quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013


O ano mal está encerrando seu segundo mês e eu já tenho 2013 como um dos mais importantes da minha vida. O livro está no prelo, minha primeira matéria foi publicada semana passada na Vida Simples, outro texto foi aprovado (talvez um dos mais corajosos que escrevi) para publicação em breve, a coluna no PPQO indo de vendo em popa, conheci Cuba. A vida está calma, e isso me faz sentir feliz e inteira. Essa mania de dizer “sim” para tudo me trouxe algumas surpresas sociais, novos amigos, e a chance de me envolver com uma nova pessoa - que talvez eu não me envolvesse em outras épocas. Acho que agora é tempo de qualificar tudo isso. Como disse minha editora, essa coisa de aprender a dizer “sim” é tão importante quanto aprender a dizer “não”. Vamos lá, aprender os dois. Comecei dizendo não para baladas. Oficialmente, não posso com baladas, aglomerações de pessoas, gente bêbada e qualquer coisa que avance noite a dentro. Não sou eu. Ontem disse não também para a academia. Não para a prática de exercícios, só para minha academia. Ela, que eu gostava tanto, e que foi paixão a primeira vista quando me inscrevi em uma segunda-feira. Nada contra a academia. Continua excelente e apaixonante. É só que estou diferente. Vontade de fazer ballet apenas. E correr. Correr eu corro em casa, e se é para fazer apenas ballet, então vou para uma escola só disso. Sentei ontem na recepção e pedi para cancelarem meu plano. Já visitei a nova escola que tem uma sala enorme com piso de linóleo e um piano. Outro não que estou aprendendo a dizer é para a ansiedade, a insegurança e as expectativas. Escolhendo viver um dia de cada vez, e fazendo dele o melhor que eu posso. Bem calma. Eu calmo, você calmo. Todo mundo calmo. 

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

ZOÉ VALDÉS



Mais uma coisa sobre Cuba. Quando li "Trilogia Suja de Havana" do Pedro Juán Gutierrez fiquei apaixonada por Cuba, pela literatura cubana e por aquele careca de charuto na boca e cara de mau. Inclusive um dos meus planos diabólicos era perseguir o escritor pelas ruas de Havana. Não aconteceu. Ano passado, na FLIP, assisti a mesa em que Zoé Valdés participou com o tema literatura no exílio. Zoé é uma escritora cubana, exilada em Paris. Já achei a garota esperta de imediato. Se é para se exilar, nada de ir para Miami, a cidade mais cafona do mundo. Exile-se em Paris, claro! Comprei o livro dela e deixei procrastinando na prateleira. Quando estava arrumando a mala, pensando qual seria a literatura da viagem, puxei o exemplar de "O Todo Cotidiano".  Na verdade é uma edição de dois livros de Zoé: "O nada cotidiano" de 1995, que narra sua infância e adolescência na ilha; e outro mais recente, de 2010, "O tudo cotidiano", que fala de seu exílio em Paris. Achei que seria uma leitura adequada nesse momento de suposta transição da ilha, ler dois relatos de Cubas diferentes. Acho que eu não podia ter feito escolha melhor de literatura. Zoé é uma escritora punk! Se eu achava Pedro Juán pauleira, nada como ver alguém de saias falando sobre Cuba. Sei que sou suspeita para defender escritoras mulheres, mas acho que quanto mais dolorosa é uma realidade, mais pungente fica a narrativa feita por mãos femininas. Mulheres possuem outra maneira de viver a dor, talvez porque é tão inerente a nossa vida. A fragilidade do sexo, que pode nos tornar cruéis e inocentes ao mesmo tempo. Independente de qualquer sentimento que você possa ter pela ilha, vale a pena ler os livros. Os dois. Um seguido do outro. 


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CUBA: TODA, INTEIRA E DE UMA VEZ



Pois é. Primeiro choque de Cuba foi me deixar completamente incomunicável virtualmente. Nos últimos dias até consegui internet (mas só porque estávamos em um hotel 5 estrelas), mas ela era cara, lenta e usei só para trabalho. Os planos de postar um diário da viagem foram por água a baixo. Agora, de volta, estou amargando uma virose chata no sofá de casa e vou fazer um resumão. Vai ficar um post longo, mas serve para situar um pouco da experiência que tive na ilha, e dar umas dicas para quem pensa em viajar para lá em breve. Vamos lá!
Primeira coisa a se notar, Cuba fica longe! Eu achei que o trajeto fosse mais curto, ainda nosso vôo tinha conexão em Lima, então fizemos um triângulo na América Latina. Foram quase 12 até chegar em Cuba, e depois mais duas de ônibus até chegar em Varadero. Some a isso que agora é regra nas companhias aéreas servir pão. É um tal de lanchinho aqui, lanchinho ali. Meu humor estava no chão. Eu estava voando na jugular de qualquer um que chegasse na minha frente. Tanto que virou frase de ordem durante a viagem sempre que o stress se instalava: “Olha o mau humor!”. Não dá para viver sem humor. 

