terça-feira, 30 de novembro de 2010

SE UM ANJO SOPRAR...

Tem coisa que só é fofo quando a gente é criança. Depois de uma certa idade vira possessão. Mas enquanto é criança, pode fazer careta à vontade que fica adorável.
Eu mesma só canto fazendo caretas no banheiro. E adoro!

COISAS QUE SÓ OUÇO DAS MINHAS AMIGAS

"Meu, você viu o cineasta italiano? Se matou... COM 95 ANOS! É muuuuuita prepotência."

sábado, 27 de novembro de 2010

CACHINHOS DOURADOS

Nada como começar um dia com “good news”. Ontem eu já estava atrasada para a primeira reunião do dia. Saí correndo, largando a cama desarrumada, secador de cabelo jogado em cima da pia do banheiro e comendo um bombom de cupuaçu como café da manhã. Entro no meu carro, que estava quase em frente ao prédio, já que aqui não tem garagem, e... o banco de trás estava abaixado. Hum! Não gosto nada disso. Dá aquela sensação estranha de algo fora da ordem. Como se eu fosse um dos três ursos descobrindo que alguém havia mexido no meu mingau. Então eu olhava em volta. A porta fechada, os vidros intactos. Comecei a procurar por algo faltando, porque eu certamente não tinha deixado o banco de trás abaixado. Meu creme de mãos, ok. Álcool em gel, ok. Cinco garrafinhas de água mineral semi bebidas, ok. Caixinha de lenço, ok. Carregador do IPhone... not ok! Putz! Levaram meu carregador. Tudo bem. Eu não ando com nada de valor mesmo no carro, e nem tenho rádio. Só então que me ocorreu que, no porta-malas estava o mega-presente que eu comprei para a Olivia e não tinha levado na casa da MH ainda. Olivia nasceu no feriado de 15 de Novembro e eu tinha comprado um berço dobrável de viagem super legal. Rosa e cinza. Paguei uma grana nele e quase enlouqueci as vendedoras para escolher o melhor. Eu as fiz abrir e montar três berços diferentes até escolher aquele. Ai que raiva viu! O banco de trás abaixado e o porta malas escancarado e vazio. Eles entraram pela porta do passageiro. Entortaram com alguma alavanca. Deixaram um vão barulhento e ótimo para chuva. O que me dá mais raiva não é só a invasão de pensar que alguém andou, ajoelhou, apoiou as mãos em um lugar que é pessoal e onde eu passo tanto tempo do dia. O que me dá mais raiva é ver que, depois de todo o trabalho e risco de entortar a porta, entrar no carro... neguinho vai embora e larga o carro! Como assim minha gente? Já fez o mais difícil, então leva o carro embora. Me deixa receber o dinheiro do seguro que vale mais. Dava para trocar de carro, comprar outro presente para a Olívia e eu ainda saía no lucro. Vou te falar. Não se fazem mais ladrões como antigamente. Eu fiquei grunhindo por um tempo. Ligando para as amigas para compartilhar meu horror com a falta de ética da bandidagem de hoje. Mas dando risada, porque não é esse tipo de coisa que vai abalar meu bom humor no dia. Na hora do almoço fui correndo na funilaria e o moço desentortou a porta em cinco minutinhos. Tudo em ordem, vida normal. Fez um dia lindo. Eu estava usando um macacão de malha ecológica creme novinho que comprei em Belém e todo mundo me dizia que eu estava bonita e elegante. Eu toda pimpona. Muita coisa acontecendo de bom ao meu redor. Não dá para arruinar um dia por causa de um episódio desses. Eu não lembro muito bem como termina a história dos três ursos, mas eu lembro que a cachinhos dourados estava cansada e com fome. Eu até desconfio que a pessoa que entrou no meu carro não tinha cachinhos dourados... mas espero que o berço que eu escolhi com tanto carinho para a Olívia chegue pelo menos a alguma criança que encontre nele mais segurança e conforto.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu fiquei sem internet esses dias viajando. Cheguei agora à noite em São Paulo e ainda vou longe trabalhando hoje. Mas eu tinha escrito alguns posts, que foram todos carregados de uma vez, em suas respectivas datas. De 21 à 24 de Novembro. Tudo aí embaixo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ELEGÂNCIA E MORTE

