sábado, 21 de fevereiro de 2015

FECHANDO SAN ANDRES

Eu queria ter escrito antes, mas fiquei tão envolvida com San Andres que a última coisa que pensei foi em atualizar o blog. Depois cheguei em Cartagena onde encontrei uma amiga, e é mais difícil conseguir ter tempo para ficar sozinha e escrever quando se está viajando com alguém. Senti falta. 


A entrada da Pousada Playa Tranquilo, de Mo e Ray, e a vista feia com a qual me acostumei.


Mas antes de falar sobre a linda Cartagena de Índias, vou fechar San Andres. Minha ideia a princípio era mergulhar full-time no meu tempo na ilha. Não foi full-time, mas me deu a chance de explorar outras coisas e ampliar minha percepção. Uma coisa que não considerei foi a condição do mar, que esteve bem agitado todos os dias que passei em San Andres. Por causa dele tivemos um dia de mergulho perdido, porque nenhuma embarcação saiu. Até os tours para Johnny Cay (uma ilhota que fica na ponta norte da ilha, e é mega turística) foram cancelados. Com o mar revolto também ficou impossível fazer mergulho noturno. A lei na ilha não permite pequenas embarcações circulando à noite, então os mergulhos noturnos precisam sair pela costa. Com o mar agitado, ninguém era louco de pular com equipamento na água, e ser jogado contra as pedras em seguida. Sendo assim, tive apenas os mergulhos diurnos, mas que fizeram muito bem o seu papel. 

Entre cardumes de peixe em frenesi alimentar, estátua de Posseidon no fundo do mar, e um super mergulho profundo em um paredão - com passeio entre fendas nas pedras e tudo - os mergulhos que fiz foram perfeitos. Muita vida, água o tempo todo a 27º e visibilidade a perder de vista sempre. São condições que deixam qualquer mergulho confortável. Fiz muitos vídeos dos mergulhos e passeando pela ilha. Uma das propostas para 2015 é exatamente organizar e editar esses vídeos. Adoro filmar embaixo d’água, e estou até criando um gosto por falar com a câmera. A GoPro é o brinquedinho mais divertido que adquiri no ano passado. Estou passando por uma fase de amor completo pela mini-câmera. 

Mas entre um mergulho e outro, eu aproveitei cada segundo na ilha. A bicicleta motorizada foi a melhor ideia que aceitei. Pedalei horrores pela ilha toda. Pendurava a máquina fotográfica no pescoço e saía pela cidade com meu chapéu na cabeça. Pedalar pela ilha foi algo que me deixou tão, mas tão feliz! Sabe quando você pensa em se conter, mas depois se dá conta que não tem motivo para deixar de sorrir e se entrega ao sorriso rasgado no rosto? Eu estava exatamente assim. 

Ao final do 4º dia minhas pernas estavam exaustas. Começou a refletir o esforço de pedalar uns 30Km por dia. Ao final do 4º dia também o motor da bike morreu. Ainda que eu estivesse mais pedalando do que usando a função “mobilete” da bike, ficar sem o motor pesou. Cansada, embaixo de um Sol fenomenal, usar o motor em trechos de subida ou de muita brisa, era uma força danada. Sem minha bike-mobilete, tive de me render aos carrinhos de golfe. Até são divertidos quando se pega o jeito. Fiz vários filmes mostrando a ilha, conversando sobre o lugar em que estava. 

Outra coisa especial foi a companhia de Ray e Mo. Ray foi minha BFF em San Andres. Passamos tardes conversando e tomando cocktails na areia da praia, rolamos de rir pela carretera com o carrinho de golfe, e criamos o hábito de acordar pela manhã e procurar uma a outra pra combinarmos algo. 

A melhor coisa de não criar expectativas é que fica mais fácil aceitar tudo o que a vida mandar como novidade. Por isso acabei criando uma relação especial com San Andres, e uma experiência infinitamente melhor do que se tivesse tentado controlar cada segundo da minha viagem. 


