domingo, 30 de setembro de 2012

NÃO SEI SE ADOTO, OU SE COMPRO UM NAMORADO


Vamos falar a verdade. Não é clichê não. Dez entre dez solteiros que moram sozinhos têm em seu maior pesadelo morrer sozinho e ser encontrado dias depois semi-comido pelos cachorros. Ninguém está falando da lógica racional de que eu nem cachorro tenho. E caso algo assim aconteça eu espero que a Holly não coma metade do meu rosto e confio fielmente na Jô em chamar ajuda quando chegar para trabalhar na segunda de manhã. A única diferença é a espécie animal e o tempo que vão demorar para encontrar o corpo. O medo continua o mesmo. No geral eu gosto da solidão. Busquei isso na minha vida. Gosto do silêncio, da rotina. De fazer as coisas que eu gosto sem negociar. Sem depender de ninguém. Mas existem os momentos que a gente sente falta de ter alguém por perto. Na hora da pizza sábado à noite. No frio embaixo do edredon. Naquele dia que foi estressante e dá vontade de abrir uma cerveja e conversar com alguém. Verdade que existem amigos para isso. Os meus faz tempo que não estão disponíveis. Ainda assim, amigo tem uma obrigação mais social. Inclui um programa, um compromisso. Telefonemas e combinações. Por mais íntimos que sejam, não correspondem à necessidade que a gente sente às vezes de estar junto. Tô falando daquela coisa família. Daquela companhia incondicional, que está ali porque vive ali. E da qual fazemos tanto parte da vida, quanto eles das nossas. Hoje cedo tinha planejado um domingão bem solitário. Tava um dia lindo de Sol, eu ia fazer um café gostoso em casa, ler o jornal e ouvir Rachmaninov. Depois pegar a bike e pedalar até o Ibirapuera. Adoro assistir às pessoas no Ibirapuera. Tomar água de côco. Voltar para casa, escrever. À tarde eu ia ao retiro no Centro Kadampa e, dependendo do pique no final do dia, assistir Cosmópolis porque todo mundo andou falando desse filme. Só que logo no “café da manhã gostoso”, fiz uma tapioca, capuccino na Nespresso, esquentei um ovo e... não é que ele explodiu no meu rosto. Quente. Fervendo. Bem na hora que eu colocava a cara em cima dele, pronta para jogar sal e comer. Foi uma explosão e tanto. Holly desapareceu de susto embaixo do sofá pelo resto do dia. Eu olhava em volta, a cozinha coberta de casca e ovo por todos os lado, e meu olho doía muito. Pensei: “Ceguei”. À lá Saramago. Mas não. Dramática. Corri para lavar o rosto e quando olhei no espelho lá estava, meu olho esquerdo todo queimado e vermelho. Então foi nessa hora, nesse momento, que eu me dei conta: Preciso arrumar um namorado! Porque essa é a típica situação em que você precisa correr para um hospital. Você vai largar a cozinha coberta de ovo, trocar de roupa apenas e correr para um pronto socorro (ou para a fila de transplante de córneas). Hoje de manhã senti muita falta de ter alguém que segure a minha mão. Que me diga que eu não vou precisar usar um tapa-olho, e nem vou precisar de cirurgia plástica. E que também eu não vou ficar com o rosto manchado para o resto da vida. É lógico que eu sei que nada disso iria acontecer. A dor era suportável e eu conseguia enxergar meu rosto no espelho, mas não existe nada mais solitário do que dar entrada no pronto socorro em um domingo de manhã. Começa assim, você vai para o pronto socorro sozinha, e quando menos se dá conta não tem ninguém no seu enterro e a única pessoa que chora é a carpideira do plano da funerária. A situação é preocupante, minha gente. Não é tanto pelos momentos que a gente vive, mas a solidão que existe no momento em que se morre. Ninguém deveria morrer sozinho.  Não deveria, mas a gente sabe que vai. No meu caso, como não estava morrendo nem com cachorros devorando meu corpo, resolvi ligar para o K porque ele sempre me salva. Acabei com o domingo dele. Dirigiu até o hospital, me disse que eu não ia precisar de um tapa-olho e nem ficar com o rosto deformado. Depois de eu ganhar uma pomada e um encaminhamento para um oftalmologista, voltamos para casa. K, que tem mais fobia de relacionamentos do que eu, me confessou que não gostaria de morar sozinho. Se não fosse a mãe moraria com um amigo, mas não moraria sozinho. Falei que tenho sentido vontade de adotar uma criança. Ou de arrumar um namorado (embora em alguns casos isso seja praticamente a mesma coisa). K me disse que achava mais fácil adotar uma criança do que morar com alguém. Não sei. Cada um sabe onde o sapato aperta. Talvez eu esteja amadurecendo. Deixando de lado um pouco essa ideia de autonomia absoluta. Talvez eu resolva baixar a guarda, assumir que eu preciso das pessoas. Deixar me envolver em um relacionamento outra vez. Ou eu sempre posso transformar a gata em vegetariana e ensiná-la a discar 190 para pedir ajuda. 

