Tintin escalando montanhas. Bicicletas que deslizam como se estivessem nas nuvens. Pessoas deitadas em espreguiçadeiras no meio das calçadas. Ainda, no meio de tudo, Bruxelas não é um desbunde. Não tem o encanto de tantas outras capitais. Não é nada. E talvez por isso seja tudo. As pessoas todas possuem caras de “normais”. A cidade se perde um ruas e esquinas que podiam ser “mais um”, para te surpreender em seguida com vida e efervescência. Você nunca sabe o que vai encontrar virando uma rua. Ainda assim, é um ótimo país para se viver. Alta carga tributária (mas a gente que é brasileiro pode até dar risada disso). Um excelente sistema de transporte público. Sistema de saúde eficiente. Vida cultural diversa e ativa. Uma das melhores qualidades de vida do mundo. Equilíbrio social. Zero pobreza na rua. Mas zero riqueza também. Um lugar onde se pode comprar de tudo. Onde se come bem com qualquer orçamento. Onde a cerveja é mais barata do que água. E onde a maior atração turística é um menininho de 50cm fazendo xixi. Bruxelas corre por fora entre as capitais européias. Era o último lugar que eu “queria muito” vir, mas talvez devesse ter sido o primeiro. Quando meu corpo físico venceu o emocional (talvez levado em muito pelas cervejas ao longo da tarde), voltei para casa, tomei um banho longo. Pedi uma pizza e uma garrafa de vinho delivery. De uma pizzaria napolitana. Porque é isso que eu gosto de fazer sábados à noite quando eu estou em casa. Comi pizza de funghi com Karel e um casal de eslovenos que também está hospedado aqui. Para viver como vivem os belgas, fumei dois cigarros na janela. Agora estou sentada no sofá ao lado de um boneco de pelúcia gigante do Marsupilami. Todos aqueles meus esteriótipos da Bélgica começam a se trimensionalizar. É aquilo. Também. Bem mais. Antes que alguém me pergunte “Mas e o Jean-Claude Van Damme?”. Vou te dizer! Até ele faz sentido no delírio que é essa cidade.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

MELANCÓLICA

Estou melancólica hoje. Se eu parar e pensar direitinho não podia ser diferente. Acordei com o corpo dolorido. Fiz uma trilha maravilhosa ontem. O dia inteiro. A mais linda até agora. Uma experiência tão intensa que eu nem sei bem como descrever. Comunhão completa. Total entedimento de existência. Cheguei só às 19h de volta ao hotel. Sentindo tudo de alguma forma imaterial. Sentei nas mesinhas do lado de fora com um cappuccino nas mãos e esperei anoitecer. Minha última noite em Zermatt. Então hoje cedo, o corpo dolorido. A ressaca de tanta vida ontem. Tirei tudo de dentro da mochila. Arrumei. Recoloquei. Fui para o lounge do hotel e passei o dia tomando notas das próximas paradas, estudando um pouco de Bruxelas, namorando na internet minha futura câmera fotográfica. Tentando tirar um pouco meu coração dessa cidade para ser justa com a próxima. Também saí para dar uma volta. Sexta-feira e a cidade se enche de gente que vem passar o final de semana. Comi um croissant de chocolate. Brinquei com cachorros na rua. Enviei cartões postais. Fiquei um bom tempo sentada embaixo do Sol pensando na vida. Não lembro se passei protetor solar. Quase não ligo mais. Amanhã cedo já não estou mais na Suíça. Sei que posso me apaixonar um milhão de vezes. Que a Bélgica é também linda e cheia de encantos. Mas porque é tão difícil deixar ir quem a gente ama? Tudo bem. É só por hoje. Amanhã provavelmente vou estar me deliciando com outros amores. Mas hoje é melancolia.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