Como quando a vida surpreende, ela é a que mais surpreende, encerrei meus dias em San Andres com um jantar delicioso e extravagante, com direito a pratos de frutos do mar,  cava rosé e raias e tubarões nadando na areia embaixo da varanda onde estávamos. Ganhei até carona até o aeroporto! Essas coisas que amigos fazem por amigos. Saí de San Andres tão satisfeita, tão realizada. Já acostumada. Com uma certeza bem clara: esse é um lugar que eu vou voltar. 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

50 TONS DE VERDE


San Andres não cansa de me surpreender. Pedalei a ilha inteira e, mesmo a bike que aluguei sendo motorizada, tenho usado o pedal mesmo. A bike motorizada é um barato. Quando pego um trecho com muito vento, e fica difícil pedalar, é só mudar uma chave e a bike se transforma em uma mobilete. Bem divertido. Em três horas pedalando, rodei a ilha inteira. Tem uma estrada que faz a volta completa na ilha. Pedalei só para ver onde ia dar. As paisagens são inacreditáveis. Um verdadeiro clichê de tudo o que se imagina de Caribe, ilhas paradisíacas e lugares exóticos com areia branca e mar transparente. 

O mar, aliás, é uma dessas coisas que a gente demora para entender. Ele se desdobra em dezenas de tons diferentes de azul e verde. Não é brincadeira. Parece pintado à mão. Por isso o mergulho é algo ainda mais especial. Água quente, tão quente que tenho mergulhado de biquini apenas. Muita vida. Visibilidade à perder de vista. Só o vento que atrapalha. Mar batido, a gente enjoa muito no barco. Do jeito que estava hoje não dava nem para tentar entrar pela praia. E mesmo na embarcação, uma correnteza forte na superfície, exigia muita atenção para entrar e sair da água. Ainda assim, um pequeno detalhe para os dois mergulhos maravilhosos que fiz hoje cedo. Cardumes lindos, uma tartaruga que dava até para pegar no colo de tão pacífica (mas não pode! Colocar a mão, ainda mais em tartaruga que é super delicada, destrói o ambiente e pode matar os bichinhos.), e vi a maior moréia da minha vida. Uma verde enorme, fora da toca, que passou nadando entre a gente como se não estivesse nem aí para a nossa presença. Tirei fotos como uma louca com a GoPro, mas estava no contraluz e ficaram um pouco avermelhadas por causa do filtro. Ainda assim, dá para ver aquela serpente gigante entre os corais. Linda! 

Tenho feito os mergulhos com Mo, o dono da pousada, e a namorada dele, Rain. Apesar do nome super hippie, Rain até que é normal. Uma americana que estava passando pela ilha no ano passado, se apaixonou e mudou a vida por causa disso. Ela tem minha idade, só que é a cara da Elle Macpherson. Acabamos ficando amigas, e depois do mergulho e da siesta, fomos os três tomar uns “coco locos”  no centro. (Coco Loco é o drink típico por aqui. Consiste em basicamente colocar tudo o que tiver na prateleira de bebidas dentro de um liquidificador, acrescentar leite de coco, lícor de cereja e bater. Delicioso e mortal!). Sentamos em um bar na praia e ficamos assistindo um dos 3 casamentos que estavam montados na areia. Cena de cinema, aquelas cadeiras, a tenda e o mar coalhado de verde ao fundo. Chorei como uma boba!

Para fechar a noite, Rain me arrastou para um girls night out de Valentine’s Day. Mo estava trabalhando e ela ia sair com algumas amigas para um cinema e drinks. A ilha é bem calma, sem grande agitos. Existem duas baladas, que ficam na mesma rua, uma de frente para a outra. Todo o agito, mesmo em alta temporada, parece o de uma quinta-feira  em cidade de interior paulista. Mesmo eu não sendo uma entusiasta de baladas e DJs, gosto da ideia de cinema, drinks e girls night out. 

Mais uma surpresa? A ilha conta com dois cinemas! O que fomos ficava no 8º andar de um hotel. Sério. E uma garçonete passou o filme inteiro trazendo nachos, sanduiches e hamburgueres para as pessoas na plateia, como se estivéssmos em um drive-in. Lá pelas tantas os lugares estavam lotados, e a atendente entrou com algumas cadeiras de plástico e colocou na frente da tela para acomodar os retardatários. Muito barulho, muita conversa e interatividade com o que se passava na tela. 

