sexta-feira, 26 de agosto de 2011

LAST MINUTES

Eu ando com uma ironia muito sutil sobre a vida. Juro que estou brigando com ela. Tem uma pessoa muito querida que me disse essa semana que é “econômica em críticas”. Eu achei tão bonito. Hoje em dia o povo anda vendendo críticas tão baratinho. Parcelinhas Casas Bahia. Eu já estive no saldão, não posso falar nada. A verdade é que é muito mais fácil reclamar do que elogiar. Chega um ponto em que a gente olha para a nós mesmos e nem sabemos como receber elogios. Eu mesma não sei. E fico em pânico de ter de lidar com eles. Medo de decepcionar. Porque quando alguém te elogia, você recebe uma espécie de credencial. Uma responsabilidade pelo critério daquela pessoa, que parou e reparou em você. Para que um dia você vire uma grande decepção. Minha estratégia de vida sempre foi ser uma decepção logo de cara, assim ninguém se decepciona. Eu sempre gostei dos paradoxos. Mas isso é uma grande covardia na verdade. O que eu tenho descoberto nos últimos dias é exatamente isso. No final do dia acho que sou uma bela de uma covarde. Passei a semana com uma vontade de jogar tudo para cima e correr muito longe, que nem conto... Eu vou fugir até quando? Sempre que eu me sinto no foco, no centro das atenções, minha vontade é escapar rapidamente, cortar contato, fugir. Acho que sou uma tímida crônica. Só que ninguém me acredita. Ninguém olha para mim e enxerga minha timidez. Só aumenta minha responsabilidade. Eu espero que seja coisa de inferno astral. Falta de meditação. Stress de trabalho. Estafa pela falta do tempo. Não posso nem reclamar, porque tive um dos melhores infernos astrais de toda minha vida. Tudo o que eu trabalhei e procurei está voltando para mim. Mas diz o ditado, cuidado com o que pede. Porque vem. Então eu pedi e agora preciso receber. Meus últimos minutos com 34 anos estão sendo de uma angústia aguda. Mas depois, eu prometo, vou voltar outra. Mais madura. Com 35. Capaz de olhar toda minha vida, meus limites e minhas fraquezas com muito mais ternura. Que assim seja.



Amanhã ele está chegando. Meu dutch Prince. Vou fazer uma festa para meus amigos mais próximos e para minha família. Estou morrendo de medo de ninguém vir. De eu ficar sozinha com um bolo no colo. Estou morrendo de medo dele chegar e não gostar mais de mim. É o que eu sempre digo. É um mundo repleto de gente carente lá fora. A gente só está buscando amor.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