Estou em um bom humor insuportável. Eu sei bem o que você vai dizer. A pessoa precisa ir para Ilha de Marajó para ficar bem humorada. Em minha defesa vou dizer que podia ser pior. Eu poderia ter ido para Marajó e ficado rabujenta. Quem me conhece sabe que isso é possível. Mas não. Estou bem humorada e feliz da vida. Nenhum acontecimento extraordinário, só que eu acho que é melhor ser otimista e feliz. Dá muito menos trabalho. Então eu estou sendo prática. E egoísta. Ficando bem humorada visando única e exclusivamente meu bem estar pessoal. HAHA! Hoje eu acordei e tomei um café da manhã saudável. Resisti à tentação de encher meu prato com rabanada e essas coisas gordas que hotéis adoram colocar no buffet. Só não resisti a fatia de queijo de bufala fresquinho que parecia um requeijão de tão macio. Joguei um monte de geléia de morango em cima e resolvi que aquele ia ser meu pecado do dia. Depois saí para uma caminhada na enorme faixa de areia da praia que fica em frente ao hotel. Praia particular, quase deserta. Um vento gostoso disfarçando a temperatura que subia astronomicamente ao longo da manhã. Andando descalça e deixando meu cabelo se emaranhar. Fiquei tirando fotos de um bando de abutres comendo carcaças de peixes que as ondas do rio traziam para a praia. A gente estava tão perto da foz que o rio nesse trecho tem ondas, praia de areia e água salgada. Para mim é mar. Depois fiquei olhando as fotos e pensando que algumas pessoas achariam pesadas fotos de aves de rapina comendo carniça. Realmente a gente sempre associa a visão de um abutre ou de um urubu com morte, lixo, doença. Tudo de ruim que vem a mente. Mas eu só tenho conseguido ver beleza com esses meus novos olhos de fotógrafa. Enquanto eu estava agachada atrás de um tronco, apertando enlouquecidamente o disparador da minha câmera, eu fiquei pensando como a natureza é mesmo incrível. Como ela pensou em cada mínimo detalhe, inclusive na faxina das praia caso o mar trouxesse corpos de peixes do mar. Que aquelas aves, que nem são fofinhas como o filhote de coruja que apareceu no jardim ontem, possuem um papel vital dentro do ballet da vida que a gente insiste em bagunçar. São aves grandes, que ficaram um pouco desconfiadas com a minha presença ali em volta. Mesmo eu ficando quietinha, quase imóvel atrás de um tronco, elas se alternavam para comer o peixe e me vigiar de longe. Depois alguns turistas apontaram na orla e elas todas levantaram vôo juntas. Perdi essa foto porque fiquei babona olhando aquelas aves de asas compridas cortando o ar e compondo um quadro tão bonito com o céu azul, as nuvens e a cor da água. As penas nas pontas de suas asas são mais longas e grossas. Quando elas voam essas penas se abrem em cinco como se fossem dedos de bailarinas. É tão lindo! Ok! Eu sei. Estou falando da elegância dos urubus. Talvez isso soe meio estúpido mas eu não me importo. Gosto de pensar que a vida é assim. Toda elegante. Ah! Antes que eu me esqueça, porque acordei pensando em escrever isso aqui. Sonhei que alguém tinha assassinado o Lula! Hahahah! O dia cheio de boas notícias. No meu sonho a Dilma já estava morta há alguns dias, então eu estou no metrô de SP (olha só. EU no METRÔ!) e vem a notícia de que o presidente Lula tinha sofrido um atentado e morrido. No meu sonho eu tinha uma urgência em chegar em algum computador, porque de alguma forma minha função era noticiar, mas eu estava feliz pra burro. Ai, eu não tenho jeito. Começo o post celebrando a vida e a imbecilidade de estar feliz e bem humorada, para terminá-lo desejando a morte do presidente. Quem sabe uma coisa está ligada a outra? Talvez meu sub-inconsciente acredite que felicidade e bom humor funcionem bem em um mundo em que o Presidente Lula e sua duvidosa sucessora não existam.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

MARATONA MARAJÓ

Mais um dia de funcionária pública. Pegue seu cartão de ponto e vamos para a primeira parte da maratona. "Passeio Fluvial". Como eu estava com uma baita dor de cabeça ontem, fui dormir cedo e acabei acordando às 2h da manhã. Nem Jesus me fazia dormir depois disso. Fiquei fritando na cama, pescando até a vontade acabar e compensando todas as noites mal dormidas das últimas semanas. Hoje na praia a gente teve uma surpresa. Um filhote de coruja branca (LINDO! LINDO! LINDO!) tinha caído do ninho e estava com cara de perdido na areia. Se eu não tivesse tanto medo do barulho que ele fazia com o bico (Juro que aquilo pode arrancar um dedo), eu levava para casa. Embrulhava e escondia na mochila. Tomei um café reforçado e entrei na van super-mega-arcondicionada feliz da vida. Fomos até o porto de Salvaterra e pegamos um barquinho de pescador adaptado para levar turistas. O pessoal do grupo chamava o barco de "Pópópó". Referência direta ao som do motor (que parecia de geladeira) do barco que penava para atravessar o rio. Entramos no Igarapé do Garrote. Eu já fiz passeios semelhantes, mas dá uma certa emoção pensar que aqui já é mata amazônica. Esse é um tipo de passeio completamente diferente, se a pessoa vem para Marajó esperando o hedonismo das praias nordestinas. Eu gosto mais, mas eu sou eu e não sou referência nenhuma a não ser de mim mesma. Logo na entrada do igarapé um bando de garças e guarás. Show para brincar de Araquém Alcântara. Saíram algumas fotos legais, embora na maior parte do tempo eu ficasse brigando com o fotômetro e com o "pópópó" do barco. Subi para o teto e me lambuzei com a tele e as paisagens cruas, verdes. As raízes aéreas, a água escura e sem fundo. Essa coisa de fotografar é totalmente viciante. Talvez o melhor vício que tive até agora (depois da corrida!). Eu não consigo parar de ver fotos, pensar enquadramentos. Agora tudo o que eu faço, meu primeiro instinto é tirar a tampa da objetiva e apontar. Pode ser um pouco alienante mas eu vi o passeio todo pelo visor da câmera. E adorei. Ganhei algumas marcas da alça da camiseta nos ombros (um dia eu vou aprender que com a cor da minha pele eu PRECISO usar protetor solar além do rosto) e uma mancha vermelha na nuca, mas quem está reclamando? Fiz fotos ótimas. Um cartão inteiro de 2Gb. Voltamos para a pousada e eu lagartixei na piscina com meu livro por uma hora. Beberiquei água de côco e arrisquei umas braçadas na água, tomei um banho e almocei rapidinho para estar pontualmente às 13h na recepção e encarar os passeios da tarde. Um novo grupo da CVC chegou hoje e se juntaram para o mesmo passeio. Mais senhoras, casais de meia idade e quarentonas descoladas. Em vez da van, um microônibus. Pensei, agora sim dá para rolar uma musiquinha "Motorista! Motorista! Olha a pista. Olha a pista." Mentira. Não tive coragem. Eu já não sei mais o que fazer para ficar invisível, até parece que vou me meter a cantar no ônibus. Meio difícil não despertar a curiosidade do grupo inteiro. Geralmente só por ser uma mulher viajando sozinha já desperta a curiosidade de muita gente. As pessoas não entendem muito porque eu não tenho namorado, ou não tenho marido, ou não estou com um grupo enorme de gente, ou mesmo com uma amiga à tira colo. Pior ainda é que eu não sou obesa, nem feia, nem limitada intelectualmente. Então eu viro um gigantesco ponto de interrogação. Para ajudar agora eu tenho uma câmera bacanuda pendurada no pescoço. Já estava até rolando um bolão de que eu era alguma jornalista camuflada. Às vezes sinto como se eu fosse uma atração de circo. Ando me limitando a sorrir e evitar contato visual. Sei que existem técnicas mais eficientes, mas ando chata e preguiçosa. O roteiro da tarde foi em Soure, considerada a capital do Marajó. Uma cidadezinha toda planejada, cheia de ruas e travessas que não tem nomes, só números. Como New York. Lá fomos até uma praia lindíssima, que se chega depois de atravessar uma ponte de 300m no meio do mangue. A praia, uma faixa sem fim de areia branca, com árvores perdidas aqui e ali. Raízes aéreas encontrando o solo, a maré baixa formando ilhas de terra até cair no mar. Choupanas de palha para a gente sentar embaixo e respirar a paz de um lugar que parece estar quase intocado, puro. (Vinte minutos para "explorar" a praia. Humpf!). Depois corremos até uma olaria indígena e loja de artesanato em cerâmica. Visitamos um Batalhão de Polícia Militar que usa búfalos na guarda montada. Fomos até uma fazenda de búfalos, tomamos café com bolinhos de tapioca, manteiga de búfala e suco de manga fresquinho do pé. Seguimos para um curtume e loja de artesanato de couro (tinha umas bolsas maravilhosas de couro de búfalo, mas achei cara e com um acabamento fraquinho). Tudo isso para voltar a tempo de pegar a balsa para Salvaterra às 18h. Com direito a Pôr do Sol lindo refletindo na água do rio. Agora à noite, enquanto eu mastigava um filé de búfalo com mussarela e arroz de jambu (vi tanto dos bichinhos hoje... eu precisava comer um deles à noite, não!?), um grupo folclórico da região apresentava coreografias de carimbó no salão do restaurante. Mais fotos lindas. Lua cheia toda enevoada também. (mas essa foto não ficou linda). Saí à francesa agora e me tranquei no quarto. Fiquei pensando no dia que tive. Me diverti com muitas coisas. Fiz coisas que certamente não teria a oportunidade se não me enfiasse em um grupo. Mas em alguns momentos do dia, eu olhava pela janela do ônibus, toda refrescada pelo ar condicionado, e me batia uma pontinha de tristeza. Uma vontade de me jogar no bafo quente, de ir para aquelas ruas andar sem rumo, bater papo com os moradores. Sentar em um boteco e ver a vida passar, sem pensar que eu tenho 20 minutos para fazer qualquer coisa. Sentei na minha cama e pensei "Então é assim que vivem os gafanhotos?". Não quero soar metida, ou ser mal agradecida com a oportunidade de conhecer esse lugar paradisíaco, de fazer essa viagem. A vida é sem dúvida generosa demais da conta comigo. Então eu vou parar de pensar e só agradecer. Agradecer a chance de ser gafanhoto por uns dias. Porque isso também reforça minha alma mochileira, que cada dia mais, tenho certeza que, mochileira sempre será.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