SLOW

Eu gosto de ficar confortável em algum lugar. Conforto é uma palavra que abrange muitas coisas. Às vezes é um sofá, imediatamente confotável. Às vezes é uma cama macia ou um chuveiro quente. Mas eu gosto da definição de confortável que envolve familiaridade, reconhecimento. Aquelas coisas que demoram tempo. Por mais que a minha ânsia de ver o mundo antes de morrer (ainda mais porque a gente nunca sabe quando isso vai acontecer) me faça ter vontade de sair como uma louca indo para o máximo de cidades que eu puder, eu estou firme e forte na minha veia de slow traveller. Esse é um conceito que surgiu há uns 10 anos atrás. Um movimento que foi contra a corrente dos “must see, must do” e começou a abdicar de ver o máximo para ver “ao máximo”. O idéia básica de slow travel é você parar algum tempo em algum lugar e se familiarizar com esse lugar, ao invés de pular como macaco de galho em galho. Quando você se propõe a fazer uma viagem e fica 2-3 noites em cada lugar, sua experiência vai ser muito mais de empacotar e desempacotar sua bagagem do que viver os lugares que você estiver visitando. Ano passado eu estava pulando como macaco em uma mochilada pelos Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba e Jericoacoara. Quando cheguei em Jeri tinha planejado ficar apenas por 3 noites. Acabei ficando uma semana. Foi essa reduzida no ritmo que me permitiu conhecer muitas pessoas que realmente vivem e escolheram viver naquele lugar, participar de atividades com a comunidade, entender os conflitos sociais que acontecem por baixo do véu do turismo e fazer amigos que mantenho até hoje. Na verdade tive de sair fugida de Jericoacoara, jogando minha mochila na caçamba de um caminhão e gritando “Vai! Vai! Vai!”, senão acho que até hoje estava lá. O tempo vai trazendo um conforto familiar e daí qualquer lugar do mundo vira nossa casa. Zermatt começa a se desvendar agora. Algo que nunca teria acontecido se eu tivesse pegado o trem e ido embora há 3 noites atrás como era o programado. Já descobri as vilinhas nos morros onde moram a maioria dos trabalhadores da cidade. Pude assistir a invasão portuguesa que incomoda os locais. Portugueses adoram imigrar para Zermatt, e isso está virando um problema real para muitos dos cidadãos. Em uma sala de aula da escola pública, 50% dos alunos são portugueses. O profissional de educação que nasceu, se formou e foi preparado dentro de sua cultura e só fala alemão, precisa se adaptar a um impacto de hábitos, costumes, língua, que não deixa os suíços necessariamente felizes. Além disso estou tendo a oportunidade de mergulhar no universo dos alpinistas. Uma tribo toda própria com liguagem, estilo de vida e maneira de se relacionar bem particulares. É curioso poder compartilhar o que se passa na cabeça de pessoas que arriscam a própria vida pela ânsia de subir uma montanha. Chegar até lá em cima. Todos eles saem de manhã para escalar sabendo que podem não voltar. É uma forma bem louca de levar a vida. Mas quem é que disse que a gente tem certeza de que sempre vai voltar? Foram seis meses para entender que meu ritmo é mais lento. Tentei acelerar tantas vezes, me estapeei comigo mesma. Mas a tendência do corpo é sempre voltar para seu estado natural. Eu sou do tipo que gosta de raízes. Que mergulha para ver o fundo dos icebergs. Não gosto de arranhar a superfície. Não faz nem cosquinha! Então eu volto e me lembro da Francezca, minha professora de italiano lá atrás. “Piano, Piano, Piano”. Em toda minha vida sempre foi assim. Eu vou devagar. Na fábula de Esopo, eu sou a tartaruga. Sempre fui. Espero sempre ser.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