PROCRASTINAÇÃO

Taí uma palavra que quando eu descobri fiquei toda pimpona. Procrastinação. Acho que poderíamos fundar todo um movimento filosófico baseado nessa palavra. Melhor, no verbo. Procrastinar. O famoso “porque fazer agora o que se pode deixar para amanhã”. Acho que é uma coisa de geração. Minha geração é bem procrastinadora. Deixamos para depois a leitura dos clássicos, a arrumação do armário e a procriação. Então não me sinto culpada de me entregar ao frio e ficar enrolando com um monte de tarefinhas menores, quando eu tenho um texto grande de website para entregar. A procrastinação vem diretamente ligada a um pecado capital. A preguiça. De todos os pecados capitais o meu favorito. Tem a gula e a vaidade que eu adoro também. Mas a preguiça, eu acho que deveria ser institucionalizada. Vou escrever para o Papa. Pedir para ele rever os pecados capitais. Absurdo preguiça ser pecado. Voltando à procrastinação, acho que ela é terrivelmente subestimada. Procrastinação na verdade é uma virtude dos otimistas. Só procrastina quem tem certeza do dia seguinte. Quem sabe que vai ter tempo no futuro para realizar o que não está realizando agora. Quem compra um livro e deixa na estante sabendo que vai ter pelo menos uns dois anos pela frente para então abrir e ler. Quem resolve ficar de pijama, tomando café na cama antes de um dia mega atribulado, sabendo que tem prazo para entregar texto. Quem deixa a conta de luz para ser paga no último dia, em vez de colocar no débito automático ou pagar assim que chega. Quem marca compromisso social em véspera de prova importante. Quem compra presente de Natal na 25 no dia 23 de dezembro. E ovo de Páscoa na Sexta-feira Santa. Isso é de um otimismo sem tamanho! Digno de respeito. Afinal, neguinho tem certeza que vai encontrar o concorrido ovo do Ben 10 intacto naquele túnel do Wal-Mart bem na véspera da Páscoa. Diz! Não dá vontade de aplaudir um cara desses? Brincadeiras a parte, às vezes sinto que é como uma prisão. Estou sempre procrastinando. Sempre deixando para depois. Sempre não realizando. Acho que meu maior desafio de vida, mais do que vencer a preguiça, é vencer a procrastinação. Se a gente pensar direito, procrastinar na verdade é abster-se do agora. É deixar para viver no futuro. E isso é muito triste. Um dos motivos que me fez colocar uma mochila nas costas e ficar quase um ano na estrada era a sensação de que minha vida não estava acontecendo. Talvez porque eu estava deixando tudo para fazer amanhã, depois, quando desse. Não é nem uma questão de preguiça, talvez mais de coragem. Deixar de procrastinar é pegar a vida com as duas mãos e dizer “Vem cá. Você é minha e vai acontecer agora.” Afinal, “agora” é a única certeza que temos. É a única coisa que existe de verdade. Eu tento, eu batalho para vencer isso. Nem sempre eu ganho, mas é assim a vida. A gente continua tentando. Então eu devia chegar aqui como uma procrastinadora anônima. Dizer: Oi meu nome é Adriana, e eu não procrastino há 3 dias. (então todo mundo responde: Oiiiii, Adrianaaaaa!!!). Não existem grupos assim. Procrastinar é uma coisa tão comum, tão enraizada no ser humano. Todos meus amigos fazem, como eu disse, minha geração faz. Então não pode ser errado o que é tão coletivo. Só que eu sou das que acredita que a gente constrói um mundo melhor a partir do indivíduo. Eu melhoro o indivíduo para melhorar o mundo. Sendo assim, eu sou uma procrastinadora. Triste. Em recuperação. Eu vou fazer uma lista das minhas prioridades, vou sentar a bunda no computador e me obrigar a cumpri-las. Um dia de cada vez.


sábado, 20 de agosto de 2011

RECUPERADA

FINALMENTE! Finalmente a novela acabou! Longe de mim ser noveleira. A culpa toda foi da Kika. Ela apareceu aqui uma noite, a gente estava conversando e zapeando a TV, e ela veio com essa de ver a novela. Eu não assisto novela há milênios, mas ela usou argumentos bem contundentes. Que a novela estava boa, que não era tão maniqueísta, que tinha a Glória Pires virando vilã. E o mais contundente dos argumentos: é do Gilberto Braga. Embora novelas sejam consideradas uma forma inferior de literatura, eu aprecio um texto bem escrito e uma trama bem construída. É uma arte escrever novelas. É um estilo particular, e Gilberto Braga é rei nisso. São dele as novelas mais bem escritas da TV brasileira depois da morte da gênia Janete Clair. Eu deixei a Kika colocar na novela e foi um episódio para viciar completamente. Um único episódio. Pior que crack e heroína. Quase não tenho tempo para nada e ainda parava todo dia à noite para assistir a novela. Gravava nos dias de curso da Noemi. E ontem rolou até sessão especial, com direito a pizza e amigos no sofá para descobrir quem matou Norma. Perdi o bolão. Chutei na Jandira. Foi a doidinha da Wanda. Eu bem que gostaria de ser redatora de novela pelo menos uma vez na vida. Deve ser uma coisa de louco. Deve ser uma delícia. Quem sabe eu me empolgue e me inscreva na oficina de redatores da Globo. (Taí uma coisa que eu ia curtir fazer). Por hora eu estou celebrando. O retorno à normalidade das minhas noites da semana. E já mandei o recado ontem. Ai da Kika se me aparecer aqui denovo querendo ver novela!