MARAJÓ

"Pois diga que irá
Irajá, Irajá
Pronde eu só veja você
Você veja a mim só
Marajó, Marajó"

Eu sempre gostei de Gil. Mentira. Eu sempre amei Gil. E se o Gil mandou ir para Marajó, a gente vai e não discute, certo!? Acordei 5h30 na segunda-feira. Tempo só de me arrumar e fechar a mala, e Taís já estava interfonando para o meu quarto avisando que aguardava na recepção. Taís era a guia responsável pelo receptivo até a pousada em Marajó. Uma garota nos seus 20 e tantos anos, sorridente, e com o delicioso sotaque paraense. Ela tem aquele jeito de quem adora o que faz, embora deva ter algumas limitações de formação. Ela tinha um energia e uma paciência descomunal para responder todas as perguntas, dar dicas e sugestões para as 13 pessoas que também estão fazendo o roteiro "Belém e Marajó Maravilhosos". O grupo é formado em sua maioria por mulheres, senhoras viajando com as amigas e dois casais de meia idade. Eu ganhei o troféu caçula sem nem precisar mostrar a identidade. São Paulo (capital e interior), Rio e Minas. O Sudeste em peso viaja. Ainda acho que somos a locomotiva e mais uns 5 vagões desse país. Uma van nos levou até o porto e lá vamos nós balançar 3h30 em um barco até Marajó. Mal pisamos na ilha e já fomos jogados dentro de uma van com ar condicionado que nos trouxe até a Pousada dos Guarás. Nem toquei na minha mala. Tinha sempre alguém carregando daqui, levando dali, e eu me sentindo inútil no meio de tudo. Se eu não tenho de carregar minha própria bagagem, qual é mesmo minha função nisso tudo? Cheia de adesivos do Guia 4 Rodas na porta de entrada e reproduções de reportagens nas paredes, a Pousada é uma área enorme com chalés espalhados em um gramado entre coqueiros, piscinas, trilha de arvorismo e uma praia particular de frente para o Rio Pará. No meio do gramado alguns cavalos mirrados olhando a vida e até búfalos (a criação de búfalos é uma das principais atividades econômicas do arquipélago). Quartos simples e confortáveis. Uma das tops de Marajó. Tivemos um tempo livre, que eu sabiamente usei para tomar uma caipirinha na beira da piscina e mandar bala no livro que estou lendo e amando. Almocei um Frango no tucupi delicioso e segui para o passeio programado à tarde. Vila de Joanes, onde a promessa era visitar "ruínas das antigas missões jesuítas", que se traduziram em duas paredes resistentes em cima de um penhasco. Vista bonita, mas nada muito emocionante. Como a gente é carente de história e conservação de patrimônio, não? Na volta passamos pelo centro de Salvaterra, o município que estamos hospedados. Acho que era Happy Hour então as ruas e bares estavam cheios, meninas arrumadas com roupas provocantes e salto. Os rapazes exibindo os biceps e as motocicletas. Ah, isso é universal. A tal da dança do acasalamento. O ônibus estacionou e o guia nos deu 20 minutos para "explorar" o lugar. Vinte minutos. Hum. Saí do ar condicionado para o bafo quente da rua. Parei em uma barraquinha de calçada e tomei um Tacacá. Prato típico no Pará que as pessoas costumam tomar no final da tarde como um aperitivo para abrir o apetite para o jantar. Um caldo de tucupi bem temperado que recebe goma quente (um derivado da mandioca), jambu (uma erva verde escura com poderes anestésicos) e camarão seco. Você vai tomando o caldo em uma cuia que se mistura à goma e, com um palitinho de dente, espeta o jambu e os camarões. Delícia, mas mega forte. Quem disse que dá para jantar depois de um prato desses está louco. Eu fechei a noite naquilo mesmo. Voltei para a pousada com uma mega dor de cabeça e uma sensação meio ridícula de ter passado tanto tempo dentro de um ônibus. Eu sei que esses pacotes turísticos dão oportunidades para uma fatia enorme da população de viajar e conhecer lugares e culturas diferentes. Mas eu não consigo me livrar da impressão de que estou apenas cumprindo um protocolo. De que falta um bocadinho ainda para chegar na Marajó de verdade. Talvez eu esteja mal acostumada. De qualquer forma, preciso moderar minha mania de querer controlar e ter expectativas de tudo. As coisas são como são. Pode não ser o meu ideal de viagem, mas é uma forma de viajar. Legal experimentar outros formatos para variar. Melhor mesmo é aceitar e tirar proveito ao máximo. Quem sabe amanhã eu não puxe "O jeep do padre fez um furo no pneu" dentro do ônibus para animar a galera!?