Cubanos -
Primeira coisa que a gente percebe logo de cara, os cubanos nos adoram! Eles amam o Brasil e só de dizer de onde somos, eles abrem um sorrisão e repetem prolongando o final: “Brasiiiiilllll!!!!”. Acho tão gostoso esse fascínio que o Brasil gera em todo mundo. Onde vamos, as pessoas amam os brasileiros (menos em Portugal). Muito bom ser um povo amado, sinônimo de alegria, de felicidade, de coisa boa. Depois de relaxarem um pouco e abrirem o sorrisão por sermos brasileiras, o comentário era obrigatoriamente a principal referência brasileira que eles têm: novelas! Agora estão assistindo “Insensato Coração” e a reprise de “Por Amor”. Todos comentam da novela e perguntam sobre a trama. A gente se divertia contando segredinhos que estavam por vir. Eles adoram! A novela passa em horário nobre, três vezes por semana. O governo intercala o horário com uma produção cubana, para alavancar a audiência da novela nacional. Outra unanimidade é Glória Pires. Eles amam Glória Pires. Homens, mulheres, velhos e crianças. Todos eles perguntam de Glória Pires, se conhecemos Glória Pires e como ela é. Acho que se algum dia ela for para Cuba, os próprios irmãos Castros estariam esperando-a no aeroporto. Usando camisas polo da Lacoste. Depois dessa introdução comum a todos os cubanos as reações se dividiam dependendo do gênero do nosso interlocutor. Se fosse mulher, conversávamos normalmente sobre as unhas, as melhorias da abertura, o emprego. Agora, se fossem homens, começava um assédio insuportável. No começo a gente sorria, e até se sentia lisonjeada, mas logo se aprende que em Cuba fazer contato visual é perigoso. O povo gruda em você e não larga. É sério. Então diziam que éramos lindas, que mulher brasileira era a mais bonita do mundo, estalavam os lábios e puxavam o ar fazendo barulho, chamavam de Miss Brasil, pediam em casamento. Acho que recebi uns 200 pedidos de casamento. Isso é para acabar com qualquer crise pós-35 que uma mulher solteira possa ter. (Embora nenhum dos pedidos veio acompanhado de uma aliança Tiffany’s com diamante princess cut de 1ct.) Se a essa altura a gente não desse logo um corte no rapaz, a coisa ficava mais complicada. Começavam a colocar a mão, puxar pelo ombro... e dava um pouco de medo. Demorei alguns dias para inventar um “novio” e usá-lo para escapar de todas as situações. Outra coisa que era comum a todos cubanos, homens e mulheres: todos fechavam a cara quando o assunto era política, Fidel ou o governo cubano. O sorriso sumia, os olhos se enchiam de medo e então a gente descobria que eram pessoas tristes, sofridas. Toda aquela alegria e simpatia faz parte do mis-en-scéne turístico. Coisa para inglês ver. 

Dinheiro -
Em Cuba há duas moedas, o peso cubano e o peso convertible, ou CUC. O CUC é a moeda usada pelos turistas e tem taxa de 1-1 US dólar. Embora a base de cálculo seja o dólar, a melhor moeda para troca em Cuba é o Euro. Se você for tentar trocar dólares pagam CUC 0,80 por US$1. É a vingança comunista. Trocar CUCs ou qualquer outra moeda pelo peso cubano só no mercado negro, e certamente você via perder muito no câmbio. De qualquer forma, todos os serviços, lojas, restaurantes, taxis vão te cobrar em CUCs. A gente não tem muito acesso aos estabelecimentos dos cubanos. Tentamos entrar em um mercado do governo e quase fomos enxotadas. Era um salão grande, com grãos a granel e produtos com cara de baixíssima qualidade. Os produtos de higiene eram estranhos, todos com embalagens genéricas. Também havia uma longa fila para comprar pão (1 por pessoa) e um bar com café e rum baratos. Me proibiram de tirar fotos e disseram que não podíamos consumir nada ali. Lá os cubanos podem comprar produtos baratos ou trocar seus talões de “ração”. Ninguém morre de fome, mas estão muito longe poderem dizer que comem de verdade. O regime garante que todos “se alimentem”. O básico para sobreviver. Todo mundo sabe que existe uma grande diferença entre viver e sobreviver. O comunismo garante só a segunda opção. As pessoas mais ligadas ao partido garantem empregos mais privilegiados em hotéis e restaurantes, onde se recebe “propina” dos turistas. Embora os taxis sejam caros, não é tão lucrativo quanto uma camareira de hotel. A gasolina é muito cara e, por mais que ganhem em CUC, mais de 75% fica com o governo como pagamento de impostos. Camareiras além de gorjeta, ganham presentes e produtos dos hóspedes. Nós deixamos shampoos, cremes, pasta de dentes, sabonete, perfumes. Ela quase nos levantou no colo de tanto que agradeceu. Além de péssima qualidade, os produtos de higiene cubanos são caros e com o pequeno orçamento acabam virando itens supérfluos no final do mês. O salário médio cubano varia de 350-450 pesos. Algo como 13-18 CUCs. Eu comprei um shampoo na lojinha do hotel que era esse preço. É isso mesmo. As pessoas passam o mês com R$35 e um talãozinho de ração. Vidão!