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

CAFÉ NA CAMA


Sabe uma das coisas que eu mais amo? Acordar cedo e ficar de pijama deitada na cama por um tempão. Quando eu falo acordar cedo não estou falando de acordar às 7h da manhã não. Tô falando de acordar às 5h40. Ficar lagartixando até as 6h. Então descer e preparar um café. Mamão papaya com aveia e mel. Pão integral com cottage e aquela geléia francesa sem açúcar que eu adoro. Uma xícara de leite espumado com Nespresso. Yes, nós temos Nespresso. De acordo com o K a Nespresso é uma revolução na arte de levantar da cama de manhã. Um café desses faz você ter vontade de sair debaixo do ededron. Então eu coloco tudo em cima de uma bandeja e subo para o quarto com o jornal do dia embaixo do braço. Puxo o netbook que fica na mesinha de cabeceira para o colo. Vou folheando os cadernos. Tomando meu café. Assistindo o jornal da manhã. Quando dá 8 horas eu já tomei café, li e assisti todas as notícias, respondi emails, organizei agenda. Só então vou tirar o pijama, tomar um banho e sair para a vida. Não é todo dia que dá para fazer isso. Como estou ficando cada dia mais gorda, tem minha corridinha que eu tento privilegiar. Tem dia que tem yoga. E tem dia que eu preciso estar 8 horas em algum lugar, daí o pijama precisa cair fora bem antes. Mas pelo menos uma vez por semana eu tento começar meu dia na cama. Pegar leve. Desfrutar desse prazer. Eu estou recomeçando minha vida do esboço. Voltei para SP esse ano e todo mundo sabe que eu não tenho mais 20 anos. O esforço é maior e o tempo é menor. Se eu não for generosa comigo. Se eu não respeitar meus limites, não tem como sobreviver por muito tempo. Hoje eu ia correr. Levantei às 5h40, fui até o banheiro e senti meu corpo ceder. Olhei para meu rosto no espelho e fiquei com dó. Meus músculos ainda estão doendo da yoga puxada de ontem. Então falei para mim mesma, “Adriana, hoje você merece café na cama.” Afinal, o bom da rotina é poder quebrá-la de leve em dias assim.