terça-feira, 25 de setembro de 2012




Corridinha depois de meses sem participar de uma. Na minha camiseta estava escrito “Eu corro por mais AMOR”. Haviam camisetas com Solidariedade, Amizade, Paz, Igualdade, Respeito. O minha caiu justamente a “mais AMOR”. O amor me persegue. Acho bom, porque eu também persigo ele. Então eu larguei, percurso de 7K delícia, saindo do Parque das Bicicletas até o Shopping Eldorado. Eu ainda mal ganhando a República do Líbano, no primeiro kilometro e... TIBUM! Sem água. Pisei em falso em um desses olhos de gato da rua e me estabaquei no chão de asfalto. Senti a palma da mão ralada. Uma dor excruciante no tornozelo esquerdo. Parei, tirei o tênis. O pessoal do apoio chegou de bicicleta. Passei gelol, alonguei. Acho que dá para continuar. Se inchar eu paro. Continuei. Me senti guerreira. O corpo já estava quente, então foi fácil não sentir muita dor. Manquei em alguns trechos, andei em outros. No último kilometro a coisa pesou. O andar leve claudicante deu lugar para uma dessas cenas que a gente vê em final de maratona nas Olimpíadas. Cruzei a linha de chegada arrastando a perna, fazendo caretas e imaginando “Carruagens de Fogo” na minha cabeça. Tantan tantanrantãããã! Me sentindo o próprio exemplo da força e da perseverança do esporte. A própria Gabriela Andersen-Schiess. Preparando meu discurso para o Fantástcio. Mas ninguém me deu bola. Sai da linha de chegada e fui direto para o posto médico. Ganhei um saquinho de gelo e um aviso de castigo. Conforme o tornozelo esfriava, as lágrimas desciam pelo meu rosto. Dói, mas não inchou. Cheguei em casa, fiz mais gelo. Enfaixei, tomei antiinflamatório. A dor passou. Pensei que estava tudo bem. Pensei que dava para ver o timão jogar tomando cerveja no Filial, e ir para o aniversário de 10 anos do Bar da Dida, e falar um monte, dar risada, andar para lá e para cá. Até fiz sala para o ex-namorado que resolveu passar férias no Brasil (isso porque estamos os dois muito bem resolvidos, obrigada!). Então, ontem de manhã, o tornozelo parecia uma bola de baseball. Ou melhor, de tênis. Não tenho nenhuma familiaridade com bolas de baseball. Cancelei compromissos, botei o pé para cima. Assustei. Não é que eu sinta dor mais, só que os movimentos estão limitados e parece que sempre vou puxar de mais alguma coisa. Suspeitei que não poderia fazer ballet essa semana. Suspeitei que não poderia correr. Fui hoje ao médico. Ganhei elogio pela corrida. Ganhei puxão de orelha por não ter parado e por não ter ficado quietinha. Tiramos uma “chapa”. Boas notícias. Lesão nível 1. O médico vira e diz: “quatro semanas de repouso”. Respiro fundo, puxo a bombinha de asma, e respondo:


- Ok, doutor. Só quero te pedir umas coisinhas: Vamos diminuir esse tempo aí. Eu nunca quebrei um osso na vida, meu corpo se recupera logo.
- Você é o que chamamos de péssima cliente! Hummm... Ok. Duas semanas. Mas em repouso.
- Repouso é o quê?
- Nada de ficar correndo 7K por aí. Tornozeleira de neoprene durante o dia. Pode tirar para dormir.
- Ok. Outra coisa. Um atestado para eu levar na academia.
- Certo.
- E, por fim. Posso fazer bicicleta?
- Na academia?
- Do prédio, em casa. Não tem atrito, não força a articulação.
- Hummm.... Ok, um pouco. E vou liberar membros superiores.
- Yes!
- Estou até me sentindo mal. Você tão atleta e eu sou totalmente sedentário. 


Amém! Alguém reconhecendo meu esforço. Para alguma coisa havia de servir cruzar parecendo o Smeagol a linha de chegada.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

FUCKING SPECIAL

Hoje a música Creep do Radiohead faz 20 anos. Uau! 20 anos. É um pouco assustador pensar que eu já me conhecia por gente e já era neurastênica 20 anos atrás. Eu tenho uma relação de muita completude com essa música. Pensa só: eu tinha 16 anos. Gostava de um garoto que não me dava bola. Sonhava em escrever cinema. Detestava meu cabelo. Usava camisas de flanela xadrez bem grandonas que cobriam meu corpo até legalzinho, de quem jogava handbol e praticava natação. E tudo o que eu queria era me sentir especial. Daí vem esse cara, cantando com vozinha rouca no microfone, que também gostaria de se sentir espeical, mas que ele é um estranho, um esquisito e que não se sente parte daqui. Bum! Tudo fez sentido. Eu não era a única. Até hoje quando ouço essa música parece que alguém escreveu lendo bem pertinho o que falava meu coração. É verdade também que se sentir estranho e esquisito era uma epidemia quando eu tinha 16 anos, (e definiu todo o movimento grunge, do qual tenho muito orgulho de ser filha e testemunha). Ok, eu sei que todo adolescente se sente estranho e esquisito, é o imperativo. Só que Creep foi escrita uma única vez e somente há 20 anos atrás. Desde então não vi outras coisas calando fundo como essa música. Estou bem longe de ser crítica musical, então não é o caso de dissertar sobre a qualidade musical ou técnica do Radiohead. Só sei que, ainda hoje, quando ouço essa música, minha alma assenta. 20 anos depois eu ainda sinto que não faço parte, e começo a desconfiar de que todos meus contemporâneos acabaram encontrando um caminho para "a perfect body, a perfect soul". Pior, começo a desconfiar de que, talvez, eu nunca vá ouvir essa música como uma balada apenas. Ela vai sempre me descrever... Ainda bem!

Aqui vai uma seleção minha das diferentes vezes que essa música espremeu meu coração.

O clipe oficial com o Thom Yorke merecendo um colo.





Essa é a fofa cena de "And they lived happily ever after" com Johnny Depp e Charlotte Gainsbourg, (os creepies mais descolados do cinema).




Uma animação linda feita com a versão acústica da música.




Maravilhosa em coro, com os suécos do Vega Choir. (Está na trilha sonora de "The Social Network").




E essa é minha favorita: o mendigo Mustard, que ficou famoso cantando Creep nas ruas do Village. (Irônico, não!?) Gosto de pensar que, tanto eu (uma pseudo-perua paulistana) quanto ele podemos nos sentir da mesma forma com uma música. :-)