Carros - 
Uma das imagens mais icônicas do meu imaginário do que seria Cuba era a frota de carros. Sonhava com aquele país parado no tempo, cheio de latas velhas sem manutenção e Bel Airs rabo de peixe. Eles continuam lá. Junto com Ladas aos montes. Muitos passaram por tantas funilarias que viraram carrocerias disformes, e mal se consegue determinar o modelo original. Mas há muitos carros impecáveis, brilhando. Compondo um quadro irresistível com os prédios em ruínas ao fundo. A surpresa veio da quantidade de Peugeuts, Kias e Hiundais novinhos em folha que também se encontram por todos os lados. Faz bem pouco tempo que o governo abriu o comércio de carros novos, até por isso não esperava ver tantos na rua. Esse é só um dos sintomas do quanto Cuba está mudando, e em que velocidade. Não vai demorar muito e talvez os Bel Airs sejam reduzidos a apenas alguns para divertimento turístico estacionados na entrada do Bairrio Cino. Não demora muito também para descobrir que todo e qualquer carro na rua é um taxi em potencial. Existem cinco modalidades de taxis: 
Os de empresa: são amarelos e se parecem muito com os rádio-taxis de São Paulo. Podem ser facilmente identificados nas ruas e alguns deles até tem taxímetro. Taxímetro é artigo de luxo e encarecem bastante o trabalho para os taxistas que são hiper-taxados pelo governo. Quase nenhum taxi tem. 
Os regulamentados: são taxis particulares, com motoristas regulamentados pelo governo. eles possuem carteirinha, registro, luminoso no teto do carro e, obviamente, pagam também uma fortuna de impostos. 
Os ilegais: nessa categoria entra praticamente qualquer carro nas ruas de Havana. Em sua maioria Ladas velhos e caindo aos pedaços, com bancos de mola estourando na sua bunda e maçanetas que podem te passar tétano. 
Os lotações: esses são carros comuns que dificilmente pegam turistas. São os mais usados pelos cubanos. Fazem um trajeto fixo e vão pegando pessoas pelo meio do caminho. São baratos, cobram em pesos, ou o mínimo em CUCs. Pegamos um desses só uma vez porque um casal cubano foi muito gentil e nos colocou lá dentro, senão nunca teria parado para nós. Nos cobrou apenas 1CUC por um trajeto em que normalmente nos cobravam 5CUCs. 
Os coquitos: são as tradicionais lambretas com carroceria em formato de coco. Vale para fazer trajetos curtos, porque não são as coisas mais confortáveis do mundo e à noite, com a temperatura mais baixa, você passa frio. Cobram o mesmo tanto que os ilegais, mas possuem autorização para trabalhar. Me lembraram os tuk-tuks que eu pegava na Guatemala. 
Com exceção dos regulamentados, todos os outros vão sempre tentar te dar um golpe. A boa notícia é que você nunca vai saber se estão mesmo dando um golpe ou não. Com a falta de um taxímetro o preço é estabelecido basicamente pela sua cara. O motorista olha para a sua cara e imagina quanto acha que consegue arrancar de você. No geral nós tínhamos cara de 10CUCs, porque qualquer trajeto que tentávamos fazer custava isso. É preciso negociar e ter muita paciência. Nas calçadas nós éramos atacadas por taxistas e representante o tempo todo. Depois de alguns dias estava tão farta da cara de pau dos taxistas que parei de negociar. Entrava no carro, se me falassem um valor muito alto, eu simplesmente dizia “No, gracías.” E saía do carro para procurar um outro. Eles podem até ter um regime comunista, mas eu cresci no capitalismo, onde impera a lei da oferta e da procura. E lá, há muito mais oferta do que procura.