domingo, 14 de agosto de 2011

SOBRE A BANALIDADE DA VIDA

Encontrei várias pessoas com quem estudei hoje. Todas em uma festa de escola, com suas famílias, seus filhos e mulheres grávidas. Acho uma coisa muito especial conviver com pessoas que te conheçam desde antes de você virar gente. As conquistas só tomam proporções quando possuem um ponto de comparação. Achei aquelas pessoas muito sortudas. Nós todos crescemos juntos, estudando na mesma escola. E agora os filhos deles estão crescendo juntos, na mesma escola. Eu achei lindo assistir as famílias conversando, interagindo, e fazendo essas coisas que famílias fazem como, consolar criança chorando, carregar a bolsa da esposa, procurar fralda na mala do bebê e fazerem turnos para comer. O pequeno ritual da família de classe média brasileira. Eu passei tantos anos sofrendo lavagem cerebral contra isso. Vendo atores torcerem o nariz para esse padrão burguês de vida, afinal a vida de um artista é tão mais importante e cheia de significado. Só que vida de verdade era aquilo hoje lá. Hoje eu descobri que eu não tenho uma vida tão interessante para contar. De todas as escolhas que eu fiz, não tem muito que faça frente à vida real. Não que eu me arrependa. Não me arrependo. Mesmo porque não faz sentido se arrepender de coisas que não podem ser mudadas. Mas me pareceu superficial olhar para minha vida e pensar em todas as festas que fui, nas centenas de pessoas que conheço e conheci, filmes, peças, trabalhos. Tudo é tão pouco perto de alguém que te conta sobre uma vida de verdade. Uma vida pé no chão. Quando te contam sobre o nome do filho que vai nascer, crença em Papai Noel, escritório novo, construção de casa, o cachorro que o filho pediu e agora só dá trabalho, acidentes na viagem de férias. Então eu ouvi tudo  com certa emoção, mas guardei para mim qualquer acontecimento que eu tenha vivido. Não posso reclamar porque tenho uma vida privilegiada. Conheço pessoas interessantes, já fiz trabalhos muito curiosos. Já apareci na TV, já fiz cinema. Viajei muito, conheci lugares lindos, experimentei comidas das mais bizarras. Fiz esportes extremos, meditei.  Já mudei radicalmente a cor do meu cabelo e aprendi línguas diferentes, em países diferentes. Mas essas são apenas experiências que vão se extinguir comigo. A vida que se constrói é no dia a dia. É cotidiano. Vida é a banalidade medíocre de ser humano. E isso eu acho que perdi. Nós somos levados a acreditar que devemos buscar o extraordinário. O que é incrível. O que é fora do comum. E sim, eles existem. Esses são momentos de benção, de completude. São os picos. Mas durante todo o outro tempo a vida é tão somente banal e medíocre. Com toda maravilha que se possa ser. Em uma época de tantos pontos de exclamação, de tantas manifestações, opiniões e emotions. Eu sinto falta do banal. De ter uma vida banal. É paradoxal mas, a vida só encontra sua vocação de esplendor e notabilidade quando é banal. Só assim é um milagre. Eu sei que perdi parte desse tempo. As minhas escolhas me colocaram em uma posição em que eu jamais poderei sentir o privilégio dos meus ex-colegas. De conviver com o tempo e as pessoas e o espaço ao longo da minha vida. Mas eu ainda tenho tempo de ser mais banal nos meus dias daqui para frente.  Eu quero ser mais banal nos meus dias. Segurar com as duas mãos essas experiência também . No final pode até tudo se desfazer comigo, mas pelo menos tive da vida sua experiência mais genuína e pura. A vida em sua banalidade original.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