FORMIGUINHAS NA LANCHEIRA

Quando eu era pequena minha irmã mais velha juntava toda a criançada da rua e levava a gente para fazer trilhas nas férias. Passei várias férias de infância fazendo trilhas em Paranapiacaba e no Pico do Jaraguá. A gente saía cedinho, levando uma mochila com sanduiches, frutas, sucos e chocolate. Pegava o trem e descia todo mundo em uma empolgação só. Não tinha a sofisticação de “hiking poles” nem nada. A gente pegava gravetos caídos na floresta para ajudar nas subidas. Molhávamos os tênis (que eram tênis comuns mesmo, bem baratos porque ninguém era rico) nos riachos. Comíamos nossos sanduiches de queijo e bisnaguinha com requeijão no alto da montanha, e voltávamos no final da tarde. Imundos e felizes. Lembro até hoje da música dos vendedores ambulantes nos vagões dos trens. A forma cantada de vender chocolate, salgadinho ou o que mais enchesse a barriga no final do dia. Chegávamos em casa em tempo de um banho, jantar e desmaiar na cama às 20h30. Exaustos. Uma benção para as mães. Meus pais são donos de escola. Eu nunca tinha férias convencionais como as outras crianças. A gente quase nunca viajava. Ou porque não tinha dinheiro (depois de pagar férias e décimo terceiro para toda a equipe), ou porque eles precisavam aproveitar as férias para a manutenção da escola. Pintar paredes, reformar carteiras, refazer as lousas. Então as caminhadas que minha irmã inventava eram nossa única diversão as férias inteira. Na adolescência ainda fiz um pouco com alguns amigos. Mas eu sempre acabava amiga de pessoas nada esportivas. Meus 20 e poucos anos foram totalmente sedentários e boêmios. Não andava nem até o estacionamento. Deixava no manobrista. De vez em quando eu até tentava subir alguma parede, descer de rappel algum viaduto. Mas tudo brincadeira de final de semana. Resolvi mudar de estilo de vida mesmo chegando aos 30. Mas nem por causa disso meus amigos mudaram, e a boêmia vai sempre me acompanhar. Um pouco antagônico conciliar, mas eu sou a favor do equilíbrio. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Meus amigos ainda me acham louca de acordar cedo para participar e corrida de rua. Nem cogito convidar ninguém para vir junto. Minha irmã, quem diria, virou mãe sedentária. Nunca mais fez uma trilha na vida. Eu aprendi que se você quer fazer alguma coisa, melhor não esperar por ninguém para fazer junto. Eu viajo sozinha porque se fosse esperara alguém para me acompanhar não iria a nenhum lugar. Então aqui na Suíça resolvi resgatar minhas tarde de infância subindo Paranapiacaba sozinha. Porque de todos que nos acompanhávam naquela época, eu sou a única que ainda faz isso. Primeira coisa que eu mantenho em mente é que vou andar enquanto me der prazer. Regra numero um para mim em uma trilha: se não tiver gostoso, pára tudo. Lógico que é puxado e muito cansativo em alguns trechos. Mas eu nunca chego em um nível de me violentar. Detesto competições. Competir sozinha então, bem estúpido. Então eu me jogo nas trilhas mais interessada em o que eu vou aproveitar delas, do que quantos kilometros, ou quanto tempo, ou quão alto eu vou chegar. Fazer lanchinho no meio da floresta é muito legal. Eu adoro picnics. Fiz vários na Villa Borghese enquanto estava em Roma, e tentei fazer alguns em Provence (mas a audiência não contribuiu). Acho picnic um estilo de vida. Me trás uma nostalgia dos tempos de pré-escola. Quando eu abria minha lancheira e vinha o cheiro do suco de laranja. A descoberta do lanche que minha mãe tinha separado para a tarde. (Lembro tão bem da minha lancheira de infância! Era amarela e vermelha, com o desenho de uma formiguinha. Tinha uma menina na sala ao lado com uma lancheira idêntica. Às vezes a gente acabava trocando os lanches por engano.) Aqui na Suíça tenho me perdido pelas trilhas todos os dias. Memos hoje que o tempo virou. Amanheceu com uma chuva gostosa de ficar na cama, mas eu levantei mesmo assim. Me joguei nas montanhas. O Matterhorn estava todo escondido. Embaixo de nuvens. Mudei meus planos no meio do caminho. Eu ia fazer uma trilha mais panorâmica. Com vista para os 38 picos com mais de 4000m da região. Mas com a neblina que não deixava ver um palmo a frente, me mantive na altura dos 2500m. Entrei por uma trilha de mata, cheia de pinheiros. E almocei sentada em um banco com esquilinhos brincando de pega-pega a minha volta. Voltei para a cidade no meio da tarde. Um pouco mais cedo por causa da chuva. Fiz macarrão com champignon e molho rosé (só porque champignon é bem barato por aqui), capuccino e chocolate. Lavei minhas roupas. Fiquei duas horas fazendo planos com a Cí no skype. A gente deu tanta risada, que tinha gente aqui do lado na sala do hostel dando risada junto, sem entender nada. Só porque a risada estava gostosa de se dar. Eu gosto quando minha alma se envereda por essas searas. Quando a vida fica simples e bonita. Hoje, no meio da montanha, eu olhei para o céu e sorri. Agradeci. Agradeci. Agradeci. Falei bem alto (porque não tinha ninguém por perto e eu não corria o risco de passar vergonha) “Obrigada astral! Obrigada! Eu quero assim! Eu quero assim!”.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

LONELY IS FREEDOM

Eu pensando tanto em tantas coisas. Nessa busca louca e obsessiva por interação e companhia que rege o mundo hoje. E eu só quero ficar sozinha e em silêncio um pouco. Não para sempre, só um pouco. Só enquanto estou aqui nas montanhas, tão perto do céu. Apenas sentir a vida, sem precisar fazer nada em especial. Sem precisar ser divertida, engraçada, inteligente. Sem ter de fazer um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar. Eu já tenho muitos amigos e eles são especiais o suficiente. Eu tenho uma quantidade limitada de tempo para me dedicar às pessoas. Eu estou incluída nessa conta. A gente não força amigos dentro de nossas vidas. Eles chegam aos pouquinhos, arrumam um espaço e acampam no nosso coração. O ser humano é o único animal que está sempre em busca de alguma coisa mais. Nunca satisfeito. Todos os outros animais podem apenas "ser". Eu acho que a gente já se esqueceu como se faz isso. Ser. Hoje, como tirei um dia de folga e ele está repleto de insights. De milagres me devolvendo amor perdido. De previsões otimistas de amor sentido. E de emails que pipocam do nada me desejando todo o amor e ponto final. Esbarrei hoje com esse vídeo por um amigo. Sempre gostoso ver que tem mais gente lá fora pensando como a gente.