O filme? Bem, o que se pode ver para um girls night out em uma ilha no Caribe? “50 Tons de Cinza” em espanhol. Não tinha lido o livro, mas pelo enredo fiquei surpresa mais uma vez. Não apenas pelo livro ter feito tanto sucesso, mas por terem resolvido fazer um filme dessa história. Em uma palavra? Vanilla. 

Com a gente, um grupo de 6 mulheres locais, cada uma de um estilo diferente da outra. A melhor de todas, e aniversariante da noite, era Janice. Uma colombiana grande. Não gorda - pelo contrário, ela tinha um super corpo - mas grande. Bem perua. Estava com um aplique com mechas platinadas no cabelo, usava um top bufante, com a barriga a mostra, os botões de cima abertos e um shorts todo de paetês em cima de saltos meia-pata azul cerúlio. Altíssimos. Exageradamente bronzeada e maquiada. Devia estar fazendo uns 48-50 anos. Não perguntei. Se a suspeita é dessa idade, nunca é uma boa ideia perguntar. 

Depois do filme, a caminho do clube no carro de Janice, ela falava com um inglês carregado sobre o filme que vimos. 
“Como é que alguém diz que esse é o melhor filme já feito na história? Esse não é o melhor filme já feito na história. O melhor filme é ‘Frozen’. Todo mundo sabe disso. Ou ‘Encontrando Nemo’...”
Rain corrigiu: “Procurando Nemo”
“...Isso! “Procurando Nemo”. Esse é um bom filme. Esse é um filme bem feito. Eu gosto do mar, então gostei do Nemo. Agora esse filme aí...”

Então entendi um pouco mais sobre essa ilha. Um lugar onde as pessoas estão vivendo. Sem drama, sem loucuras. Apenas construindo suas vidas da melhor forma que podem. Se relacionam com pessoas que não são iguais a elas, porque não estão procurando uma segregação em nichos, grupos, aptdições. Estão pouco se lixando para os parâmetros adequados de moda, para as opiniões da crítica especializada em cinema, para as pequenas ambições. 


Acho que quando você tem um mar com tantos tons de verde todos os dias na sua frente, não faz sentido mesmo seguir o senso comum de um universo que cada vez mais se apoia em tons de cinza. Sabe de uma coisa? Eu também gosto de mar, e pensando bem... Nemo é de fato um grande filme. ;-)

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

UM CARNAVAL NÃO PLANEJADO


Há alguns meses eu fui para o Peru fazer uma viagem que era um dos sonhos da minha vida. Foi muito planejada. Daquelas viagens que o guia fica até desfolhado de tanto ser manuseado. Escrevi aqui sobre como arrumar a mochila, organizar reservas. Tudo perfeito, e que acabou sendo uma das melhores da minha vida. Como boa virginiana, sou uma entusiasta da organização. 

Agora no Carnaval resolvi fazer algo diferente. Eu moro no meio da concentração de metade dos blocos de rua de São Paulo. Três anos atrás minha casa era um oásis de paz e tranquilidade no feriado. Usava o Carnaval para assistir séries no sofá, gabaritar os filmes do Oscar no cinema. Era uma época em que Carnaval era sinônimo de cidade vazia, sossego e silêncio. Isso mudou. Com o resgate do carnaval de rua em SP, ficou impossível ficar na cidade, morando onde eu moro. As ruas travam, o barulho é infernal e non-stop, e episódios de vandalismo acontecem em toda vizinhança. A solução tem sido fazer as malas e sumir.

Como se isso fosse um castigo para mim!

Eu queria uma viagem que cumprisse dois propósitos: fosse um destino de mergulho e me desse uma nova figurinha na coleção de carimbos do passaporte. Claro, que também coubesse no meu bolso!

Depois de pesquisar pacotes, conversar com amigos, resolvi que iria para San Andres. Vi um pacote legal de mergulho para ilha colombiana que tem caído cada dia mais no gosto dos brasileiros. Mas o pacote fazia apenas San Andres. Como era minha primeira vez na Colombia, não queria deixar de conhecer Cartagena de las Indias também. A cidade histórica onde Gabo morava e inspirou tantos cenários de seu realismo fantástico. Negociei, conversei. Decidi que ia fazer a viagem self-tailored. Convidei alguns amigos para embarcar no programa, minha dupla de Bonaire no ano passado... Então o dólar disparou. 