“No, gracías” -
Golpes. O tempo todo vai ter alguém tentando te dar algum tipo de golpe. De todos os tipos. Eles não vêem turistas como iguais. Às vezes tinha a impressão que o regime os deixou tão individualistas pela sobrevivência que eles não vêem ninguém como igual. Por isso mesmo vão sempre tentar se aproveitar, passar a perna, te explorar de alguma forma. Seja cobrando 10 vezes o valor do produto, seja inventando uma história para te ludibriar a comprar gato por lebre, um cubano nunca vai vir conversar com você sem algum interesse por trás. A melhor coisa é relaxar e saber que invariavelmente você vai cair em algum golpe na sua estadia. É melhor pensar assim para não ficar muito revoltado quando acontecer. Claro que existem os mais óbvios. Quando estávamos indo para a Fábrica de Charutos  fomos abordados por um rapaz na rua que, depois do ritual Brasiiiilll-novela-brasileiraslindas-casacomigo nos garantiu que a fábrica estava fechada naquele dia porque era um feriado nacional onde “somente aquele dia” o governo permitia que as cooperativas de funcionários da fábrica vendenssem charutos em suas casas pela metade do preço. Para um desavisado parece mesmo a sorte do século! Qual a possibilidade de você estar viajando bem no dia de tão maravilhoso feriado!? Claro que é uma história inventada para levar turistas mais ingênuos para casas particulares onde se vendem charutos (de baixíssima qualidade, diga-se de passagem) no mercado negro. Eu já estava avisada desse tipo de golpe, então continuei sorrindo, agradeci a dica e enfiei meu “novio” na jogada. “Ah, que pena que a gente não sabia disso antes, mas é que meu ‘novio’ já está nos aguardando lá na fábrica. Quem sabe da próxima vez!?”. E sai andando. Depois de dois dias eu já nem me dava ao trabalho de inventar muitas desculpas. Só repetia, sorrindo, “no, gracías”, sem parar de andar, até o indivíduo desistir. Vencer pelo cansaço. A Lau me perguntou se o assédio era como no Marrocos. É bem diferente. Nas suks eles também pulam no seu pescoço e é um perigo fazer contato visual, mas a diferença é que o marroquino é um negociador. É uma coisa cultura. Ele tem um produto e ele vai exaltar todas as qualidades para conseguir o melhor preço por ele. Ele não quer te oferecer um lenço por 100 dirhans, para você pagar e ir embora. Ele quer que você barganhe, negocie, argumente. Ele conhece o produto que tem em mãos e você vai saber quando chegou no limite do que ele realmente vale. Em Cuba não. O que eles querem é te extorquir, te fazer de trouxa. O prazer está em enganar, levar vantagem. Fazem os vendedores de canga e taxistas cariocas parecerem trombadinhas pés de chinelo.

Segurança -
Com tudo isso você pode pensar que Cuba é um lugar perigoso. Não é. Super seguro! E a sensação de segurança é presente. Mesmo à noite, mesmo sendo mulher andando sozinha. Pode-se sacar dinheiro em caixa eletrônico no meio da rua, andar com câmeras a tira-colo, exibir IPhone, relógios, jóias. Sem nenhuma preocupação de ser assaltada. Parece estranho em um lugar onde as pessoas vivem com tão pouco e são expostas constantemente a uma abundância que não podem ter acesso, mas essa segurança tem pouco a ver com o caráter do cubano e muito mais a ver com a polícia do regime. Cuba tem um policiamento ostensivo, violento e implacável. Faz a ROTA e o BOPE parecerem seminaristas. Nos hotéis existem casos de furtos de dinheiro. Objetos, jóias, eletrônicos são mais complicados de justificar a posse, mas algumas camareiras podem não resistir de ver exposto o valor muitas vezes de um ano de trabalho. Nada que usar o cofre do quarto não resolva. 

Comida -
É horrível! Comi muito mal na maior parte do tempo. Tudo tem gosto artificial, enlatado, de baixa qualidade. Quanto mais fresca a comida, mais cara, então é um festival de purê de batata em pó, molho de tomate aguado, massas rançosas e arroz azedo. O queijo tinha gosto de plástico. Comer era sempre uma aventura, e muito caro para o que se oferecia. Em tudo, a Cuba em CUC era bem cara. Encontramos algumas opções mais palatáveis depois de quebrar um pouco a cara, e nisso vimos um certo refresco de uma Cuba que está aos poucos renascendo e se abrindo para o mundo. Havana está começando a ter novos endereços, restaurantes, cafés. Em imóveis reformados, muito bem decorados, com equipe treinada e chefs treinados nas técnicas culinárias. Nesse lugares encontramos uma comida criole revisitada e saborosa. Outra surpresa foi almoçar no La Bodeguita del Medio. Nem tínhamos planejado isso, por ser um dos endereços mais turísticos de Havana, mas os turistas passam em frente, tomam um mojito, tiram fotos e vão embora. No salão dos fundos fica um restaurante vazio, farto e de ótimo preço. Comida caseira, muito bem feita. Comi arroz de mouros, batata doce, banana frita e salada (com folhas!!!). E o mojito deles é mesmo o melhor de Cuba! Os restaurantes do hotel também salvavam a pátria. Ficamos no Meliá Havana, que é maravilhoso. Mesmo quem não liga para estrelas, como os preços são mais ou menos os mesmos, vale a pena ficar nesse. Limpo, seguro, correto, equipe muito atenta e com internet (Yeay!!!). Você não vai encontrar isso em nenhum outro lugar de Cuba.