MEU HORÓSCOPO HOJE

A CONSCIÊNCIA DO PRÓPRIO VALOR

Sol em conjunção com Vênus natal
DE: 06/09 (Hoje), 19h53
ATÉ: 24/09 , 6h32

Entre os dias 06/09 (Hoje) e 24/09, o Sol estará iluminando o coração do planeta do amor em seu mapa, Adriana, no caso, Vênus. Estes tendem a ser dias em que você percebe de maneira mais acentuada o seu próprio valor pessoal. Suas qualidades e as coisas que tornam você uma pessoa singular e única ficam mais evidentes. É como se as pessoas vissem em você, neste período, mais a sua beleza subjacente do que o seu lado criticável. Por conseqüência, é um bom período para exercitar seu melhor lado, tornando-o ainda melhor! Este é um momento para "contaminar positivamente" as pessoas com as suas boas qualidades, e perceber a imensa beleza que existe em sua alma.
 
(Falei que não acredito em coincidências! Muito AMOR por aqui!!!)

I BELIEVE IN MIRACLES!!!!!!!!!!!!!

Quem acredita em milagres levanta a mão!
:-)
Eu tinha perdido todas minhas fotos de Roma, né!? Todas, todas, todas. Chequei em cada cantinho do computador. Fui cheia de esperanças no meu HD externo, mas eu não sou muito boa com essa coisa de backup, então ficou tudo perdido mesmo.
Não é que ontem, estou arrumando as últimas fotos da Suíça, e as duas pastas de Roma aparecem do nada. Na minha cara. No arquivo "My Pictures". Inteirinhas, intactas. Todas minhas fotos da cidade do Amor. Eu não acredito em coincidências. Só para provar como a coisa é louca, fiz uns 3-4 backups desde que constatei que tinha perdido as fotos. As pastas reapareceram no meu computador agora, mas não estão no HD de backup. Estranho? Não. No lugar em que eu vivo é cheio de coisas assim.
O amor voltou para mim!

domingo, 5 de setembro de 2010

NO CÉU

A Suíça é uma top model. Mas não como nossa Gisele, que tem cara de rata de praia, de menina criada correndo pelada no quintal. A Suíça está mais para Charlize Theron. Um desbunde em todos os ângulos. Sofisticada até pintando parede. Tanto que deram um Oscar só porque ela conseguiu a proeza de ficar feia. Mas sim, a Suíça. Cheguei ontem. Zermatt foi amor à primeira vista. Amor, amor de verdade. Zermatt é uma cidade para poucos. Primeiro que é cara. Mas ninguém aqui parece se importar. Dinheiro é só um papel que sai do caixa automático e eu tenho a sensação que não importa o número que vem na conta, essas pessoas nem sentem que pagam. Segundo que você só chega aqui de trem. E trem, obviamente, é uma fortuna aqui na Suíça. A linha Matterhorn Express sai de Visp e é o único jeito de chegar aqui. Pelo trem você já vai sentindo onde está se enfiando. As janelas de vidro inteiriço vão da altura do assento até o teto. Metade do teto também é de vidro. Tudo porque o trajeto faz você querer que o teto todo fosse de vidro. Como toda boa top model, a Suíça sabe mostrar seus melhores ângulos. Colinas verdes, estéticamente decoradas com rochas que parecem terem sido escolhidas a dedo. Vacas que mais parecem hipopótamos de tão grandes, badalando os igualmente enormes sinos de seus pescoços. Ovelhas brancas como a neve fazendo figuração. Chalés espalhados nas montanhas, para a gente imaginar cenas românticas de inverno. Um rio azul claro leitoso que corre entre pedras brancas e cinzas. E olhando pelo teto, os cumes nevados da cordilheira. Me belisca porque parece sonho. Ao desembarcar em Zermatt uma infinidade de carrinhos elétricos (tipo esses de golf, só que mais sofisticados) estão esperando os hóspedes endinheirados que serão conduzidos aos discretos hotéis 5 estrelas que transbordam pela cidade. Carros, motos e afins são proibidos. Eu subi a rua principal e tive certeza de que tinha atravessado um portal. Descoberto um lugar mágico. A cidade respira saúde, elegância, esporte e qualidade de vida. Tudo por causa da estrela maior. O Matterhorn. Um monumento da natureza de mais de 4000m de altura e de pura rocha. Um triângulo perfeito apontando para o céu (ou talvez indicando que o céu é aqui). O dedo de Deus pedindo silêncio pela sua grandiosidade. Impossível ignorar a magnitude dessa montanha. A maior da Suíça. Impossível não se entregar boquiaberta por longos minutos, ignorando a mochila pesada nas costas, a sede, a vontade de fazer xixi e a falta de comida do dia inteiro. Olhei para o Matterhorn e decidi no mesmo segundo. Não vou sair daqui. Cancelei minhas reservas para Montreux e para Geneva, que eram meus próximos destinos e me instalei em Zermatt. Tudo o que eu sempre imaginei dos Alpes Suíços é isso. Versão Verão, lógico. No inverno essas ruas fervem ainda mais. (AH! Fico só imaginando essa cidade branquinha de neve....) Sabe onde estão todos os milionários maravilhosos do mundo? Andando de carrinho elétrico aqui do lado. Alpinistas passam carregando seus equipamentos. Centenas de hikers, como eu, comprando o picnic para a trilha do dia seguinte. A juventude mais rica da Europa solta fumaças displicentes de seus cigarros nos terraços dos restaurantes. Bicicletas passam velozes e desviam das pranchas de snowboard pelas calçadas. Todo mundo carrega algum equipamento esportivo. Todo mundo está aqui para extrair o melhor da vida. Eu sinto como se eu tivesse uma pulserinha VIP para o camarote. Cheguei no céu e aqui tudo é lindo, silencioso e em paz. Essa é a minha versão de retiro espiritual! Me joguei em uma trilha logo cedo hoje. Fui até onde dava da base da face norte do Matterhorn. Dali em diante só se você for um alpinista bem experiente. A cidade tem até um cemitério cheio deles. Depois voltei pela clássica Matterhorn Trail até Zermatt. Dessa vez me alimetei direitinho, me hidratei direitinho. Oito horas de hiking bem mais confortáveis. Comprei os hiking poles, e eles são um alívio nas descidas. Ajudam muito a distribuir o peso do corpo que vai todo para as pontas dos dedos dos pés. São 400Km de trilhas na região. Claro que não vou fazer todas. Amanhã resolvi tirar o dia de folga, talvez tentar uma curta à tarde que explora os lugares onde vivem as marmotas. Tem outra que é rota de Edelweiss silvestre (embora não seja época). Eu sempre achei um tédio aqueles anjinhos tocando harpa nas ilustrações do paraíso. Acontece que eles sabem de um segredo que a gente não sabe. Uma vez que você chega no céu, é tudo tão bom e tão perfeito, que você não precisa fazer mais nada mesmo. Só silêncio em mim e o som das montanhas lá fora.