SOBRE BOTAR A BOCA NO TROMBONE E MEU VISLUMBRE DE UMA REVOLUÇÃO

Eu sou uma consumidora chata. Não que eu saiba de pronto todo o código do consumidor, na verdade eu nunca o li. Mas eu conheço mercado e acho que quem manda é o consumidor. Então se o serviço ou o produto não está sendo vendido da maneira que é prometida e cobrada, eu reclamo. E reclamo mesmo. Eu entendo que as empresas criem diversas regras e procedimentos para suas próprias saúdes financeiras, mas eu aprendi na faculdade que uma empresa bem sucedida tem seu foco no cliente, e cobro isso de todas. Principalmente agora que a nova internet e as mídias sociais estão dando tanta voz ao indivíduo. Antigamente eu ficava puta com algum serviço ou produto, reclamava para meia dúzia de amigos e era isso. As empresas podiam ser bem folgadas porque os danos eram mínimos, controlados. O quanto uma única pessoa podia prejudicar uma empresa? Hoje é diferente. Eu por exemplo. Tenho 730 contatos no Facebook, 68 seguidores no Twitter, e esse blog. Não é muito, mas é infinitamente maior do que as meia dúzias de pessoas para quem eu reclamaria normalmente. Com um agravante. Qualquer reclamação que eu faça com o nome de alguma empresa em minhas mídias sociais pode ser duplicada, compartilhada ou retuitada por qualquer um dos meus contatos, e pelos contatos deles, e assim por diante. Uma vez na internet minhas opiniões ficam gravadas e podem ser acessadas por qualquer um através de uma simples busca Google. Existem cases de departamentos de marketing perdendo o sono por causa de virais assim. A Arezzo deve bater com a cabeça na parede até hoje depois do episódio dos sapatos com peles de animais do começo do ano. O consumidor nunca teve voz tão ativa quanto hoje, e não vai adiantar contratar uma top model por uma fortuna para vender seu produto como a coisa mais chic do mundo se o seu produto fere valores que muitos consumidores consideram essenciais. Eles vão colocar a boca no Twitter e derrubar sua coleção. Eu tenho utilizado esse meios para resolver situações que antes me deixavam nervosa. Outro dia comprei um aquecedor a gás pelo Clickon, site de compra coletiva. Sou viciada em site de compra coletiva e acho uma grande revolução nas relações de compras. (Principalmente com os valores insanos que têm sido cobrados em São Paulo ultimamente). Acontece que não me entregaram o aquecedor e quando eu comecei a estranhar a demora, descobri que o cupom estava cancelado. A promoção havia sido expirada. Primeiro entrei em contato com o SAC. Péssimo! Me enrolaram com uma resposta padrão e não resolveram nada. Tentei novamente e a mesma resposta padrão. Parti para o site Reclameaqui (formidável BTW). Mesma resposta padrão do tipo “botar panos quentes”. Não apresentam solução ou opção para solução. Para mim era muito simples. Eu paguei e não recebi. Ou me entregam o produto, ou me devolvem o dinheiro. Simples não? Não para empresas burras. Eles não entendem que é mais simples não discutir ou enervar o consumidor, atender prontamente uma solicitação justa e perder essa compra, do que causar um dano maior e uma repulsa contra a empresa que dificilmente será revertida e impossibilitará diversas compras futuras. Pois eles continuaram se isentando de qualquer responsabilidade e fingindo não entender como resolver meu problema. Meu próximo passo foi escrever um longo email muito revoltado e entupir a caixa de mensagens do  SAC deles. Sentei uma noite e Copie e Colei a mensagem em uns 50 emails. Na manhã seguinte me responderam vagamente com certa educação irritada. Parti para a Fan Page do Clickon no Facebook. Escrevi comentários alertando os demais consumidores, postei reclamações no mural. Eles iam apagando enquanto eu postava (olha o absurdo!), mas eu copiava e colava inúmeras vezes. Em 15 minutos recebi um email avisando que eles haviam feito estorno da compra e que o valor em créditos estava na minha conta da Clickon. Fiquei feliz? Claro que não! Eu nunca mais quero consumir da Clickon. Nunca mais quero qualquer relação comercial com uma empresa mesquinha e desrespeitosa. Me devolver uma compra que eu fiz em dinheiro por um produto específico, em créditos é me obrigar a continuar a comprar com eles. E eu não sou obrigada a comprar nunca mais com eles. Então enviei um novo email ao SAC dizendo, educadamente, que uma vez que eles não tinham como entregar o produto que eu desejava comprar, e esse produto havia sido comprado em dinheiro, eu só aceitaria o estorno em dinheiro e não em créditos. (Tipo, o troco pode ser em bala? Não, não pode. Eu vim comprar pão, não balas.). Nem preciso dizer que foi inútil. Fiz um novo ataque no email do SAC e no Facebook, e enfim tive o reembolso da minha compra. Tem gente que pensa que é muito trabalho. Pode até ser. Mas eu não suporto injustiça, e detesto me sentir tapeada. Tive uma situação parecida com a Peixe Urbano que foi impecável. No primeiro contato com o SAC responderam prontamente, fizeram o reembolso sem discussão ou perguntas. É meu direito e acabou. Viraram meu site de compra coletiva favorita desde então. Difícil para eles? Nada. Tiveram um décimo do trabalho que eu dei ao Clickon e fidelizaram uma cliente. À Clickon, eu desejo que apodreça e entre em falência. (Aliás eles são donos do site Uva Rosa também, que merece boicote.) Aconselho todo mundo a utilizar mídias sociais para expor suas opiniões. Não apenas esses pequenos contratempos de consumo. Sobre tudo. O efeito dominó nos ministérios, a fragilidade de visão global dos governantes americanos, as crianças definhando na Somália, o restaurante que te tratou mal, o dia de Sol lindo que amanheceu, o casal de mocinhos chatos da novela, a revolta contra a homofobia ou contra o orgulho hétero. Reclamem, registrem, compartilhem. Estamos entrando em um novo paradigma, estamos tendo o privilégio de viver o nascer de uma revolução nas relações mundiais. Eu realmente acredito nisso. Ainda é tímido, mas muitas coisas vão mudar nos próximos 10-20 anos. As bolsas estão quebrando, as potências estão morrendo. E 140 caracteres escritos por uma pessoa qualquer podem ser capazes de mudar o mundo.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