Varadero -
Varadero é aquilo. Uma coleção de resort cafona, um atrás do outro. Coisa de chorar de rir de tão ridículo! No nosso tinha até show de cabaré todas as noites, daqueles bem decadentes, de inspirar nossos mais profundos instintos de vergonha alheia. A praia é incrível! Uma faixa sem fim de areia branca, um mar calmo e delicioso de água limpa e cristalina. Tudo aquilo que você espera quando junta as palavras “férias” e “Caribe” em uma frase. Mas como eu não sou muito rata de praia (por mais que quisesse, meu bronze vai de rosa à roxo sem escalas), passamos um dia só lagartixando na praia e provando todos os tipos de drinks. Nos outros dias fui buscar tours e passeios para fazer. Fui mergulhar na Baía de Cochinos (a Baía dos Porcos, cenário de episódios da Revolução) em um paredão de corais que dizem chegar à 200m. Não sei. Fui até 30m só. Maravilhoso! Vi peixe escorpião (que era louca para ver) e nenhum tubarão. Agora que não tem mais cubanos em boias no caminho para Miami acho que eles migraram para outros lugares. Queimei minha perna em alguns corais de fogo. Vi uma embarcação de pequeno porte naufragada bem raso. Uns 10m apenas. Visibilidade excelente, alcançando 30-40m, água a 29oC. Perfeito! No outro dia fizemos um safari de 4x4. Pegamos um jeep e dirigimos pelas cidades vizinhas, fizemos snorkling, mergulhamos em um lago de água doce dentro de uma caverna e almoçamos em uma fazenda. Pude satisfazer todo meu instinto Felícia e passei a tarde brincando com galinhas, gatos, cachorros, papagaios, burros, touros, cabras e bodes. A melhor parte de Varadero é poder explorar um pouco do interior de Cuba em passeios. Me deu vontade de voltar um dia, alugar um carro e viajar entre as cidades até chegar a Guantanamo. 

Arte -
Dizem que Hitler era um leitor voraz, mas que não assimilava nada do que lia. Seja para exibir na prateleira ou para auto-afirmar seus frágeis egos, todo regime totalitário acaba investindo em algumas modalidades artísticas para justificar suas atrocidades. A arte de Cuba é do tamanho da falta de liberdade. Se você tiver que ver apenas um museu em toda sua viagem a Cuba, nem pestaneje. Vá direto ao Museu de Belas Artes - Coleção Cubana. In-crí-vel!!! Reserve uma tarde inteira para ele. Você vai se arrepender se ficar sem tempo. Distribuído cronológicamente, a coleção do museu é abundante, rica, prolixa, enlouquecedora. Eu mal conseguia dar conta de tantas influências, tantas novidades, tantas coisas lindas e maravilhosas todas de uma vez. Poderia ficar aqui falando sobre os artistas cubanos por horas, mas dois me tiraram o fôlego. René Portocarrero e Wifredo Lam. Me parecem esses tipos de artistas que nunca se esgotam na gente. Então, depois dessa avalanche de frescor, angústias, vísceras e úteros, a gente descobre outra coisa que é um pecado no comunismo. A falta de uma lojinha de museu que nos abasteça de livros, catálogos, reproduções que possam ficar reverberando em nossas casas as maravilhas. Uma pena. Mas se o museu não está acessível como souvenir, as ruelinhas de Havana Vieja está carregada de pequenos studios e ateliers. Alguns bem turísticos, mas se enfiando entre um e outro, pode-se achar coisas lindas, interessantes, frescas, feitas por artistas que pintam pelo prato de comida, assim como Picasso em Paris. Dá para levar para casa algumas coisas muito boas por 100-300 CUCs. Comprei dois, de duas pintoras. Muito femininos. 
Outro motivo de orgulho cubano (e que eu não ia perder por NADA nesse mundo) é o Ballet Nacional de Cuba. A famosa cia dirigida por Alícia Alonso. Fui. Chorei. Me emocionei. Foi o ponto alto de toda minha viagem. Estavam apresentando um espetáculo em homenagem à Feira do Livro que acontecia na cidade. Uma sequência de peças. "La siesta del Fauno", primeira coreografia de Nijinski, obviamente perturbadora e genial. Algumas coreografias de Alicia inspiradas em obras de Portocarrero e obras de compositores cubanos e o ponto alto (que encerrou o primeiro ato da noite): o pas de deux do terceiro ato de "O Lago dos Cisnes". O desbunde de coreografia com Viengsay Valdés, primeira bailarina do Ballet Nacional de Cuba fazendo Odile e realizando impecavelmente as 32 piruetas... De tirar o fôlego. Se fosse só por essa peça já teria valido tudo. A viagem, o investimento, tudo. Saí de lá com vontade de virar anoréxica e me dedicar somente ao ballet. Uma pena que já é tarde...