sábado, 4 de setembro de 2010

O QUE SE DEVE E O QUE SE QUER

Ando pensando muito no que eu QUERO para mim. Muitas vezes eu acabo esbarrando no que eu DEVO fazer. Cada vez fica mais claro que a gente não DEVE nada a ninguém. Como viajante, por exemplo. Quando eu comecei essa jornada, mesmo que inconscientemente, ficava um sentimento de obrigação de ver e fazer determinadas coisas. Isso é o que sempre me intrigou em turistas. O Alê me falou que turistas (vulgo “gafanhotos”) são os proletários do novo século. Eles acordam cedinho todos os dias, pegam filas, tiram fotos de todos os monumentos e ticam em suas listas de coisas a fazer tudo direitinho. (Torre Eiffel. OK. Big Ben. OK. London Eye. OK. Sagrada Família. OK. Coliseu. OK.) Depois voltam para casa todos orgulhosos com o dever cumprido. Fazer turismo é praticamente coletar provas de que se esteve em determinados lugares. Não vou dizer que não fiz coisas que eu sentia que DEVIA fazer porque eu estaria mentindo. É muito comum ouvir a frase “Como você esteve em tal lugar e não fez tal coisa?”. Então eu me lembro da primeira vez que cheguei na Fontana de Trevi. Eu já estava em Roma há duas semanas, mas sem muita vontade de explorar os pontos turísticos. Uma tarde saí da escola e desci no metrô Barberini para achar a tal fonte de Fellini. Fui sem o mapa, meio deixando a cidade me empurrar até ela. Cai em uma rua de trás, saindo ao lado da Fontana e o que eu vi foram cerca de 500 pessoas amontoadas tirando fotos frenéticamente na minha direção. Por um segundo tive a sensação de ser uma celebridade perseguida por paparazzi. Quando olhei para o lado vi a tal Fontana. Ela lá, parada. Sem a Anita Ekberg dançando para Marcello Mastroiani. Mesmo assim centenas de pessoas apinhadas gritavam, falavam e tiravam fotos desesperadamente. Não resisti e comecei a rir. Comprei um gelatto e sentei no meio dos gafanhotos e fiquei rindo. Fiquei um bom tempo rindo no meio daquilo tudo. Impossível tirar uma fotografia sem um milhão de cabeças na frente. (Fiz questão de tirar uma no meio dos gafanhotos!!!) Pessoas pulando para jogar moedinhas. Adolescentes ensaiando poses sensuais. Todo mundo muito satisfeito com o dever cumprido. (Estive na Fontana de Trevi e lembrei de você!) Fiquei imaginando as pessoas voltando para casa de viagem, e mostrando as fotografias para os amigos com centenas de cabeças de estranhos na frente. Claro que a questão não é conseguir tirar uma fotografia sem “poluição”. Para isso existem cartões postais (e fotógrafos muito melhores do que todos nós). Mas eu fico me perguntando porque essas pessoas estavam fotografando? Porque elas estavam ali? Será que elas realmente queriam estar ali ou elas sentiam que “uma vez em Roma...” elas DEVIAM estar ali. Mesmo porque os romanos mesmos nem passam perto daquela praça. Esse é um exemplo extremo. Roma é uma cidade que transcende todos os clichês de turismo. É o maior festival de gafanhotos da face terrestre e não seria Roma se não fosse também isso. O que me leva para o oposto. Vira e mexe me aconselham a não ir para determinadas cidades porque “não tem nada para fazer”. Eu fico pensando porque será que as pessoas me dizem isso? O que será que elas estavam procurando lá que não encontraram? Ontem um australiano me dizia para não ir para Geneva porque não tinha nada lá e me perguntou como era a vida noturna no Marrocos. Sabe que nem pensei nisso! Nunca me passou pela cabeça que eu DEVESSE conhecer a vida noturna de todos os lugares que eu fosse. Às vezes as pessoas funcionam assim. “Sightseeing”. OK. “Comida típica”. OK. “Vida noturna”. OK. “Museu”. OK. Muitas delas detestam museus. Eu estava com um amigo em um museu há alguns meses atrás, eu procurando a sala que tinha um Veermer que eu queria ver. Quando encontramos eu parei em frente ao quadro e fiquei observando um pouco. Ele virou para mim e perguntou “Esse é um quadro famoso?”