domingo, 21 de novembro de 2010

BELÉM DO PARÁ

Minha mochila nem esfriou no armário e lá estou eu novamente na estrada (ou melhor, no aeroporto). Eu adoro viajar pelo Brasil. É um continente todo próprio de possibilidades. Já fazia um tempo que eu queria atacar o norte do país, e quando a gente fala em norte vem logo a mente a Floresta Amazônica e Belém do Pará. Chegar em Belém tem um gostinho de viagem internacional. São três horas em um avião (eu demorava muito menos na maior parte dos trechos que fiz pela Europa), então o sotaque é tão forte, o vocabulário todo próprio, a paisagem, cores, cheiros. E como sempre, como todas as vezes que vim para o Norte-Nordeste, fico me questionando o que nos faz nação. Como essa viagem é um bate-volta, e o propósito é mais de trabalho, vim com um pacotinho CVC. Nunca tinha viajado com essas companhias de viagens antes. Tô achando um luxo essa coisa de "transfer no aeroporto", "receptivo" e "city tour". Dormir em hotel com TV, frigobar, Ar Condicionado e sem nenhum coreano tagarela roncando na parte de baixo do beliche. Mas tive de aturar uma senhorinha japonesa que estava do meu lado no avião looooouca para compartilhar sua empolgação. Empolgação mesmo foi entrar na van do transfer e descobrir que ela e as três amigas dela estão fazendo o mesmo pacote que eu. Ficou toda animada, coitadinha. Eu me sentindo culpada. Ok! Às vezes eu estou mais aberta para interações sociais com estranhos, mas no geral não sou conhecida pelo meu bom-humor e simpatia. Cheguei no hotel e já liguei para a CarolH. Fomos bater perna pela cidade e tentar tirar algumas fotos. Esqueci que nessa região chove todos os dias. Tava um Sol lindo quando pousei no aeroporto, mas no meio tempo de chegar no hotel e arrumar as coisas, o céu tinha nublado e destruído minha luz azul linda de tirar foto de coisas coloridas. Ainda assim tirei alguma coisa que dá para usar, com cara cinza de céu todo poderoso.Tomei um "Guaraná Garoto" na Praça da Republica, que a vendedora jogou dentro de um saquinho e me deu para tomar com um canudinho. Adoroa lógica prática de preservação dos vasilhames. Andamos até o famoso "Ver o Peso", comemos Pirarucu com Açaí e provamos uma infinidade de sorvetes diferentes. Todos um desbunde. Sapotilha, tapioca, bacuri. Coisas que só existem por aqui e para mim é difícil explicar. Como explicar que a semente, ou fruta, ou raiz, ou folha, ou algo inominável e que só existe nessa região do mundo, e que foi processada e utilizada por alguma tribo indigena para algum propósito terapêutico, e que acabou caindo no gosto popular e chegando à mesa do nortista comum? Mais do que um outro país, parece mesmo que estou em outro planeta. Depois andamos pelas Docas, que parece uma galeria com lojas e restaurantes mais sofisticados. Eram as antigas docas da cidade e passaram por uma mega recauchutagem. Tem um deck longo para as pessoas passearem a beira rio, mesinhas em choperias chics, galpões de vidro, banheiro limpinho e ar condicionado (nem vou ficar com aquele chororô que todo mundo tem quando o assunto é temperatura em Belém. É quente? Sim. Muito? Muito. É o que é. E ficar repetindo que é quente não vai mudar nada a situação) Verdade que é meio cafona, mas às vezes eu acho que gente que reclama desse tipo de restauração de espaço urbano é intelectual da Vila Madalena que quer manter tudo com uma certa estética de miséria para se sentir menos culpado de tomar vinho impor'tado. Qual é a graça de vir para o Norte do Brasil se está tudo cafona e com paredes de vidro? Ainda cafona, eu acho legal que a população daqui tenha algo arrumadinho e bonito para poder passear. As meninas botam vestido e salto alto para andar de um lado para o outro no deck. E mesmo que elas nunca tenham ouvido falar de Manolos ou Laboutins, eu gosto de ver que isso é universal. Eu também tenho meus endereços em São Paulo onde eu gosto de andar de um lado para o outro de salto alto. Agora à noite a gente foi ver a estética de miséria que infelizmente é grande parte desse país. Fomos para o bairro da Cremação para jantar na Peixaria do Careca. Famoso por todos os lados, o Careca em questão é o dono de uma garagem com meia dúzia de mesas de plástico na calçada. O cardápio, bem simples, foi impresso à jato de tinta e laminado na papelaria do bairro. Peixes nas melhores receitas paraenses e algumas opções básicas para os menos afoitos a novidades, como PF, bife à cavalo e filé de frango à milanesa. Tudo muito simples e com promessa de bem feito. Mandamos ver uma caldeirada mista de peixe, que ele adicionou camarões e patinhas de caranguejo. Veio acompanhada de arroz branco e pirão. Aquela panelada fervendo, inundando de cheiro verde nosso paladar. Um crime! Comemos como duas felizes. Eu ainda que amo pirão. Sobrou a panela inteira, que fizemos uma quentinha e levamos para uma moradora de rua no caminho de volta. Ainda pensamos em dar uma volta na feira da Cremação, mas a maior parte das barracas estavam fechadas. As únicas resistentes eram algumas de sopas e comida rápida de rua. Um grupo de pessoas viam o show de Paul McCartney em uma TV improvisada, enquanto um casal comia um PF nas mesinhas mal iluminadas por uma instalação elétrica puxada de gato do poste da esquina. Ao lado deles, no balcão da barraca, três baratas dançavam frenéticamente. Uma delas, tão feliz e confortável, tinha as asas levantadas. Parecia que torcia \o/. Eu não resisti. Comentei mesmo, e bem alto "Olha só, as baratas!". Em toda volta era como se o comentário nunca existisse. O casal continuava comendo, a cozinheira mexendo a sopa. Nem Paul McCartney notou. As baratas faziam parte, eu é que não. Então é curioso, pensar que me sinto mais parte de Roma, na Itália, ou de Amsterdam, na Holanda, do que de uma capital do meu próprio país. E daí? Daí que é muito contraditório, que é muito diverso. Talvez por isso que eu ame, e eu sinta mais sede de viver e conhecer. Porque como o Brasil não há. Ainda que seja tudo diferente, e tão distante do que eu chamo de realidade. Ainda é Brasil. E é por ser tão diferente que é tudo Brasil, e meu país.
Foram dez dias sem internet. E uma semana intensa de trabalho e noites de pouco sono. Aqui ficaram apenas os grilos. Sabe terreno baldio sem nada? Só com mato? Os grilos fazendo barulho no meio da escuridão. Acho que o mais difícil dessa volta para casa está sendo domar a avalanche de coisas que eu tenho feito. Eu tentei me organizar antes de voltar. Fiz até uma planilha de Excel com rotina, tempo de lazer, minhas corridinhas. Mas um mapa é só um mapa. É como seguir o GPS do carro. Se tombou um caminhão no meio da marginal a gente pega a primeira saída que dá e deixa o GPS recalcular o trajeto. Adaptação é uma virtude dos fortes. Eu acho. Então eu fui correr mesmo só um dia. Tive duas gripes fortíssimas e inexplicáveis. Bem estranho. Duas gripes em menos de um mês. Ignorei completamente. Fui me entupindo de paracetamol e tocando a vida. Mas não dá para abusar de exercício físico quando nosso corpo dói. Agora estou bem. As olheiras profundas são das poucas horas de sono, e do peso que não paro de perder. Só fui ter idéia do tanto que tinha perdido durante a viagem quando cheguei no Brasil e me pesei pela primeira vez em meeeeses. Surpresa mesmo foi ver o ponterinho da balança continuar a cair nessas semanas depois de ter voltado. Inexplicavelmente. Não paro de emagrecer. 52Kg e caindo. Acho um luxo tentar engordar. Ontem pedi uma pizza enorme e comi sozinha entre jantar e café da manhã de hoje. E uma barra de chocolate GG. Já fiz tanta coisa para emagrecer. Chega a ser irônico ter de me esforçar agora para segurar o peso. Não por vaidade não. Completa falta de grana. Estou completamente sem roupas. Todas minhas calças estão largas, e eu não posso comprar roupas novas agora. Pois é. A vida é irônica. De qualquer forma, eu me sinto estranha de voltar aqui depois desse tempo e de tudo que tenho feito das 7h às 3h. Já estive afastada do blog outras vezes, mas acho que nunca me senti estranha como agora. Vou precisar pegar o assunto aos poucos. Acho que é um pouco de vergonha.