PRIVACIDADE

Hoje é o aniversário do meu Dutch Prince. Quando deu meia-noite lá na Holanda eu mandei um email fantasiada de Marilyn e cantando “Happy Birthday Mr. Dutch Prince” para ele. Tudo virtual e em palavras, mas essas são as maravilhas da internet. A gente pode levar um relacionamento a 10 mil Km de distância e participar ativamente da vida um do outro. Engraçado que eu me sinto muito mais segura do que eu me sentia em relacionamentos em que o cara morava no mesmo bairro. Estou completa. Não sinto vontade de conhecer outras pessoas, de flertar. Sinto tranqüilidade e estabilidade. Acho que isso tem a ver com caráter também. Não apenas o meu, mas principalmente o dele. Ele é um cara sólido. Inteiro. E adorável. Então, quando uma garota encontra um cara como ele, não importa se ele está do outro lado do oceano, é como se estivesse tudo certo. Tudo se encaixa. O resto a gente vai administrando. Temos o skype, que é a décima primeira maravilha do mundo (perde para o rímel, o corretivo e o scarpin!). Graças ao skype eu posso ter horas de conversas como se ele estivesse do meu ladinho, assim como posso assistir novela com a Y que é uma das minhas melhores amigas e mora em Fortaleza. Temos os sagrados emails diários. SMS. Facebook. Hoje é tão mais possível  ficar perto sem estar presente. Quando a Y e eu fizemos intercâmbio juntas na adolescência, por exemplo, ela morava em Curitiba. A gente mandava cartas que demoravam um mês para serem enviadas, e outro mês para serem devolvidas. Hoje muitas vezes ela é a primeira que recebe notícias que estão acontecendo no mesmo instante comigo. Acho lindo isso. O presente dele ainda foi por Correios. Uma fortuna que vai chegar mais próximo ao meu aniversário do que do dele. Mas eu fui a primeira a cantar “Happy Birthday” hoje, e ele me agradeceu enquanto eu ainda dormia e ele tomava café da manhã. É como um tempo paralelo. Existe eu no Brasil, ele na Holanda, e nós nesse tempo virtual que é só nosso. Eu sei que existem todas as coisas que podem dar errado em qualquer relacionamento, e que esse se der certo vai passar por muitas outras provas. Mas eu me sinto abençoada por viver nessa época de tanta interação, de tanta possibilidade de conexão, de comunicação e interatividade. Há quem diga que é o fim da privacidade. Eu discordo. Nunca estive tão reclusa e caseira, e tão no mundo ao mesmo tempo. Eu acho maravilhoso. Compartilho, curto, blogo, escrevo, posto, tuito, o que escolho. Mas ainda tenho minha privacidade absolutamente intocada. E mesmo quando eu abro aqui, um pouco da comemoração de aniversário do meu Dutch Prince, é uma escolha preservada. Com um oceano inteiro entre a gente, só mesmo nós dois sabemos o que um “Happy Birthday Mr. Dutch Prince” representa.