. Eu respondi “É uma obra menor de Veermer, mas o pintor é bem famoso.” Então ele puxou a máquina fotográfica e tirou uma foto do quadro. (Pra quê???) “Artista famoso”. OK. Comecei a, antes de qualquer coisa, me perguntar o que eu QUERO antes de decidir fazer algo. Então ficou mais claro que o que eu DEVO fazer não tem tanto a ver com obrigação do que com realizar minhas vontades. Exemplo besta. Hoje eu estava tomando café da manhã na varanda do hostel em Interlaken. Eles têm um lounge delicioso ao ar livre com vista para os alpes a volta e eu estava tomando meu café quentinho e agradecendo ao astral como faço todos os dias. Esparramada no sofá sentindo o friozinho da manhã de Sol gelado que surgia. Então eu lembrei que estava quase na hora de fazer o check out. E eu já estou bem cansada de empacotar mochila, carregar, ir para lá, para cá... Eu pensei “Não quero empacotar minha mochila denovo.”. Eu não preciso se eu não quiser. Posso apenas ir até a recepção e dizer que vou ficar por mais uma noite. Que vou ficar por mais duas noites. Que vou ficar a semana inteira. Então eu pensei novamente no que eu quero. Eu quero ficar em Interlaken? Não. Eu quero ir para Zermatt, fazer uma clássica trilha de hiking, ver o Matterhorn. Então eu subi para o quarto não porque eu DEVIA fazer check out, ou porque eu DEVIA empacotar minha mochila. Mas porque eu QUERIA ir embora de Interlaken. Existem milhões de outras coisas que eu podia (talvez até DEVESSE) fazer em Interlaken, mas eu não sentia vontade de fazer mais nada. Acho que esse talvez seja o grande segredo. Quanto tempo eu passei na minha vida fazendo coisas que eu achava que DEVIA sem pensar se eram as coisas que eu QUERIA. Tudo é uma questão de achar o equilíbrio entre o que realmente se quer, e agir de acordo para se conseguir. Não acredito em regras. Em um conjunto de ações para se seguir e ser feliz. Algumas vezes eu vou entrar no meio de todos os gafanhotos e fazer tudo como manda o Lonely Planet porque eu QUERO fazer aquilo. Outras vou virar as costas para todas as coisas “imperdíveis” e passar a manhã inteira de pijama na cama fuçando no facebook dos meus amigos de colégio. Não existe receita para ser feliz, para se divertir. Se fosse assim nenhuma celebridade milionária tomaria antidepressivo. Quantas pessoas eu ouço reclamando do emprego, do parceiro imaturo ou infiel, da cidade barulhenta e caótica em que mora. Mas em seguida respondem, “Mas eu não quero mudar meu padrão de vida”, “Eu não quero ficar sozinha”, “Eu não quero morar em uma cidade pequena”. Então segura a onda, meu filho! Se a sua vontade de ganhar dinheiro é maior do que a de fazer o que você gosta, então você está vivendo a vida que você quer. Se a sua vontade de estar em um relacionamento é maior do que correr o risco de nunca encontrar um parceiro ideal, você está vivendo a vida que você quer. Se a sua vontade de estar em uma cidade cosmopolita é maior do que aguentar o tédio e as faltas de opções de uma cidade pequena... bem vocês entenderam. Ou vai buscar um jeito de conseguir as coisas que você quer. Escolhas são difíceis, se a gente quiser que sejam. Eu, particurlamente, acho mais difícil ficar forçando a barra para controlar a vida. Como diz aquele ditado japonês, “Seja como um bambu. Firme no solo, mas flexível ao vento.” Eu estou fincada nas minhas vontades. Me dobro ao vento não porque eu DEVO, mas para que minhas raízes nunca deixem o solo.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