Faz menos de um mês que eu voltei e minha vida agora está assim. Colocando em ordem tudo o que ficou pendente nesses 8 meses com o trabalho, recebendo gente, fazendo planejamento até o final do ano. Tem um projeto que está de vento em popa, só que eu não falo sobre ele até que ele seja uma realidade. Uma idéia que foi se formando em 8 meses de viagem e eu voltei seca para colocar em prática. Eu acredito que quando uma coisa é para acontecer o universo conspira. E do jeito que as coisas têm acontecido tão rápido, acho mesmo que o universo está conspirando. Fora desse que é meu “carro-chefe”, tem o curso de foto. Vou confessar que estou sendo uma aluna meio relapsa. Eu já devia ter entregue um mega relatório e fotos ampliadas que não tive nem tempo de cuidar. Coisa feia. Tenho também dedicado um tempo para organizar meus projetos de literatura e procurar um apartamento. E o planejamento de uma viagem para janeiro. Falando em viagem, pintou uma outra essa semana. Vou à trabalho para Belém do Pará amanhã cedinho. Aproveitar e esticar dois dias na Ilha de Marajó (que eu sempre fui louca para conhecer) e jantar com a CarolH amanhã à noite que está por lá fazendo pesquisa de culinária amazonense para o livro dela. Colocando tudo aqui nem parece tanto. Mas está difícil entender porque eu não consigo tempo para dormir.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ALONE