Orgulhos Nacionais - 
Pode ser coisa de turista, mas existem algumas coisas que não se pode sair de um país sem fazer. Em Cuba elas são bem óbvias: rum, tabaco, música. Havana Club é o rum oficial de todos os lugares com um pouco mais de estrutura. É usado nos drinks de Hemingway (o mojito da Bodeguita e o daiquiri do Floridita, ambos ótimos!), e em todos os drinks de todos os bares e hotéis. Todavia, basta uma conversa mais profunda com alguém que entende para descobrir que o melhor rum de Cuba é o Santiago. Trouxe uma garrafa 15 anos. Não bebo rum, e quase não tenho bebido, mas se é para ver fotos da viagem e falar sobre Cuba com os amigos, que seja com o melhor rum. O charuto é orgulho nacional. Talvez o souvenir mais comprado pro turistas na ilha. Os únicos lugares confiáveis para comprar são casas de tabaco, lojas de hotéis e na fábrica. O resto nem vale tentar. São caros. Beeeem caros! Doce ilusão pensar que seriam baratos na fonte. Uma caixinha com 10 Cohibas saem facilmente por 200 CUCs. Os preços variam de acordo com a qualidade e o calibre. Eu aprendi a fumar charutos com meu tio há uns 15 anos atrás. Comprei alguns Cohibas e guardei para ocasiões especiais.
A música talvez tenha sido a única decepção da viagem. Eu esperava ver mais música, mais coisas atuais, verdadeiras. É bem difícil encontrar os endereços onde a música está acontecendo agora sem ter algum contato local. Todo mundo jogava a gente para os endereços turísticos onde as pessoas se contentam com um pastiche de Buena Vista Social Club ou com Gangnam Style em ritmo de salsa. Gustavo Lima também é uma unanimidade na noite (embora eu acredite que é só porque os Castros acreditam que a música é um hino revolucionário à Che: “
Tchê tcherere tchê tchê,
Tcherere Che Che Che, que hoje vai rolar”...). Tudo isso regado a mulheres vestidas como prostitutas (bom, eram prostitutas!) e danças muito sexualizadas. Nossa melhor noite foi no La Zorra y El Cuervo. Uma tradicional casa de jazz no Vedado, que fica em um porão apertado por onde se entra através de uma cabine telefônica inglesa. No palco uma pessoal jovem, músicos muito talentosos e jam rolando solta. É uma casa onde Chucho Valdés tocava e onde Roberto Fonseca toca todas às quintas. Lá também vendem CDs e consegui garimpar algumas novidades, e peguei sugestões com o DJ do que ele achava de melhor da nova safra de jazz cubano. É. Nem tudo está perdido. 

Havana -
Havana é a jóia de Cuba, e a gente não precisa de mais do que alguns minutos para entender por que. Linda! Mesmo decadente, deteriorada. Havana é linda. A gente consegue enxergar a cidade maravilhosa embaixo do abandono e falta de cuidados. As grandes avenidas e plazas. O Malecón interminável. Quando o tempo virou e vimos o mar revolto estourando ondas no muro daquelas calçadas, entendi porque todo escritor cubano coloca o Malecón em algum momento do livro. Ele é a passarela de Havana, e eu também o colocaria como protagonista se escrevesse um livro ali. A arquitetura é um deleite. Havana Vieja exibe ruelas e prédios que não deixam esquecer a colonização espanhola, Centro Havana com suas fachadas neo-clássicas caindo aos pedaços e prédinhos art-déco. O Vedado foi de longe meu bairro favorito. Cheio de gente jovem, paladares, lojinhas e casas de jazz. Nosso hotel ficava em Miramar, um pouco afastado do centro (o que significa 15 minutos de ônibus). Miramar é a Vila Nova Conceição de Havana. Lugar de alto padrão, com mansões gigantescas, embaixadas, jardins. Foi nesse bairro que Che foi morar depois da revolução. Ele e todos os altos cargos do partido. Não são bobos nem nada. Os casarões foram todos tomados pelos líderes do regime. Até hoje são. A melhor coisa para se fazer é se perder entre as ruas de Centro Havana e Havana Vieja. Eu passaria mais uma semana ali, tirando fotos, tomando mojitos e daiquiris. Fumando charutos. Entrando nas dezenas de museus por metro quadrado, livrarias, casas de artesanato. Descobrindo as lojas centenárias deixadas intactas. Havana é o que redime Cuba. Parece que há uma cidade cosmopolita, vibrante, rica, adormecida. Esperando ser libertada. Esperando que os tempos negros passem e ela possa se reerguer e tomar seu posto como uma das cidades mais interessantes do mundo. Aos poucos está sendo restaurada. É bom para os cubanos. É bom para a humanidade. Esse tempo vai passar. Os Castros não vão viver para sempre e, quem sabe, ganhamos Havana de volta. Quem sabe.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