INVEJINHAAAAAAAAAA

Dois novos links aí ao lado.
O Marcão, meu amigo de faculdade, está fazendo o sonho de 10 entre 10 mochileiros. Está dando a volta ao mundo! Yeahhh!
E a esposa dele, a Cris, está fazendo o sonho de 10 entre 10 chefs de cozinha mochileiros. Está dando a volta ao mundo e provando todas as diferentes culinárias.
Se eu tenho inveja? MUUUUITA! Mas uma inveja do bem. De quem um dia ainda vai fazer a mesma coisa (embora depois do episódio culinário no Helpx, eu deixo a parte gastronômica só com a Cris mesmo...)

COISAS QUE EU AMO NAS MINHAS AMIGAS

Conversando com a Kika (não a que é prima de Lisboa. a que é sister do Brasil.) via IM do skype outro dia:

EU - Ando com uma saudade lascada de você. Saudade da rotininha. De ligar no meio da tarde. De trocar fofoca. De tomar café. De sair para beber. De BDD...
ELA - Ah, mas isso vai continuar a vida toda, Fia! Pode ter saudades à vontade. Quando você voltar está tudo aqui.

Tem gente que se pertence. Eu sou grata demais pela minha rede de proteção.

NA ILHA

*foi um presente para mim, porque não colocar aqui também. É para isso que eu caminho tanto...

Interlaken é um a cidadezinha sem sal. Um amontoado de casinha entre dois lagos lindos de águas azuis claras e você não está perdendo nada na verdade. São criativos para dar nome nas cidades por aqui também. A única razão de vir para cá é poder fugir para os alpes que a cercam de todos os lados. Uma ilha. Cercada de alpes por todos os lados. Hoje acordei às 6h da manhã. Estou em um hostel excelente. Hostelaria suíça, tá! Parece que eu sou a única ocidental do lugar. Japoneses, coreanos, chineses, indianos, indoneses (quem nasce na Indonésia é o que?). E eu aqui no meio. No terceiro andar eles têm uma “sala de meditação”. Em vez de fazer minhas meditações sentadinha na cama, hoje eu subi arrastando minhas havaianas e fiquei meditando na tal da sala até dar a hora do café da manhã. Um monte de meditação e etnias orientais no meio da Suíça. Será que isso quer dizer alguma coisa? Quem sabe a próxima mochilada é pela Ásia... Muito cedo para pensar nisso Adriana! Termina essa e faz direito! Peguei um ônibus até uma estação de trem ao norte da cidade e de lá subi de bonde até a base onde começava a trilha que resolvi fazer. 6 horas de trilha passando bem longe dos pontos mais gafanhotos das redondezas. Não quero nem saber porque todo mundo sobe o Jungfrau ou tira foto em cima das nuvens. Estou com vontade de ir exatamente na direção contrária. Muita gente fazendo a mesma trilha. A grande maioria casais de terceira idade, grupos beirando os 50 anos, um ou outro casal com filhos. Alemães e suíços. Entendi que talvez a molecada australiana de 20 e poucos suba toda para o Jungfrau. Já comecei a trilha feliz pela escolha. A saída da base estava a mais ou menos 1000m de altura. O ponto mais alto alcançou os 2500m e terminei em First à cerca de 1800m. Nada mal. As primeiras 4 horas foram de um prazer indescritível. Dei uma arrancada logo na saída e consegui me afastar dos outros hikers e passei um bom tempo caminhando sozinha. No meio da grandiosidade dessas montanhas, tão perto do céu. No começo da semana nevou nos alpes e como nos últimos dois dias o tempo esquentou, a neve estava toda derretendo. Em alguns pontos dava para ouvir a água escorrendo entre as pedras. Mas no geral isso significa longos trechos de lama pura. Neve derretida + trilha de terra. Ainda bem que comprei tênis novos. Não teria chegado na metade sem eles. Outros pontos batia um medinho. Trechos em que a neve ainda resistia, dura e compacta. Bem difícil caminhar em uma trilha estreitinha a beira de um penhasco coberta de gelo. Eu queria ter um daqueles bastões de caminhada. Ficava imaginando quanto tempo demorariam para me resgatar se eu escorregasse. Depois empurrava o pensamento para longe, para não atrair. Xô! Como o ritmo estava tranquilo, acabei não bebendo muita água e me alimentando quase nada. As duas últimas horas foram bem doloridas por causa da burrice. Mas conforme eu fui descendo, saindo das áreas com neve, um vale maravilhoso se abriu a minha frente. Duas lagoas, uma montanha branca à frente, e o Sol abençoando tudo de levinho. É por momentos assim que a gente precisa caminhar tanto. Voltei para o hostel no final da tarde. Sem fome, sem sede. Bastante confusa com a batalha de pensamentos que passei o dia todo. Uma crise de choro que veio do nada no meio da trilha, e foi seguida de outra de gargalhada. Ainda bem que não tinha ninguém por perto. Acho que eu ia ficar com vergonha. Agora estou com 3 barras de chocolate diferentes abertas. Dou uma mordida em cada um igual criança. Estou amando o silêncio que me enfiei. Cruzei uma porta a algumas semanas atrás. Aqui dentro está tão confortável que acho que nunca mais vou sair. Muito cedo para pensar em tanta coisa. Eu simplesmente estou confortável no lugar onde eu estou agora.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