Hoje o técnico veio arrumar a geladeira. Eu fiquei a tarde toda trabalhando e arrumando as coisas no apê esperando ele aparecer. Quando ele chegou eu estava montando uma estante de metal que eu comprei no setor de “Faça você mesmo” da loja de materiais de construção. O cara chegou, arrastou a geladeira e, enquanto mexia nos fios, ficava me olhando de rabo de olho. Eu lá, tentando encaixar o tubo B com o tubo H e o parafuso G. Então ele me pergunta “Você gosta de fazer isso?”. Eu abaixei a chave de fenda e fiquei olhando para a cara do técnico. Sabe que eu não tinha pensado nisso? Se eu gosto de montar uma estante de metal no meio de uma sala caótica e vazia com metade das minhas coisas enfiadas em caixas. Mas eu não tenho muita opção. É isso, ou continuar com tudo nas caixas. Foi essa minha resposta. Ele continuou, “É raro ver mulher fazendo isso. Geralmente elas deixam para os maridos, para os namorados...” E continuou lá falando atrás da geladeira. Eu gosto de fazer as coisas sozinhas. Desde pequena. Aos 18 resolvi que queria fazer faculdade nos EUA. Fiquei um ano e meio correndo atrás de toda a papelada, estudando, fazendo TOEFL, cuidando da burocracia. Quando fui aprovada, cheguei com o papel para os meus pais e fiz as malas dois meses depois. Comprei meu primeiro carro sozinha, embora meus pais tivessem condições de me dar um. Sempre adorei ir ao cinema sozinha. Viajar então! Passei os últimos 8 meses fazendo isso. Também sai de casa sozinha, sem ajuda de ninguém. Claro que minha família sempre me deu muito apoio, e eu tenho uma rede de proteção de amigos invejável. Tenho mesmo os melhores amigos do mundo. Mas eu sempre fiz as coisas sozinha. Sei lá. Desde que saí de casa aos 21 anos eu mudei 8 vezes. Inclusive voltei para casa dos meus pais por um período. Todas essas mudanças eu fiz sozinha. No começo do ano minha irmã me ajudou uma tarde a encaixotar algumas coisas, mas de resto era eu e eu. Fechando cada caixa, embalando cada copo, chamando carreto, carregando caixa pesada de livro. Então chega na nova casa e abre caixa por caixa. Vai colocando cada coisa em seu lugar. Eu sei que se eu precisar eu posso dar um telefonema e vou ter pessoas me ajudando de todas as formas que elas puderem. Mas a questão é, eu continuo sozinha. Fazer as coisas sozinhas é muito legal. É uma conquista para a maioria das pessoas. Conheço muita gente que morre de fome mas não senta em um restaurante sozinho. É uma coisa que parece bobeira, muito simples até, mas é um grande desafio para muita gente. Então eu tenho orgulho da minha independência e do tanto de coisas que eu faço sozinha. Eu gosto de fazer as coisas sozinhas, e de curtir minha própria companhia. Eu escolho ficar sozinha muitas vezes. Troco um barzinho com galera no sábado à noite por uma taça de vinho sozinha na sala de casa fácil, fácil. E isso é uma grande conquista de ter me encontrado e estar feliz comigo. MAS... hoje, sentada no chão no meio dos tubos da minha estante nova eu entendi que eu não estava apenas sozinha, mas construindo uma vida sozinha. A vida segue, a gente vai tocando. Vivendo os dias com o que se tem, e o que eu tenho é que eu estou sozinha. Então eu compro coisas de gente sozinha, e arrumo um apartamento de gente sozinha. Eu faço coisas de gente sozinha. Tenho rotina de gente sozinha. Carrego caixas e malas por três andares de escadas, porque eu estou sozinha. Escolho a cor da cortina única e exclusivamente dentro do meu gosto pessoal, afinal, é o único em questão. Eu me esparramo em uma cama Queen size, porque não tem mais ninguém para dormir nela. Eu posso até dormir cada dia de um lado. É uma cama de solteira. Eu nunca me incomodei. Mas hoje eu entendi porque talvez eu tenha passado 18 horas chorando de domingo para segunda. Porque eu estou seguindo minha vida, construindo uma vida, quando na verdade eu quero compartilhar uma vida. E compartilhar é um verbo que a gente não faz sozinha. Eu posso controlar um milhão de coisas que dependem de mim. Sozinha. Posso comer em um restaurante, sentar em uma sessão de cinema com um potão de pipoca. Posso mochilar pelo mundo. Sentar em um bar de jazz e tomar um drink. Posso ir a concertos, museus. Posso dormir até o meio dia, ou acordar de madrugada e praticar esportes. Ficar horas dentro de uma livraria, ler o jornal na padaria. Posso freqüentar cursos, sair para dançar, tirar fotos na rua, participar de reuniões. Eu posso determinar um milhão de coisas sozinha. Porque essas são conquistas que a minha independência me trouxe. Mas eu não posso controlar como compartilhar minha vida. Porque todo o resto, só depende de mim. Eu sou uma pessoa muito comprometida quando me envolvo. Depender de nós mesmos sempre me pareceu muito libertador. Agora eu estou presa na minha independência. Compartilhar não depende só de mim. Não se compartilha quando só um dá e a gente nem sabe ao menos se o outro recebeu. Compartilhar vida exige ação de dois. E eu sou sozinha. Talvez eu precise fazer o inverso. Aprender a fazer as coisas junto.

VOCÊ ESTÁ PASSANDO POR UM NOVO TRÂNSITO ASTROLÓGICO

SOL NA CASA 4, LUA NA CASA 7

DE: 10/11 (Hoje), 22h31
ATÉ: 13/11 , 15h13
Ocorrido anteriormente em: novembro/2009


O período que vai de 10/11 (Hoje) a 13/11 é marcado pela Lua, que entra em fase crescente, formando um ângulo tenso com o Sol. O conflito aqui é traduzido como um choque entre suas necessidades reais de introspecção neste momento, explicitadas pelo Sol na Casa 4, versus um desejo emocional de agradar o outro, de atender às necessidades do ser amado. O conflito aqui poderia ser traduzido da seguinte forma: o que você quer neste momento, no fundo de sua alma, tem a ver com o que sua(s) pessoa(s) querida(s) também querem? Este é o tipo de trânsito planetário em que você pode receber cobranças dos outros, que talvez não entendam bem esta sua temporária necessidade de recolhimento. De todo modo, seria interessante você esperar o final deste trânsito lunar para poder resolver suas questões afetivas, pois a fase astral atual tem uma carga de forte contradição!