Os amigos desistiram da viagem, a dupla desapareceu, o preço da passagem dobrou, e eu já estava fazendo estoque de água e comida em casa para sobreviver a um carnaval ilhada no meu apartamento, com risco de ser atacada pelo elenco de Walking Dead. Quando minha teimosia habitual falou: “Vai, Adriana! Vai de qualquer jeito!”. Liguei para minha agente de viagens que conseguiu uma passagem com o preço antigo saindo por Viracopos, algumas escalas e emiti na hora. 

Depois disso resolvi que ia deixar a viagem acontecer como ela quisesse. Não comprei um guia da Colômbia, não li nada a respeito dos destinos. Reservei um hotel que achei simpático longe do agito do centro da ilha, outro em Cartagena, peguei meu cartão de crédito, meu passaporte, joguei algumas roupas dentro da mala com o equipamento e entrei no avião sem nenhuma expectativa do que pudesse acontecer. 

Acredito que a vida é generosa quando confiamos nela. Ela nos abre oportunidades e fica feliz em poder nos surpreender. Logo de cara minha experiência tem sido fantástica. Cheguei ontem em San Andres com minha grande mala de equipamentos de mergulho, e descobri que o hotel que reservei tem uma loja de mergulho integrada. Ou seja: as operações de mergulho vão sair do meu quintal! Super! Outra surpresa? Um dos melhores pontos de mergulho da ilha, com um naufrágio, fica do outro lado da rua. Vou sair equipada do quarto e ir andando para o mar. Super 2!

O hotel é uma grande casa, com um jardim gigantesco. Uma piscina nos fundos cercada por um bungalô com redes e imagens de Buda. Os chuveiros ficam ao lado da casa, ao ar livre, em uma construção sem teto, cheia de pedras. Meu quarto tem uma grande porta de vidro que dá para uma varanda, onde estou escrevendo agora e olhando o mar. 

Aluguei uma bicicleta ontem. A ilha toda pode ser explorada pedalando. Os turistas alugam carrinhos de golfe que se vê para todos os lados. Eu preferi a ideia de pedalar acenando para os locais em suas casas, sentindo o vento dobrar os coqueiros e ouvindo as ondas quebrando nas pedras ao meu lado. Ontem, no final da tarde, estava pedalando até um restaurante cerca de 2Km daqui e o Sol se punha na baía a minha frente. Era como estar em um filme. Como aquelas cenas em que a personagem resolve largar tudo e buscar uma vida simples e rústica em algum lugar exótico, e de repente, a vida dá um jeito de lhe maravilhar. Um daqueles raros momentos em que a gente se sente tão viva que tudo faz sentido. 

Nem sempre viagens são feitas desses momentos de comunhão e perfeição. Não é o tempo todo que as grandes experiências acontecem. Mas é só viajando, é só quando saímos da zona de conforto, que o extraordinário acontece. Eu viajo para me maravilhar. É uma caça ao tesouro. Saio para a vida disponível para o que ela pode oferecer. 


E nada disso foi planejado. :-)


O Por do Sol que eu ganhei de presente na minha chegada à San Andres.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Viram a história da garota que foi demitida pelo twitter?
Ela escreveu "Amanhã eu começo essa m... de emprego". O futuro chefe viu e respondeu: "Não. Não começa. Eu te demito. Boa sorte em sua vida sem dinheiro e sem emprego."

Um episódio típico dessa geração que se acha superior a tudo e a todos. Claro, vender pizza em algum subúrbio dos EUA não deve ser o emprego dos sonhos, mas acho que se você está batalhando, se você aplicou para a vaga, aceitou o emprego, o mínimo que pode fazer é o seu melhor seja no que for. Fazer as coisas com amor, dedicação, mesmo que não seja seu emprego dos sonhos. 

Dignidade não tem nada a ver com o cargo que se ocupa ou o quanto dinheiro se ganha no final do mês. Dignidade é assumir sua vida e seu papel no mundo com caráter e respeito. Não vejo nada de caráter e respeito em denigrir um trabalho que se dispõe a fazer, e reclamar publicamente de uma oportunidade que lhe foi dada.

Ainda assim, resolvi checar o twitter da moça, pura curiosidade sociológica. A primeira coisa que me deparo foi um comentário de algum novo seguidor: "Você está famosa no México. Parabéns!"
Ok, vou repetir: "Famosa"! "Parabéns"!