NA BOLHA

Ok, a Suíça é cara. Ninguém esperava que fosse diferente. Quando cheguei levei um susto maior. Achei que a taxa estava de 1,5 para 1 em relação ao Euro. Sentei em um banquinho no aeroporto e fiquei com medo de atravessar a porta. Estava resolvida a não sair do aeroporto com medo de gastar muito dinheiro. Respirei quando descobri que era o contrário. Ainda assim é cara. Paguei quase R$20 ontem por um cachorro quente e uma coca-cola. E não era aqueles “dogão” que vende nas Topics nas portas dos estádios. Era uma linguiça enrolada em um papel e um pedaço de pão. Eu sentei em um banquinho na margem do rio, junto com todos os outros suíços que aproveitam o verão para almoçar ao livre, e fiquei jogando pedaços do meu super caro pão para os cisnes. Primeiro mundo minha gente. Nada de dar pipoca para pomba na praça pública. Aqui a gente joga hotdog para cisne no rio. Uma manada de cisnes (desculpa gente, mas estou com preguiça de descobrir o coletivo de cisne). Eles ficam esticando os pescoços para olhar o que você está comendo em cima do banco e se bicam entre si para disputar espaço. Me lembraram um pouco as crises de ciúmes que os cachorros da minha mãe tem entre eles. Depois eu deitei e tirei um cochilo no Sol. Fez um dia lindo aqui ontem. Quente e seco. Friozinho no final da tarde e à noite. Bom para dormir. Dia típico de outono em São Paulo. Dia típico de verão por aqui. Zurich é uma cidade perfeita. Perfeita em tudo. As ruas são calmas, lindas e limpas. As pessoas são educadas, elegantes. Mas não existe aquele esnobismo novo-rico que a gente costuma ver em alguns bairros de São Paulo. Zero ostentação. As pessoas são bem low profile inclusive. Tudo é tão organizado. Existe uma paz no ar. Eu tenho a sensação de que nada de ruim pode me acontecer aqui. Por isso mesmo pensei que essa é uma ótima cidade para se morar se você precisa de um tempo para pensar e se encontrar. É como estar em uma bolha do resto do mundo real. Aqui é tudo meio Playmobil. Mas morar só por um tempo. Ninguém aguenta comer tanto cachorro-quente. Eu decobri ontem que a Suíça tem a maior taxa de suicídio do mundo. Eu achava que era do Japão. Toda aquela obsessão com honra e etc. Às vezes o maior tormento e não ter tormento nenhum. Tanta segurança, tanta segurança, que a gente precisa se jogar de cima de um prédio para ter certeza de que está vivo. Vai saber!? Mesmo assim eu comprei drageas de chocolate com champgne e passei o dia sentindo derreter na minha língua enquanto eu me perdia pelas ruas. Não falar nada da língua também me ajuda a ficar em um bolha. Eu posso olhar para tudo, achar lindo e sorrir apenas. Estou hospedada na casa da Lícia, a namorada do Ivan. Querida que me tratou com todos os mimos. Agora estou terminando de empacotar e vou para Interlaken. Amanhã vou passar o dia fazendo hiking nas montanhas. Comprei algumas blusas térmicas ontem para aguentar a neve, e um tênis novo impermeável. Tudo ao custo de francos suíços. Já não me importa. Estou extasiada de me perder nos próximos dias nas montanhas. Passar algum tempo sem ver nem falar com ninguém. Só eu comigo. Depois, eu já sei, nada de muito ruim pode me acontecer.