Isso significa que até dia 13 às 15h13 eu não faço nada!

domingo, 7 de novembro de 2010

MOVING

A vida é feita de mudanças. Milhões delas. Um dia a gente acorda, tem uns fios brancos aparecendo no espelho. Uma dor nas costas que a gente nunca tinha sentido antes. Ficamos até mais tolerantes em relação a uma porção de coisas (para um monte de outras continuamos teimosos e rabugentos). Ontem eu mudei. Não dessa maneira sutil que o tempo e a vida nos trazem. Mudei de mudar mesmo. De botar a calça jeans velha, uma camisa xadrez e carregar caixa pesada escada a cima. Não é um lugar definitivo ainda, mas é meu primeiro passo para voltar para a cidade e organizar minha rotina. A Cí tem um apartamento em Pinheiros que ela está terminando de reformar. Vaziozinho. “Dri, pega suas coisas e fica lá em casa até você se organizar. Assim você tem tempo de procurar um lugar com calma.” Nem precisou oferecer duas vezes. No dia seguinte eu já estava arrancando a chave das mãos dela e chamando um carreto. Só a idéia de poder concentrar tudo o que é meu em um único espaço físico (e poder ter noção real do que eu ainda tenho ou não na vida) pareceu cair do céu. Eu sou meu xiita no quesito “quero tudo arrumado ao mesmo tempo agora”. Quando eu mudo, gosto da casa com cara de ser habitada há décadas no final da tarde. Dessa vez não foi bem assim. Peguei minha faxineira de manhã e fomos as duas dar um gás no apartamento antes do carreto chegar e colocar caixas em todos os lugares. Acontece que o apartamento estava imundo. IMUNDO! Sabe quando fazem aplicação de gesso e fica tudo branco? Então. Tenta limpar casa suja de gesso, tenta. Às vezes eu sentia que a gente estava vivendo o Mito de Sísifo. Varria, limpava, passava pano, ficava bonitinho. Quando secava, continuava tudo branco. Vontade de chorar. Um apartamento tão pequenininho e parecia que a gente não ia terminar nunca. Não terminamos. Conseguimos dar uma bela geral, deixar as coisas mais ou menos organizadas e a cama arrumada. Isso já eram 20h. Eu ainda tinha aniversário da vovó. Voltei mega tarde e capotei. Literalmente. Melhor jeito de ignorar a zona que está isso aqui. Como eu falei, o apartamento está terminando reforma. Então agora, além de tentar abrir todas minhas caixas e arrumar as coisas, eu preciso acertar os detalhezinhos que estão pendentes. A geladeira não está gelando (assistência técnica durante a semana e comer na padoca até segunda ordem), o pezinho do fogão está quebrado (juntei umas madeirinhas e fiz um calço, tipo quando a gente dobra guardanapo de papel para não deixar a mesa do bar bamba). A pia da cozinha não está instalada. Isso vai ser mais complicado, precisa de um pedreiro e a Cí precisa ver como ela vai querer o gabinete que fica embaixo. E o chuveiro está bichado (resolvido. Comprei um novo hoje na Leroy Merlin por R$25. Agora só preciso achar alguém para instalar na segunda-feira... já me disseram que não é uma boa idéia fazer isso sozinha.) O interfone está desconectado e a escrivaninha precisa instalar. Estou sem intenet, sem TV à Cabo. Preciso comprar uma estante para meus livros. Meus sapatos estão amontoados no meio da sala, parecendo o Monte Fuji. Eu tenho 7 caixas de mudança que nem foram tocadas ainda. Continuam com o lacre. Com toda a loucura e falta de tempo que está minha vida, essa adição de tarefas caseiras quase me deixou louca nos últimos dois dias. Eu sou virginiana. Padrões estéticos e ordem são realmente necessários para a minha saúde mental. Então eu começo a olhar para a toda a bagunça, começo a fazer lista de coisas no meu caderninho para não esquecer de nada, e olhando dessa forma a coisa começa a ficar bem desesperadora. Quase 48h que eu comecei a mudança e não está com cara de que vai ficar em ordem tão rápido. Essa situação de impotência perante a desorganização me deixa bem angustiada. Me faz sentir insegura. “ÊÊÊ Laiá Dona Adriana! Vai saber porque a vida está te colocando nessa situação logo de cara, chegando de volta em casa!?” Pois é. Talvez porque se tudo fosse do jeito planejado, eu iria continuar rolando pedra montanha acima só para vê-la despencar quando chegasse ao topo. Talvez porque na minha vida eu rolei pedra demais. E eu acho que estou chegando no momento em que, se a pedra tá afim de ficar lá embaixo, que bom para ela. Vou deixar ela lá. Ficar um pouco acampada no meio das caixas, porque a gente não se instala impecavelmente em 15 dias. Não precisa estabelecer certezas só porque eu voltei para casa (mesmo porque, durante toda a viagem eu só carreguei incertezas). Quem quer fazer muita coisa, acaba não fazendo nada. Eu percorri milhares de kilometros esse ano. Não tem como voltar ao mesmo lugar. Não dá. Então eu mudei. Assim como esse apartamento, essa mudança não é definitiva. E cair no truque de achar que é, é como rolar pedra morro acima. O segredo é cuidar das coisas que eu tenho controle. Ligar para a assistência técnica, pendurar roupa no cabide. Tomar banho gelado, passar pano úmido no chão e rever a trilogia do Kieslowski que eu roubei da minha irmã no laptop mesmo. Porque é sábado à noite e eu não vou conseguir transformar esse lugar em uma casa se eu ficar acordada até as 4h da manhã todos os dias. Eu não sei nem de que lado da montanha eu quero ficar. Quanto mais carregar a pedra comigo.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

STRIKE A POSE!