CUBA VAI LANÇAR UM FOGUETE...


Já falei aqui que uma das minhas ressoluções de ano novo foi virar uma “mulher de Chico”, dessas que só dizem sim. Estou dizendo “sim” para qualquer proposta que me façam, e está sendo muito divertido. Além de me dispensar dos questionamentos típicos da pessoa controladora que eu sou, dizer “sim” tem um quê de libertador. Diga “sim”, Adriana, e está decidido. Outra resolução de ano novo foi o de realizar alguns sonhos. Ano passado eu viajei pra caramba. Foram 7 países diferentes, sendo que 4 deles eram inéditos. Além dessas, 3 viagens nacionais. De todas essas viagens, só Fernando de Noronha estava na minha lista de lugares top para conhecer. Não que eu não quisesse conhecer os outros lugares, mas todo mundo tem aqueles lugares de sonho. Aquela experiência que a gente jura que vai fazer antes de morrer. Então se eu estou colocando tanta energia em colecionar figurinhas no passaporte, porque não começar exatamente por aqueles lugares que sempre sonhei em conhecer!? Esse vai ser o ano de realizar esses sonhos. Estão na lista Macchu Picchu, Chapada Diamantina e a Ásia. Toda a Ásia. Tailândia, Indonésia, Vietnam, Cambodja... Sinto frio na barriga só de pensar em Ásia. Sinto uma atração muito forte pelo oriente. Existe algo na minha alma que mora lá. Mas a Ásia é uma viagem mais elaborada. Algo que precisa de planejamento, tempo e, se tudo der certo, vai coroar esse ano. Enquanto isso tem um feriadinho começando amanhã. Não dá para passar 36 horas em um vôo para conhecer o Laos, mas dá para realizar um outro sonho antes que não dê mais tempo: conhecer Cuba. Pois é. Passagem comprada, visto emitido. Embarco amanhã cedinho para uma semana longe da folia, mas conhecendo de perto a Cuba de Fidel. A Cuba de Pedro Juan Gutierrez. A Cuba do Mamute Siberiano. Dessa vez não vou de mochila. Lalau e eu vamos juntas, com um desses pacotes que tem tudo o que a gente precisa. Resort all inclusive em Varadero, hotel 5 estrelas em Havana. Ganhamos até uma necessaire bacanuda da agência de viagens. Não vai ser daquelas aventuras que estou acostumada escrever aqui. Sem os imprevistos de carregar 15Kg de mochila e descobrir o caminho para sair do aeroporto. Vou com uma mala de verdade, dessas que tem rodinhas, para conseguir carregar o equipamento de mergulho. Sim. Há planos de mergulhar em Varadero. E tirar alguns milhares de fotos em Havana. Pegar o Malecon com a luz do fim de tarde. Ouvir bolero. Assistir as negras enrolando charutos em suas coxas fortes. Tomar mojitos no bar do Hemingway. - Aliás, dúvida: é muito clichê ler Hemingway viajando para Cuba!? - Amanhã cedinho embarco para realizar o primeiro sonho de 2013. Prometo contar tudo em postagens diárias, como sempre faço quando estou viajando. Podem aguardar. Nesse carnaval vamos ver Cuba lançar!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