Um pouco mais abaixo um outro comentário defendia a garota: "Eles não podiam fazer isso com você. Isso é liberdade de expressão." Nem sei por onde começar...

Estamos vivendo uma época globalizada de falência de valores. Não importa de que forma, o importante é ficar "famosa". É uma conquista. Alavancar em milhares de seguidores na mídia social, nem que seja por um motivo vergonhoso, sem caráter. Liberdade de expressão virou sinônimo de impunidade completa para se fazer o que quiser, falar o que quiser, doa a quem doer.

A garota já está com comportamento de diva. Agradecendo aos novos fãs pelo apoio, dizendo que ama todos. Não vai demorar muito para ter seus 15' de fama. Quem sabe ser contratada por alguma pizzaria que vai vender a imagem da pior garçonete do mundo. E pessoas vão fazer fila para serem mal tratadas e xingadas em suas refeições. Para serem servidas com desleixo e mal humor por alguém que acha bonito passar seus dias dando o pior de si.

E assim a gente nivela a vida por baixo...


OBS.: Em tempo, liberdade de expressão não tem nada a ver com sair xingando tudo e todos em público. Recentemente uma pessoa no Brasil foi condenada a pagar indenização a um Pet Shop por ter falado mal da loja nas redes sociais. Você pode falar o que quiser na privacidade da sua casa e das suas relações, mas a internet é uma via pública e todos nós agindo nela somos comunicadores com poder de influência. Por isso, responsáveis pelas consequências dos nossos ataques.

O twitter do chefe da moça continua ativo, mas vazio. Ele apagou todas as mensagens. Provavelmente não compartilha da busca da fama, mesmo que seja por vergonha alheia.

sábado, 7 de fevereiro de 2015

FOCO NA BRAVUS

Uma das coisas mais gostosas da vida é estabelecer um objetivo e conquista-lo. Colocar uma meta, traçar um plano e ser bem sucedido na execução. Às vezes sinto que falta um pouco disso na minha vida. Falta um pouco da cenourinha para correr atrás. Do conforto para a conformidade é só um punhadinho de letras. Quando a gente se dá conta, a vida já está no piloto automático. Então gosto de criar alguns obstáculos. Estipular pequenos sonhos.
Depois da grande conquista de 2014 – que eu fui atrás, consegui e vai mudar minha vida completamente em 2015 – resolvi correr atrás de uma conquista antes de ir embora. Rolou um convite entre os mergulhadores no Facebook, e depois de algumas postagens tínhamos 4 equipes e lá estava eu inscrita para a Bravus Race em Abril.
A Bravus Race é uma corrida com obstáculos. São 5K (nem tão assustador) com inúmeros obstáculos como paredões para escalar, escadas sobre pântanos para passar pendurada, tanques de gelo para mergulhar, campos com arame farpado para rastejar e toras de madeira para carregar (isso sim, bem assustador). A primeira coisa que pensei foi: “será que dá para pular algum obstáculo?”. Acontece que dá. Mas acontece também que para pular cada obstáculo é preciso pagar 20 flexões.
Porque alguém como eu, que anda sedentária, preguiçosa e sem disciplina, resolveria fazer uma prova dessas? Exatamente por estar sedentária, preguiçosa e sem disciplina. A ideia de que eu não estou preparada para essa corrida e que eu posso treinar e chegar lá e fazer, é algo que me atrai muito. Nada como um  desafio para a gente se sentir viva.
Por isso, resolvi abraçar a brincadeira para valer!
O primeiro passo foi contratar uma personal. Coloquei um post no FB e vários amigos me indicaram uma dezena de profissionais bem legais. Passei uma semana encontrando e entrevistando, e acabei fechando com a Lu Proietti. Sabe quando o santo bate com a pessoa? A Lu faz corrida de aventura e entende como um bom treinamento é essencial, não apenas para conquistar o objetivo final, mas para prevenir lesões. Então essa semana começamos uma rotina puxada de treinamento para fortalecer os grupos de músculos que mais serão exigidos na Bravus, e me preparar para passar por cada um dos obstáculos. Além disso, reforcei a corrida e a Lu vai me passar um treino de natação para os dias que a gente não se encontra. O objetivo é secar, ganhar força e fôlego em menos de 3 meses. A Lu disse que dá tempo. Eu acredito nela.
Paralelamente, fiz uma revolução na alimentação. Não existe resultado completo sem um cuidado global de treino e alimentação. Todo mundo sabe disso. Então aumentei o consumo de proteínas, para ganhar músculos, cortei glutén, gorduras saturadas e alimentos de alto índice glicêmico. Cabs à noite também foram banidos e uma dose de suplementos entraram na dieta. Whey, colágeno, e um monte de alimentos funcionais que prometem turbinar os resultados. Minha geladeira está cheia de chia, amaranto, linhaça, óleo de coco, tapioca, banana, brócolis, cogumelos e leite de amêndoas. Tudo para meu corpo ser estimulado para alcançar seu maior potencial.
Essa primeira semana foi estranha. Tenho a sensação que como muito. Os alimentos me dão tanta saciedade, que contrasta com a ideia de dieta que sempre tive na vida. Aquela sensação constante de passar forme. Então isso é um tanto estranho. Depois de uma semana de treino também eu estou podendo vivenciar um corpo encharcado em ácido lático. Sinto dor em praticamente todos os músculos do meu corpo. Dói para andar, para abaixar, para levantar os braços, para me virar, para tirar um casaco. No fundo, adoro essa dor. Sinal de que os músculos enferrujados foram colocados para trabalhar.