domingo, 7 de agosto de 2011

SOBRIEDADE

Fiz uma cirurgia sexta-feira. No dente, coisa simples. Para colocar uma longa história em um trecho curto:  Há anos atrás eu tinha um molar que ficou sensível em um ponto que precisou ser feito um canal. O canal não foi bem feito, infeccionou, mas como eu não sentia nada só foi descoberto quando a infecção já estava no osso. Refiz o tratamento, que resolveu parte da infecção, mas como ela estava muito profunda e acabou criando um cisto que precisou ser removido mecanicamente. Então lá fui eu, depois de ficar deprimida por uns dias com a notícia, ser anestesiada, ter minha gengiva cortada e descolada, o osso do meu maxilar furado com uma broca. Verdade que foi um procedimento simples, como o endodontista havia prometido. Mas a recuperação é chata. Ele me pediu repouso. Nada de acelerar batimentos cardíacos. Nada de levar a cabeça abaixo do nível do corpo. Apenas líquidos. Hoje posso começar a ingerir líquidos quentes, até ontem eram só gelados. E eu descobri que sopa fria é horrível. Pelo menos se você não sabe fazer. E meu rosto está deformado. Levemente inchado de um dos lados, me dando um ar engraçado. Ontem foi o aniversário do Didi, namorado da Kika. O Didi é alemão e está no Brasil esse mês. Como ele ainda não tem muitos amigos aqui, e os amigos dele são os amigos da Kika, e os amigos da Kika são meus amigos... Eles fizeram o aniversário do Didi aqui em casa. O que foi uma honra e um prazer, porque eu adoro receber gente em casa (adoro mesmo!), e adoro ter motivo para não sair de casa. Foi muito gostoso. O Didi fez uma mesa enorme, cheio de patês, vinhos, queijos, frios, pães, frutas e tortas. Eu tomei uma sopa fria de abóbora e passei a noite tomando chá gelado em taça de vinho, o que foi muito divertido porque tapeou minha cabeça direitinho. E todo mundo jurava que eu tomava vinho branco. J Fazia muito tempo que eu participava de alguma reunião e não bebia. Engraçado a necessidade de beber que geralmente a gente cria. Lógico que eu gosto de tomar um vinho de vez em quando. De dar uma abusadinha esporadicamente. Eu gosto do torpor da embriaguez, embora não faça mais isso com a mesma freqüência de antigamente (nem de perto). O corpo e a idade não permitem mais. Nem a vontade. Foi gostoso passar a noite sóbria. Eu me senti mais calma, mais controlada. A qualidade das conversas que tive foram muito mais agradáveis. Em compensação, a sensibilidade aos que haviam abusado também era maior. Eu não sou ninguém para julgar quem exagera na dose. Mas também não vou deixar de gentilmente pontuar limites quando considerar que estejam sendo ultrapassados. Na verdade isso me dá uma sensação de liberdade. Talvez porque eu esteja cada dia mais fugindo de preceitos de certo e errado. Eu acredito que a base da tolerância é saber que não existe uma verdade absoluta. Que alguma coisa que é muito errada para mim, pode ser considerada certa por outra pessoa. Eu vou tentar não julgar. Não é tarefa fácil, mas se fosse assim tão simples nós alcançaríamos a paz no mundo em uma semana. Não vou mudar os outros, mas posso me modificar. Uma vez eu ouvi que quando a gente muda, o mundo muda. E eu acreditei. Eu quero um mundo mais tolerante, mais calmo e centrado. Eu quero um mundo mais sóbrio e ciente de suas potencialidades. Eu acredito que sóbrios, nós enxergamos os limites. Nós respeitamos mais. Nós somos mais prudentes e amorosos. Menos agressivos. Impossível ser verdadeiro se não estiver inteiro. Eu fiquei pensando quantas vezes eu camuflei coisas lindas sobre mim, quantas vezes mostrei faces das quais não me orgulho e me arrependi na ressaca moral do dia seguinte. Então fiquei ainda mais feliz de ter permanecido sóbria. Hoje acordei com dor. A cirurgia latejando um pouco. Acho que porque não respeitei muito a recomendação de não fazer esforço. Queria deixar tudo arrumado, conversei muito (e mexi muito o maxilar). Mas acordei inteira, da mesma forma que fui dormir. Isso é gostoso. Claro que não vou me tornar abstêmia. Como poderia viver sem nunca mais colocar uma flute de champagne na boca? Sem uma taça de vinho para acompanhar uma refeição divina? Sem uma boa caipirinha para abrir a feijoada? Mas hoje foi uma delícia ter estado sóbria e eu vou colocar isso na lista de prazeres, assim como todos os outros.