50 TONS DE GANGNAM STYLE

De tempos em tempos temos uma epidemia musical. Aquele tipo de música que todo mundo aprende a dançar, define gerações, e que depois de anos vamos rir de lembrar a coreografia com os amigos. Não há dúvida de que "Gangnam Style" é a música da nossa época. A "Macarena" pós-fim do mundo. Uma síntese do que é o nosso tempo. A música é uma sátira aos playboys sul coreanos. Pega muito mal ser playboy hoje. Foi-se o tempo da ostentação, da diferença social óbvia. A tendência é cada vez mais colocar o pé no chão. O luxo está tendo que se reinventar, porque virou motivo de piada. Além disso, Psy não é um produto estadunidense, como foi a dominação cultural do século passado. Ele é produto de uma globalização que quebra os estereótipos entre ocidente e oriente. Ele é sexy, quebrando todas as referências óbvias de sexualidade, e é cool porque a novidade é que o mundo hoje nos chega mais aberto, mais cheio de informações, referências. E também porque o mundo hoje cabe em uma url, a gente pode desmembrar, reinventar, clonar, repaginar, reinventar. Essa semana fiquei fascinada encontrando versões do sucesso pop. Que maravilha é isso, não!? Viver em uma época em que podemos ver tantos desdobramentos de um tema, sem tirar os nossos pijamas, do sofá de casa. Aquilo que poderia ser um pastiche de uma cultura cada vez mais plástica, mais medíocre, digna dos piores programas de auditório do mundo todo; renasce com humor, criatividade e nos ajuda a lembrar que nossos julgamentos são sempre carregados de preconceitos. O humor e a beleza vem de olhar uma mesma coisa por ângulos diferentes. Então aqui, minha seleção de Gangnam Style, em tons diferentes. 

Essa é uma das minhas favoritas: O dissidente chinês Ai Weiwei fazendo uma paródia-protesto dançando a coreografia dos cavalinhos. 




Outra que caí de amores essa semana. Versão cover acústica por Jayesslee. Linda!
 




Versão bossa nova.




No violão.




O grupo Wonderful Pistachios no meio de New Orleans.




Várias universidades fizeram flash mobs. É só procurar na rede. Essa é na Cornell.




E o viral irresistível da semana. A gente entende a pequena Amaya. É um mundo tão louco, a melhor coisa é acordar e se chacoalhar. ;-)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Eu nunca abro os stats do blog. Hoje resolvi dar uma olhada e é legal porque dá pra ver tudo sobre o visitante. De onde é, que tipo de sistema operacional usa, como chegou no site, quanto tempo ficou lendo as postagens. Tem um monte de gente de Portugal que anda lendo esse blog. Legal essa coisa da língua ser a mesma e a gente poder se entender e se ler. 
Daí vou descendo o relatório de acessos e começo a ver uma, duas, três... algumas entradas dos EUA. Palo Alto. E o sistema operacional era "facebook"... Mark! Você tá lendo meu blog!!! \o/

sábado, 2 de fevereiro de 2013

OS INSTINTOS "MULHERZINHA" PARA TRABALHOS MANUAIS



Eu costumo dizer que dentro de mim mora uma Stepford Wife - referência às esposas robôs dos anos 50 no livro de Ira Lewin. Eu queria ter uma cozinha grande, com uma bancada de granito para espalhar massa de pão. Chegar de tarde e fazer um bolo formigueiro, deixar o aroma invadir a casa e passar um café fresquinho para acompanhar. A vida deveria ter bolo caseiro todos os dias. Acordei hoje com uma vontade danada de assar um bolo. A última vez que fiz isso foi um desastre. Consegui fazer a massa explodir, grudou no meu cabelo, no chão. Dois meses depois eu e a Jô ainda encontrávamos vestígios da tentativa em partes do armário. E olha que era de caixinha! Algum tempo atrás resolvi fazer cupcakes. Comprei a forma, um livro de receitas da Martha Stewart. Fiz até a lista de compras. Nunca passou disso. Tenho várias desculpas. A cozinha é pequena, não achei açúcar de confeiteiro. Verdade que nem procurei, mas não estava lá, na prateleira do Pão de Açúcar. Então não achei. Verdade também que a cozinha é pequena. Bem pequena. E eu não tenho uma bancada de granito para espalhar os ingredientes em potinhos e brincar de Ana Maria Braga. Quem nunca brincou de Ana Maria Braga!? Preparar todos os ingredientes bonitinhos em potinhos, e ir seguindo a receita como quem dá aula de culinária na TV!? Às vezes acho que deveria fazer mais coisas manuais. Decorar vasos de flores, pintar coisinhas de decoração para colocar na casa. Fazer potpourri. Arrumar um álbum de fotografias. Ser mais caprichosa. Talvez seja coisa de menina isso, né!? Quem sabe o dia que eu comprar o apartamento. Quem sabe quando abrir a cozinha e reformar a sala eu coloque uma bancada. Uma mini-bancada. Então eu fecho o segundo quarto, faço uma estante só de apetrechos. Com fitas, laços, lantejoulas, cola quente. Faça uma estante para os meus gatos colecionáveis. E um catálogo para os meus CDs. Quem sabe! Por enquanto a única coisa manual que eu faço é escrever. Sai bonitinho. Não é o tipo de coisa que se vê de relance, batendo o olho. Mas se a pessoa para e senta para ler, acha bonitinho. Quem sabe eu não faça aquele bolo com café para acompanhar!? Quem sabe!?