Dizem que as primeiras semanas são as mais difíceis, porque o corpo precisa se habituar. Que assim seja. Até agora estou feliz pra caramba de ter uma cenourinha para correr atrás, e bem confiante de que eu vou conseguir. Vou chegar na Bravus em Abril e arrasar naqueles obstáculos!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

TEMPO, TEMPO, MANO VELHO

Essa semana eu vivenciei a completa falta de tempo. Sabe quando você planeja, se organiza, faz de tudo para organizar a demanda de coisa a fazer, e no final só cumpre um terço? Então. É um tanto frustrante. E fico pensando se isso é falta de disciplina, ou se a carga está pesada demais.

Sempre fui o tipo de pessoa que abraça o mundo. Sobrou uma horinha entre a reunião e o almoço? Porque não colocar um curso nesse espaço? Ou um trabalho voluntário? Ou algum evento social? Tantas pessoas que eu gosto e eu não vejo há milênios. Aquele livro, que é um dos 4 que estou lendo e preciso terminar. A arrumação do homeoffice que já está fazendo aniversário de 6 meses. O filme que vai concorrer ao Oscar e todo mundo já viu. A consulta de rotina ao dentista. Aquela amiga que prometi um café no ano passado. A sessão de Skype com quem mora longe. Limpar a caixa de e-mails. Fazer a receita daquele livro de cupcakes. Melhor! Levar todas as forminhas e confeitos de cupcakes – que eu comprei e nunca usei – para a casa da MH, para ela fazer com as meninas. Começar a encaixotar as coisa que eu não uso no dia a dia. Logar os últimos mergulhos. Terminar o vídeo da Ilha Grande. Arrumar um namorado. Um namorado não. Um mocinho para curtir o tempo passar enquanto estou por aqui. Terminar aquele capítulo do meu livro. Providenciar a papelada de viagem das gatas. Arrumar a estante de livros – em ordem alfabética. Separar os documentos de 2014 e colocar no arquivo morto. Adiantar a papelada do IR. Escrever no blog. Montar o projeto do meu novo site. Prospectar aquele cliente. Mas não, agora não. É um tempinho livre. Cliente é trabalho, eu faço depois. Separar fotos para ampliar. Fazer backup do computador. Limpar a caixa de entrada dos e-mails.


Detesto essa sensação de que o tempo é escasso. De que não dou conta da vida. De que está tudo um caos, e eu estou boiando no meio, sobrevivendo a cada dia. De que não tenho tempo nem mesmo de meditar. Então, acaba o dia, e faz 3 meses que nem ao centro budista eu vou. Detesto a sensação de que precisam de duas de mim para fazer uma. E o maior medo que eu tenho na vida, é terminar inacabada, procrastinada, como se tudo se acabasse no futuro do que sou capaz de fazer.