Minha primeira câmera fotográfica eu comprei com 18 anos. Uma Pentax K1000. Acho que esse era o modelo “minha primeira reflex” de todo mundo na época. Fui lá na Sete de Abril. Dinheirinho juntado e mais ajuda da mamis. Comprei a Pentax, um filtro skylight, dois rolos de filme P&B da Fuji ISSO 400 e um envelope de papel fotográfico. Me inscrevi em um curso do Senac. Sonhava em juntar mais dinheirinho e comprar uma tele. Uma Nikon automática. Sempre gostei muito de tirar foto de gente. Na mesma época eu faculdade também tive aulas de fotografia. Mas era mais genérica. O legal era que o laboratório era liberado. Eu podia brincar de revelar filmes e ampliar. Experimentar técnicas de máscara, ficar na sala escura por horas. Tudo saía meio tosco, porque eu ainda estava aprendendo. Mas eu amava. Quando saí da casa dos meus pais, com 21 anos, fui dividir com uma amiga fotógrafa. Procuramos um apartamento planejando transformar o quarto da empregada em uma sala escura. Não preciso dizer que o quarto da empregada nunca mudou de status. A gente ficou tão ocupada com os 20 e poucos anos que tudo foi ficando procrastinado. Fiquei tão ocupada me tornando a “dancing queen”, descobrindo a música eletrônica (pois é! Eu já gostei disso...), fazendo um milhão de amigos... Até que eu fui ficando cansada da noite. Então a gente envelhece, entra na corrida das carreiras. Começamos a priorizar a conta bancária (que nunca ficava positiva), o corpo em forma, o sapato de marca. Os relacionamentos se complicam. Será que eu caso? Será que eu compro uma bicicleta? Será que eu vou na liquidação do QBazar no Jockey? No Ano Novo eu sempre fazia minha listinha de objetivos. Imprimia em uma cartolina, plastificava e colocava na agenda do ano. Nela tinhas as coisas que eu queria conquistar. Academia 3 vezes por semana. Trocar de carro. Emagrecer 6 Kilos. Viajar para NY. Comprar um laptop. E uma mega câmera fotográfica. E assim iam se passando os anos. Eu nunca comprava a câmera. Durante esse ano, durante toda a jornada que passei, eu fui revendo tudo o que eu gostava, o que eu queria, o que eu era. Então eu achei aquela garota descabelada, que queria ter uma sala escura no quarto da empregada. Achei ela perdida dentro de mim e me perguntei “Porque mesmo que eu a abandonei?”. Então quando eu estava fazendo minha lista de “Coisas que eu gosto”, meu passaporte emocional de volta para casa, eu coloquei lá. “Comprar uma mega câmera fotográfica (e fazer um curso de foto)”. Dessa vez eu fiz. Porque agora o foco é não me perder mais de mim. Troquei idéia com amigos que fotografam sobre equipamentos, aceitei dicas e, antes de embarcar de volta, comprei minha primeira câmera reflex digital. Uma Canon EOS 500D e mais três jogos de objetivas. Uma mochila linda para carregar todo o equipamento. Me inscrevi em um curso de foto que começava logo no dia que eu cheguei. Não quero nunca mais procrastinar. A gente vai deixando para depois até um dia que não nos lembramos mais porque estamos fazendo as coisas que fazemos. Com toda a bagunça que ainda eu preciso organizar nessa minha vida de volta, eu tenho ido no curso de foto direitinho. Fazendo dois módulos logo de cara. Os módulos mais básicos. Relembrando tudo aquilo que aprendi quando todas as câmeras eram analógicas e a gente nem sonhava com todos esses recursos digitais. Logo de cara tava sendo 10x0 para a câmera. Agora já estou começando a ter um pouco mais de domínio. Deixando de ser uma apertadora de botão e pensando na foto. Hoje voltei para casa cheia de orgulho. Durante nossa saída prática no curso de hoje à noite, resolvi bater uma foto da minha cidade. Apoiei a câmera em cima do Viaduto do Chá e fui exercitar foto de movimento. O resultado é esse aí. Não está perfeito, mas me deixou feliz pra burro. Tirei umas 5 fotos antes dessa até acertar o tempo de exposição para conseguir os risquinhos. São esses os tipos de detalhes que a gente esquece e a prática vai deixando cada vez mais automáticos.  Cada dia eu vou desperdiçar menos cliques. Estou apaixonada de voltar a fotografar. E ainda tenho São Paulo posando para mim.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

VOLTEI!

Sim! De volta. De volta ao Brasil. De volta ao blog. Sabe que eu tenho um ditador latino-americano dentro de mim. Sou minha pior inimiga. Determino regras malucas, toque de recolher. Sempre tentando ser perfeita e fracassando retumbantemente em tudo. Dentro da infinidade de coisas que eu aprendi nesse ano (que foram tantas e não dá nem para listar), uma foi ser mais “democrática” comigo mesma. Respeitar mais meus limites, e principalmente minhas vontades. Então eu sumi daqui mesmo. Sumi porque tinha coisa demais acontecendo e meu barulho interno não me deixava escrever nem uma linha. Daí a gente respeita, né!? Minha última semana na Europa foi de tanto amor. Passei em Lisboa e Portugal aninhada com Kika e Carol. A volta teve suas peculiaridades, um contratempo com a passagem, malas pesadas demais, falta de ordem completa e absoluta. Então a viagem de volta. Brasileiro tem mesmo um jeito muito peculiar de viajar. De impor suas presenças dentro de um vôo. Aplaudir quando o avião pousa. Vai dando a sensação de acordar de um sonho muito gostoso e ir perdendo a memória dele. Cheguei irritadíssima. Dando patada para tudo quanto é lado. Eu sei que é injusto, mas eu sou uma pessoa imperfeita. Foram umas 30 horas até o som, o cheiro, as cores pararem de me agredirem. Para enfim eu me sentir aterrissada. Daí ficou tudo bom. Mais do que bom. Tudo lindo. São Paulo renasceu para mim. Linda! (Ok, beleza não é exatamente o forte de São Paulo, mas é preciso olhar apurado para entender as sutilezas estéticas das quais eu falo.). Com tantas perspectivas mudadas, tanto tempo fora de casa, eu volto para descobrir que a minha cidade é incrível. Mais do que eu pensava. São Paulo é uma das cidades mais fantásticas do mundo. E essa é tão somente minha opinião. Agora estou sentindo todos os sabores aos poucos. Sem pressa. Sem desespero. Sem saber o que vai ser o dia de amanhã. Acordando todos os dias e agradecendo o dia lindo. Arrumando e organizando um pouquinho da minha vida a cada dia. Ainda tenho roupas espalhadas em caixas e malas. Estou acampada na casa de uma amiga. O número novo do celular não foi distribuído para quase ninguém. Não consegui correr nem um minutinho no parque. Trabalhar então... Acho que só semana que vem. Mas mesmo com todo o caos, zero de rotina, ando feliz pra caramba. Não é legal!? É um novo tempo. Um novo paradigma. Meu ditador latino-americano está como Fidel Castro. Velhinho e impotente. Eu gosto assim. Não sei se é melhor, se é pior. Tem sido assim. E eu gosto.